A médica brasileira que anunciou sua morte assistida na Suíça desistiu da ideia para doar seu corpo aos estudos sobre a síndrome Asia, doença com a qual convive há oito anos. Quem receberá o corpo de Letícia Franco, de 36 anos, após sua morte, será o israelense Yehuda Shoenfeld, especialista na doença. Segundo reportagem do portal O Livre, a médica espera que os estudos ajudem a salvar pessoas com o mesmo mal.

O caso de médica ficou conhecido após ela anunciar em suas redes sociais que iria para a Suiça para o procedimento assistido. “A ideia da eutanásia surgiu pelo medo, pela dor constante e por ninguém acreditar em mim. Eu conversei com meus familiares e, no primeiro instante, eles aceitaram: ‘não vamos deixar nossa filha sofrer como está sofrendo”, contou Letícia a O Livre.

Letícia descobriu a doença em 2010 e, desde então, já foi internada 34 vezes e tomou mais de 20 tipos de remédios para dor. Ela conta que um dos motivos da desistência se deu porque sua mãe não quis levá-la. “Mas até eu entendi. Como vou pedir pra minha mãe: ‘mãe, me leva pra morrer?’”, disse.

Mudança brusca

O especialista Yehuda Shoenfeld liga a síndrome Asia a próteses de silicone e algumas substâncias presentes em vacinas. De acordo com ele, quando em contato com as células humanas, essas substâncias podem causar uma reação anormal do sistema imunológico. Assim, as células de defesa passariam a agir contra o próprio corpo.

Sem saber da pré-disposição à síndrome, Letícia colocou silicone nos seios aos 17 anos. Ela conta que sua vida mudou drasticamente em 2009, quando ela tinha 28 anos. Ela, que era corredora em provas de rua, foi parar na UTI. “Estava noiva e faltavam apenas três meses para me casar. Acabou o casamento, acabou tudo, porque eu estava na UTI. Quebrei a perna, fiquei toda quebrada, toda inchada, ninguém sabia o que eu tinha. Parecia um monstro de tão feia que a gente fica, entubada, no ventilador”, lembrou.

Após isso, a médica já ficou em coma, sofreu de insuficiência respiratória e usou traqueostomia.

Síndrome Asia

Mesmo acometida por muitas dores, Letícia decidiu estudar a síndrome de Asia. Ela procurou ajuda na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Paulista (Unip) e em Israel, mas, até hoje, não encontrou a cura. Segundo a reportagem, a doença afeta todos os músculos do corpo. O caso de Letícia seria único no mundo por reunir quatro doenças autoimunes: dermatomiosite, esclerodermia, lúpus e esclerose múltipla.

Além do aparelho respiratório e da bexiga, a doença já afetou o coração, o pulmão e um rim de Letícia, que já parou de andar por várias vezes. Hoje ela depende de cadeiras de rodas e usa próteses e pinos nas pernas.

A médica conta na reportagem que a última vez que procurou o especialista Yehuda Shoenfeld, foi informada que teria apenas mais um ano de vida. Decidida a não se submeter mais à morte assistida, Letícia acredita que doar seu corpo pode ser uma missão de vida: “Tudo que eu fiz na minha vida foi doação para o próximo e eu acho que não há nada mais bonito que eu me doar, então, para que todo mundo tenha vida”.