Delegada Marcela Rodrigues explica que ainda não há investigação, mas que é uma “coincidência grande” que 32 pessoas ligadas à empresa estejam envolvidas em esquema que gerou rombo de R$ 6 milhões na Previdência.

A Polícia Federal, por meio da Delegacia de Combate a Crimes Previdenciários (Deleprev), divulgou hoje a Operação Segundo Princípio, que deflagrou um esquema de fraude previdenciária envolvendo 32 pessoas com vínculo com a Metrobus, estatal responsável pela gestão do Eixo Anhanguera, que gerou um rombo de R$ 6 milhões à Previdência Social em 15 anos. De acordo com a delegada Marcela Rodrigues de Siqueira Vicente, não é possível dizer ainda que há envolvimento da direção ou de funcionários de alto escalão da Metrobus no esquema, mas que poderá haver investigação nesse sentido. “É uma coincidência muito grande 32 nomes dentro da Metrobus com o mesmo tipo de fraude”, disse.

Conforme delegada, as investigações apontam para um fator facilitador dentro da empresa. A operação mostrou 32 pessoas com 72 benefícios irregulares, entre aposentadoria por incapacidade e auxílio doença. Destes, 17 aposentadorias que se forem canceladas hoje, equivalem a uma estimativa de R$ 8 milhões mensal que o INSS deixa de perder – uma vez que se calcula a estimativa de vida da pessoa. Foi determinada que haja uma perícia revisional nos próximos seis meses para confirmar a não necessidade dos auxílios e a suspensão dos mesmos.

As investigações tiveram início por meio de uma denúncia na ouvidoria da Previdência Social, de funcionários que declararam incapacidades incompatíveis com a atividade que continuavam exercendo fora da Metrobus. Dentre as pessoas envolvidas, a delegada destacou duas advogadas da empresa que recebiam auxílio e ao mesmo tempo trabalhavam, e até participavam de concursos públicos do Estado. Outro caso é de um motorista que recebe há 8 anos um benefício por incapacidade e ao mesmo tempo trabalhava como taxista, ou o dono de uma transportadora que tem renda mensal de R$ 20 mil e recebe do INSS R$ 4,5 mil.

Segundo a delegada, o funcionamento do esquema ainda está sobre investigação. Marcela Rodrigues explicou que os envolvidos ainda não foram presos pelo fato de que a intenção da PF é descobrir o esquema, e não apenas pegar os beneficiários. “Eles serão processados criminalmente”, pontuou.

Na deflagração da operação, a PF cumpriu 17 mandatos de busca e apreensão e 28 de condução coercitiva. Os envolvidos irão responder por estelionato, falsificação de documento público, particular e falsidade ideológica.

A Metrobus informou por nota ainda não recebeu notificação oficial da Polícia Federal em relação à operação e que, portanto, precisa primeiramente apurar o ocorrido.

Previdência Social admite falta de funcionários 

Assessor da previdência, ao falar de esquema de fraude de R$ 6 milhões investigado pela Polícia Federal em Goiás, afirma que há falta de servidores e grande demanda

O assessor da Previdência Social em Brasília, Marcelo Ávila, disse ao O POPULAR que vez ou outra permanecem benefícios que não passam por revisão pericial. O esquema de pessoas vinculadas à Metrobus apontado pela Polícia Federal durou 15 anos. De acordo com ele, a previdência tem o controle administrativo, mas o volume de trabalho prejudica. No Brasil, são 5 milhões de atendimentos mensais e 37 mil servidores. “Falta gente e a demanda é grande”, disse.

Marcelo Ávila admite que há um déficit de servidores no âmbitos do INSS. De acordo com ele, agora deveriam passar por revisão pericial de dois em dois anos os auxílios doenças, ou quando o médico determina que a pessoa deve voltar para avaliação da previdência. “A partir desse semestre a previdência vai convocar todos os beneficiários de auxilio doença e aposentadoria que gozam do beneficio há mais dois anos pra fazer a perícia”, garantiu.