A empresa SmartMatic, responsável pelo processo de votação da Assembleia Constituinte na Venezuela, afirmou que os números foram “manipulados”. “Com base em nosso robusto método, sem sombra de dúvida, o (número de) participação na eleição da Assembleia Nacional Constituinte foi manipulado”, disse a companhia durante uma coletiva de imprensa em Londres, na presença de seu CEO, Antonio Mugica.

Autoridades eleitorais venezuelanas estimaram em 8,1 milhões o número de votantes, cerca de 41,43% da população. A oposição fala em 12%.
O sistema automatizado empregado na Venezuela “é desenhado para que, em caso de manipulação, sua detecção seja imediata e muito fácil de identificar”, indicou a empresa em um comunicado.

“Uma auditoria permitiria conhecer a cifra exata de participação. Estimamos que a diferença entre a quantidade anunciada e a que aponta o sistema é de pelo menos um milhão de eleitores”, acrescentou a SmartMatic, que fornece tecnologia para as votações no país desde 2004.

De acordo com dados internos do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), cerca de 3,7 milhões de pessoas tinham votado até as 17h30 do domingo, lançando dúvida sobre o número divulgado pelas autoridades anteriormente. Os documentos, que contabilizam os dados das 14.515 seções de votação mostram que 3.720.465 pessoas haviam votado até o fim da tarde de domingo.

O baixo comparecimento pesaria muito contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, especialmente depois de a oposição realizar sua própria votação extraoficial em julho e afirmar que mais de 7,5 milhões de pessoas votaram contra a Constituinte convocada pelo governo.

Especialistas eleitorais questionaram o processo de votação, que dizem ter sido repleto de irregularidades, e muitos - incluindo um membro do CNE - duvidaram dos números. “Pela primeira vez desde que assumi este compromisso com o país, não posso garantir a consistência ou a veracidade dos resultados oferecidos”, disse Luis Rondon, um dos cinco diretores do CNE, em um comunicado nas redes sociais.

Posse
A Constituinte tomará posse hoje no Parlamento, de maioria opositora, informou a ex-chanceler Delcy Rodríguez, que foi eleita membro da Assembleia. “Chegaremos amanhã com os retratos do Libertador Simón Bolívar e do comandante Chávez ao Palácio Legislativo, de onde nunca mais sairão”, disse, em um comício em Caracas nesta quarta-feira (2), depois de receber sua credencial como integrante do legislativo que reformará a Constituição do país.

Mais cedo, a oposição venezuelana decidiu adiar, também para amanhã (3), a passeata contra a instalação da Assembleia Constituinte, inicialmente prevista para ocorrer hoje. “Atenção: a passeata contra a fraude constituinte será nesta quinta-feira, dia no qual a ditadura pretende ‘instalar’ a fraude”, publicou o líder oposicionista Freddy Guevara em sua conta no Twitter.

A mobilização denuncia a “ilegitimidade” da Assembleia Constituinte, não reconhecida por vários países, incluindo os EUA, e condena a detenção dos opositores Leopoldo López e do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, acusados de planejar uma fuga e convocar o boicote à votação. Os dois estão na prisão militar de Ramo Verde, nas proximidades da capital.

Em quatro meses de protestos, que já deixaram mais de 100 mortos, os manifestantes não conseguiram se aproximar do centro de Caracas, onde se concentram os poderes públicos e área que é considerada um reduto chavista.