O jornal "Folha de S.Paulo" publicou uma matéria sobre a ficha militar do hoje deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), dizendo, segundo essa ficha, que na época, ele era agressivo e tinha 'excessiva ambição'.

Durante uma tentativa de entrevista por telefone, sobre a reportagem, o deputado disse ao repórter do jornal: "Vá catar coquinho, Folha de S.Paulo. Vocês estão recebendo de quem para fazer matéria? Vocês estão recebendo de quem para me perseguir?". O parlamentar continuou: "Publica essa porra de novo agora sem falar comigo. Eu só falo com vocês gravando". "Continue escrevendo essas porcarias aí na Folha."

O deputado alegou ainda que o jornal cria "fake news" contra ele e sua candidatura à Presidência em 2018.

Reportagem
Na matéria publicada pelo jornal nesta semana, é revelado um documento sigiloso do Exército, datado de 1987, que mostra que oficiais superiores de Bolsonaro o avaliaram como dono de uma "excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente". Esse documento faz parte de um processo em que Bolsonaro foi submetido no Conselho de Justificação.

No mesmo processo, o hoje deputado reconheceu o ato de indisciplina e deslealdade por ter divulgado um texto, sem autorização de seus superiores, com pedido de aumento salarial. Bolsonaro foi condenado, mas depois de um recurso, foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM).

De acordo com uma "ficha de informações" de 1983, produzida pela Diretoria de Cadastro e Avaliação do ministério, o então tenente Bolsonaro, de 28 anos, "deu mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento de 'garimpo de ouro'. "Necessita ser colocado em funções que exijam esforço e dedicação, a fim de reorientar sua carreira. Deu demonstrações de excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente".

Durante o interrogatório, Bolsonaro confirmou ter feito garimpo "na cidade de Saúde, próximo de Jacobina [BA]", em suas férias, junto com mais três tenentes e dois sargentos paraquedistas, dois dos quais "estavam sob seu comando". Ele também falou que não teve lucro com a atividade e ainda disse que era "hobby ou higiene mental".

O coronel Carlos Alfredo Pellegrino, superior do tenente Bolsonaro, contou ao conselho que tentou demovê-lo da ideia do garimpo, mas conheceu "pela primeira vez sua grande aspiração em poder desfrutar das comodidades que uma fortuna pudesse proporcionar".

Quando retornou, Bolsonaro procurou o oficial e se "retratou", mas teria "confirmado sua ambição de buscar por outros meios a oportunidade de realizar sua aspiração de ser um homem rico".

Ao fim do processo, o Conselho de Justificação concordou com a avaliação da ficha de informações. "A imaturidade é de um profissional que deveria estar dedicado ao seu aprimoramento militar, através do adestramento, leitura e estudos, e não aventurar-se em conseguir riquezas."

Ainda segundo o coronel Pellegrino, Bolsonaro "tinha permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos".