Novamente a favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, registrou tiroteios durante a madrugada. Neste sábado, 23, a Polícia Militar (PMERJ) informou que os tiros foram ouvidos por volta das 4h30 da manhã. Não há informações de feridos. De acordo com o Comando Militar do Leste, cinco suspeitos foram presos. Também foram apreendidos fuzis, granadas, carregadores e munições de diversos calibres, além de droga.

Em nota, o Comando Militar do Leste informa que pessoas armados tentaram romper o bloqueio do cerco estabelecido pelas Forças Armadas na comunidade da Rocinha, nas proximidades da Rua General Olímpio Mourão Filho. "Foram presos pela Polícia do Exército os 5 ocupantes de um veículo Renault Symbol e apreendidos um fuzil e quatro carregadores, uma pistola com dois carregadores, 86 munições calibre 7,62mm e 18 calibre 9mm, dois equipamentos de rádio transmissores, documentos e cadernos de anotações, além de drogas e dinheiro em espécie", ressaltou o posicionamento. Ainda segundo o Comando Militar do Leste, os suspeitos e o material apreendido foram entregues à 11ª Delegacia de Polícia, na Favela da Rocinha.

A PMERJ também informou que os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) receberam a informação via rádio sobre a perseguição do 23ºBPM (Leblon) a um táxi com criminosos armados, vindo pelo túnel Zuzu Angel. O tiroteio teve início depois que um taxista foi rendido por bandidos no Jardim Botânico. O refém foi levado para a comunidade do Horto, onde traficantes tomaram posse do veículo e seguiram em direção à Favela da Rocinha. A PM do Rio de Janeiro informou que os bandidos estavam com fuzis e entraram em confronto com os policiais. Por precaução, o túnel Zuzu Angel, que liga as zonas sul e oeste, ficou interditado, nos dois sentidos, por pelo menos uma hora.

"As equipes do Bope se posicionaram na saída do túnel para realizar o cerco. Houve confronto, os criminosos fugiram e os policiais aprenderam 5 fuzis, 7 granadas, 55 carregadores e 2.055 munições de diversos calibres, além de 110 papelotes de erva seca e 1.045 capsulas de pó", ressaltou a nota.

Por volta das 9 horas deste sábado, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha, em ação de vasculhamento, também aprenderam cinco artefatos explosivos na localidade conhecida como "Roupa Suja". A Polícia Militar afirmou acreditar que os criminosos estejam usando a mata fechada para sair da Rocinha e atingir os bairros do Horto e do Jardim Botânico.

Já na favela Dona Marta, em Botafogo, na zona sul carioca, também houve troca de tiros durante a madrugada. Policiais da UPP da comunidade faziam um patrulhamento de rotina e quando passavam por uma região onde estava sendo feito um baile funk foram atacados a tiros. Os policiais revidaram e os criminosos fugiram. Ninguém ficou ferido.

Neste sábado, as Forças Armadas realizam o segundo dia de ocupação na Favela da Rocinha. Há uma semana, facções rivais iniciaram a disputada pelo controle do tráfico de drogas na favela com tiroteios, mantendo a população apreensiva.

Relembre. Depois de quase uma semana de tiroteios no Rio, as Forças Armadas foram chamadas nesta sexta-feira, 22, para cercar a Rocinha - a mais conhecida comunidade da capital -, diante do reconhecimento de que o Estado perdeu o controle na guerra deflagrada pelo crime. Ao todo, 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão mobilizados, além de dezenas de blindados e helicópteros. Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3 mil homens, estão prontos, caso a situação se agrave. 

Entenda o que desencadeou a onda de violência na Rocinha

A atual onda de intensos tiroteios na Rocinha começou no domingo passado, 17, quando o chefe do tráfico de drogas no morro, Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157, se desentendeu com o seu antecessor, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso desde 2011. No domingo, os tiroteios deixaram um morto.

Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério 157 e teria tentado expulsar o seu grupo da favela, por meio de ordens dadas de dentro da prisão. A relação pode ter piorado depois da união da ADA com a facção paulista PCC. Já Rogério teria matado aliados de seu antecessor e mandado expulsar Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, do morro.

Em represália, Nem teria incitado criminosos da ADA de outros morros, como Vila Vintém, Morro dos Macacos e São Carlos a tentar retomar a favela. A tentativa, porém, foi frustrada, e Rogério continua no alto do morro, segundo informações da Polícia. Danúbia, que é foragida e ostenta alto poder aquisitivo nas redes sociais, também estaria no local. Os dois corpos carbonizados encontrados pela polícia seriam do grupo de Rogério.

Na segunda-feira, 18, o porta-voz da Polícia Militar do Rio, major Ivan Blaz, e o delegado-titular da 11ª DP (Rocinha), Antônio Ricardo, admitiram que sabiam que poderia haver confronto entre traficantes na Rocinha no dia anterior.  Blaz afirmou que a Polícia Militar não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores. Já Ricardo acrescentou que não sabia que o confronto, que durou cinco horas, "seria desta proporção".

Na quarta-feira, 20, o governador do Rio afirmou que soube na madrugada do domingo que haveria confronto entre traficantes e pediu que a polícia não interviesse, o que causou polêmica.