"É o amor, e não o tempo, que cura todas as feridas".  A frase da escritora Martha Medeiros talvez precise ser um pouco adaptada ao falar do casal Lucas Silva Boa,18, e Júlia de Aquino Rangel, 14, internados no Hospital Estadual Central (HEC), em Vitória, Espírito Santo (ES).  Os jovens se conheceram no 7º andar do hospital no início de abril e receberam alta, no mesmo dia, em maio.

O jovem mora em Colatina (ES) e em 2016 foi diagnosticado com um tumor no cérebro. No dia 8 de maio foi submetido a uma cirurgia para a retirada de um nódulo e agora faz acompanhamento.

Já a adolescente mora na Serra (ES) e sofre de hipertensão intracraniana idiopática (HII), um transtorno neurológico caracterizado por aumento da pressão intracraniana, que faz inchar a parte do nervo óptico e reduz a visão. No dia 20 do mesmo mês, ela passou por cirurgia para estabilizar o problema. 

Mas o amor só começou a 'ajudar' no tratamento dos dois quando, Alexandre, 18, um outro paciente, prestou-se aos 'serviços' de cupido. "Vi o Alexandre conversando com um rapaz na sala de TV da enfermaria. Ele me chamou muito a atenção, mas fiquei com vergonha de me aproximar. Como tenho baixa visão, perguntei ao Alexandre quem era a menina que estava com ele (risos), mas sabia que era um rapaz. Ele disse que não era uma menina, e me apresentou ao Lucas”, disse Júlia.

A partir de então, de acordo com Júlia, os três só ficaram juntos. “Ficava suspirando pelos cantos, me lembrando dele. Até que ficamos sozinhos e ‘rolou um clima’.” Para a mãe da jovem, Marilene, 35, que autorizou o namoro entre os dois, ao conhecer o Lucas, sua filha passou a ter ânimo e forças para enfrentar o tratamento. “Esse problema mexeu com a autoestima da minha filha. Agora, ela está mais feliz. Se está sendo bom para ela, vou permitir sim”. Apesar da distância que separa o casal, cerca de 100 quilômetros, Lucas afirma não ver impedimento nisso. “Enquanto isso, vamos mantendo contato pelo celular. É difícil, mas vamos conseguir.”

‘O casal mais famoso do sétimo andar’ tinha até torcida. Em entrevista ao G1, a enfermeira e supervisora da unidade de neurocirurgia do Hospital Estadual Central, Patrícia Ferreira contou que entre os pacientes e trabalhadores da unidade a torcida era geral. “Quando o Lucas foi para a UTI, após o procedimento cirúrgico, a Júlia se entristeceu tanto que os pacientes se mobilizaram e pediram para que eu a liberasse para visitá-lo. Conversei com os responsáveis pela unidade e atendemos ao pedido. Nunca vi um coração bater tanto... Assim que a Júlia se aproximou do leito do Lucas, os batimentos dele dispararam. Foi emocionante”, contou Patrícia.

E se Martha Medeiros afirmava sobre a cura de forma exclusiva no amor, o tempo, para os dois, certamente só trará melhoras significativas.