A crise penitenciária no Amazonas desatada pelo massacre durante o Ano-Novo ganhou um capítulo à parte no Facebook. De um lado, Brayan Bremer, 24, um dos 225 fugitivos daquele dia, que viralizou e se tornou notícia ao postar uma selfie ao lado de outros cinco detentos enquanto comiam uma jaca. Virou até personagem de um jogo de celular.

Do outro, o capitão da Polícia Militar Alberto Neto, 34, que mobilizou seus 142 mil seguidores 40 mil deles conquistados nos primeiros dias do ano para capturar os foragidos da foto. 'É uma questão de honra, vou falar a verdade', diz Alberto Neto, em entrevista marcada numa padaria de Manaus. 'Não são de alta periculosidade, são traficantes de pequeno porte, mas eles brincaram com a imagem da polícia.'

No dia 10 de janeiro, denúncia recebida pela sua página no Facebook levou à prisão de um dos fugitivos. No mesmo dia, o capitão da PM postou uma mistura entrevista e interrogatório, com a hashtag #vaicomerjacanacadeia.

No vídeo, que teve 319 mil reproduções até a última terça (17), o preso recapturado, identificado como Gledson de Oliveira, 29, aparece sem camisa e algemado enquanto o capitão da PM pergunta detalhes da fuga.

No domingo, Alberto Neto chegou a oferecer 'ótima recompensa em dinheiro', um jantar para duas pessoas e uma sessão de prática de tiros para quem tivesse informação do 'foragido comedor de jaca'. O anúncio, porém, ficou apenas algumas horas do ar -o Facebook teria apagado o post, explicou o capitão da PM.

FENÔMENO

Comandante de uma companhia comunitária de Manaus, o capitão PM abriu a sua página no Facebook em maio e se tornou um fenômeno midiático, com um discurso duro contra criminosos na capital mais violenta do Norte do país.

Em pouco tempo, atraiu milhares de seguidores que curtem e compartilham fotos de pessoas algemadas, selfies e divulgação de ações sociais da PM e até transmissão de suas operações ao vivo, em que vai acompanhado de dois policiais em serviço que atuam como cinegrafistas.

A exposição de pessoas presas é quase diária. Em um post recente, há uma foto de pelo menos cinco presos amontoados no porta-malas de um viatura com a legenda: 'Quando PM é bom no Tetris', em alusão ao jogo eletrônico de encaixe de peças.

Sobre essa foto, Alberto Neto diz que o propósito é dissuasivo: 'A mensagem é: cometeu o crime, vai pagar. E pra quem quer cometer crime, mostrar que é isso o que bandido sofre.'

A página republica ideias do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e do presidente filipino, Rodrigo Duterte, que vem promovendo o extermínio extrajudicial de suspeitos de narcotráfico, mas Alberto Neto diz ser contra 'bandido bom é bandido morto' e que os posts buscam apenas promover o diálogo.

Adepto da 'tolerância zero', ele diz que a prioridade é reforçar o sistema penitenciário para que os presos possam receber sentenças mais duras. 'Estamos atenuando as penas, fazendo de tudo para o criminoso não cumpra pena, porque não tem mais espaço nos presídios.'

Para manter a página, Alberto Neto, que não descarta uma carreira política, conta com uma equipe de dez pessoas, incluindo policiais, jornalista, programador e editor de vídeo todos voluntários, afirma.

O número de seguidores cresce em momentos de crise. Em um deles, em 29 de setembro, envolveu o desaparecimento de três jovens depois de entrar num camburão da PM, na zona leste de Manaus. Revoltados, familiares fizeram um protesto, fechando vias e ateando fogo em um carro abandonado.

Os corpos nunca foram encontrados, mas o inquérito foi concluído e apontou o envolvimento de dez PMs, dos quais parte continua presa. Os três teriam sido mortos porque um dos jovens, acusado de narcotráfico, estaria organizando ataques a policiais. Os outros dois não tinham passagem pela polícia.

No único post sobre o caso, compartilhado cerca de 2.000 vezes, Alberto Neto se limitou a criticar o protesto: 'Familiares de traficantes desaparecidos tentam invadir a delegacia', escreveu. 'Que país é esse?'

'O meu post não foi se estava certo ou errado os corpos desaparecerem, mas, sim, em relação à manifestação. A população não tinha culpa nenhuma, teve trabalhador que não pode chegar em casa. E eu não podia aceitar e me posicionei contra isso.'

Em entrevista à Folha de S.Paulo na semana passada, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, disse que 'a PM precisa mostrar o lado positivo, o trabalho que ela faz'. 'Desde que ele se mantenha no limite da legalidade, eu não vejo problema.'