Policiais da delegacia antissequestro de São Paulo usaram a informação de parte de uma placa de carro para conseguir chegar ao cativeiro onde Aparecida Schunk, 67, sogra do chefe da F-1, Bernie Ecclestone, era mantida refém por sequestradores desde dia 22 de julho.

Os sequestradores tocaram a campainha da casa se passando por entregadores de móveis. Como a família aguardava uma entrega, a própria Aparecida abriu a porta de casa, quando foi rendida.

Eles fugiram em dois carros: o Fiesta da sequestrada e um segundo carro, que acabou sendo decisivo para a localização dos criminosos. Segundo um integrante da investigação, apenas com base nos números finais da placa do carro, a polícia passou a fazer uma busca por exclusão. Checaram o cadastro de veículos e imagens de câmeras de rua até identificar a possível rota naquele dia -a cidade de Cotia (Grande SP).

Enquanto isso, os bandidos mantinham contato com a família apenas por e-mail. A primeira mensagem teria sido um texto longo e bem escrito, mas, com o passar dos dias, os criminosos passaram a mandar textos curtos e até com xingamentos à polícia.

A polícia descobriu o local do cativeiro no final da semana passada, quando passou a monitorar o local, até a ação por volta das 18h30 deste domingo (31). Aparecida foi encontrada em bom estado de saúde -ela não estava amarrada.

"Peço para os bandidos não sequestrarem ninguém em São Paulo porque eles serão presos", disse ela, em rápida declaração ao chegar à Polícia Civil, em São Paulo. Durante todo o período do sequestro, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) recebia relatórios diários com informações sobre o andamento das investigações.

Os criminosos pediam resgate de R$ 120 milhões, que precisariam ser entregues em quatro pacotes de dinheiro vivo -o primeiro pedido teria sido acima desse valor. O resgate não foi pago, segundo disse à reportagem um integrante da cúpula da polícia paulista.

Policiais da DAS (Divisão Antissequestro) da Polícia Civil prenderam dois suspeitos de participação no sequestro. Aparecida Schunck deixou a sede do DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa) por volta da 0h30 desta segunda-feira (1º) no carro da família, junto com a filha, Fabiana Flosi, esposa de Bernie, sem falar com a imprensa. O carro foi escoltado por dois veículos com policiais. Os dois presos Victor Oliveira Amorim, 19, procurado por furto, e David Vicente de Azevedo, 23, foram levados ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo delito durante a madrugada e depois conduzidos à carceragem do 2º DP (Bom Retiro).

Mãe da brasileira Fabiana Flosi, 38, casada com Ecclestone, 85, Aparecida foi sequestrada na noite de 22 de julho, em Interlagos, na zona sul. Fabiana e Ecclestone moram em Londres. Os dois se conheceram em 2009, quando ela trabalhava na organização do GP do Brasil.

Um ano depois, Eccleston se separou de maneira ruidosa da ex-mulher, a ex-modelo croata Slavica Radic, com quem viveu por 25 anos. Ele teve que pagar R$ 1,7 bilhão a ela. Pouco depois da separação, Fabiana deixou o Brasil e, em 2012, casou-se com Ecclestone em uma cerimônia em Gstaad, na Suíça.

Em entrevista na noite deste domingo (31), a delegada Elisabete Sato, chefe do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de SP, criticou a demora da família de Aparecida Schunk de comunicar o sequestro dela. A policial também atacou a divulgação do sequestro por alguns veículos da imprensa antes de sua conclusão -esse não foi o caso da Folha de S.Paulo.

A Folha acompanhou o desenrolar desse sequestro desde o início, mas nada divulgou em respeito às normas do "Manual da Redação". O jornal pode decidir omitir uma informação se ela colocar em risco a segurança pública, uma pessoa ou uma empresa. A divulgação é feita somente com a autorização dos familiares das vítimas ou após a conclusão do caso.

SEQUESTROS EM SÃO PAULO
Nos últimos anos, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, o número de casos de sequestro tem caído. De 2012, quando houve 43 crimes desse tipo, até 2015, quando a pasta registrou 33 sequestros, a redução foi de 23%. No primeiro semestre deste ano, foram 14 casos até o fim de junho -ante 17 sequestros registrados no primeiro semestre de 2015.