O papa Francisco falou nesta segunda-feira (13) sobre a "estranha e paradoxal" existência de obstáculos tanto econômicos quanto políticos nas ajudas para lutar contra a fome, enquanto as armas circulam livremente.

Esta foi a dura crítica que o pontífice lançou em sua primeira visita à sede do Programa Mundial de Alimentos (PMA), em Roma, o organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) que se encarrega de distribuir alimentemos.

 

* EN: Humanity plays out its future by its ability to respond to the hunger and thirst of its brothers and sisters. We can measure the pulse of our humanity in our ability to come to the aid of the hungry and thirsty. For this reason, I hope that united together we will continue to rise to the challenge of the fight to eradicate the hunger and thirst of our brothers and sisters. May this challenge not cause us "to fall asleep" but instead help us to dream, calling us to seek creative solutions of change and transformation. * PT: A humanidade joga o seu futuro na capacidade que tem de assumir a fome e a sede dos seus irmãos. Nesta capacidade de socorrer o faminto e o sedento, podemos medir o pulso da nossa humanidade. Por isso desejo que a luta para erradicar a fome e a sede dos nossos irmãos, e juntamente com os nossos irmãos, continue a interpelar-nos. Que não nos deixe dormir e nos faça sonhar (as duas coisas juntas); que nos interpele para se buscar criativamente soluções de mudança e transformação. * FR: L’avenir de l’humanité est en jeu dans sa capacité à soulager la faim et la soif de ses frères. Dans cette capacité de secourir celui qui a faim et celui qui a soif, nous pouvons prendre le pouls de notre humanité. Voilà pourquoi, je souhaite que la lutte pour éradiquer la faim et la soif de nos frères et avec nos frères continue de nous interpeller. Que cela ne nous fasse pas dormir et nous fasse rêver. Tous les deux à la fois. Afin de chercher avec créativité des solutions de changement et de transformation. * ITA: L’umanità gioca il proprio futuro nella capacità di farsi carico della fame e della sete dei suoi fratelli. In questa capacità di soccorrere l’affamato e l’assetato possiamo misurare il polso della nostra umanità. Per questo, auspico che la lotta per sradicare la fame e la sete dei nostri fratelli, insieme con i nostri fratelli, continui ad interpellarci. Che non ci faccia dormire e che ci faccia sognare. Entrambe le cose. Che ci interpelli al fine di cercare creativamente soluzioni di cambiamento e di trasformazione. #ZeroHunger

Um vídeo publicado por Pope Francis (@franciscus) em

Francisco chegou às 9h05 (horário local, 4h05 em Brasília) à sede da PMA, visitou as instalações e cumprimentou os funcionários e suas famílias, acompanhado pela diretora-executiva da agência, Ertharin Cousin; a embaixadora na Guatemala e presidente do Conselho Administrativo do PMA, Stéphanie Hochstetter Skinner-Klée; e pelo observador permanente da Santa Sede junto ao organismo da ONU, dom Fernando Chica Arellano.

Em seu discurso aos representantes dos Estados que formam a Junta Executiva do PMA, Francisco ressaltou o "estranho e paradoxal fenômeno" que "enquanto as ajudas e os planos de desenvolvimento se veem obstaculizados por intrincadas e incompreensíveis decisões políticas, por tendenciosas visões ideológicas ou por insuperáveis barreiras alfandegárias, as armas não".

"Não importa a sua origem, circulam com uma liberdade soberba e quase absoluta em muitas partes do mundo. E assim nutrem-se as guerras, não as pessoas.

Em alguns casos, usa-se a própria fome como arma de guerra", destacou ele.

De acordo com Francisco, as populações mais frágeis sofrem tanto com os conflitos bélicos quanto com a falta de ajuda. Por conta disso, ele pediu o fim da burocratização de tudo o que impeça que os planos de ajuda humanitária cumpram seus objetivos.

Em outra parte do discurso, o papa disse "o excesso de informação de que dispomos gera gradualmente a habituação à miséria, e isso faz com que aos poucos nos tornemos imunes às tragédias dos outros, passando a considerá-la natural".

"Que fique claro que a falta de comida não é uma coisa natural, não é um dado óbvio ou evidente. O fato de hoje, em pleno século XXI, muitas pessoas sofrerem deste flagelo deve-se a uma egoísta e má distribuição dos recursos, a uma 'mercantilização' dos alimentos", enfatizou.

Ele lamentou que o acesso aos alimentos se "transformou em privilégio de poucos" e que o consumismo fez com que nos acostumássemos "ao supérfluo e ao desperdício diário de comida".

"É bom recordar que o alimento desperdiçado é como se fosse roubado à mesa do pobre, de quem tem fome", disse ele.

Francisco disse que o PMA "tem um papel fundamental" para eliminar os impedimentos burocráticos à luta contra a fome, e lançou uma chamada aos Estados-membros para que aumentem a real vontade de cooperar com esta finalidade e "com o Programa Mundial de Alimentos para que este, não somente possa responder às urgências, mas possa realizar projetos consistentes".

Aos funcionários do PMA ele encorajou a prosseguir neste caminho.

"Não se deixem vencer pelo cansaço, nem permitam que as dificuldades os façam desistir. Acreditem naquilo que vocês fazem e continuem a fazê-lo com entusiasmo, que é o modo como pode germinar com força a semente da generosidade", disse.

Antes de finalizar a visita, Francisco improvisou algumas palavras perante os funcionários reunidos na sede do organismo, aplaudiu o trabalho feito para atenuar a fome e pediu para que o grupo não se esqueça daqueles que perderam a vida nessa função.