"É agora ou nunca", dizia um e-mail da campanha de Donald Trump, antecipando a batalha final entre o republicano e a democrata Hillary Clinton, na quarta (19).
Antes de o terceiro debate entre os dois começar, um aliado brincava que Trump ressuscitaria o "Celebrity Deadmatch", programa da MTV no qual famosos se matavam no ringue.

O banho de sangue não aconteceu, e o confronto teve algo que ninguém mais parecia esperar deste pleito: discussão sobre políticas concretas e menos picuinhas.

Num dos momentos mais tensos, o mediador perguntou se Trump aceitaria o resultado das eleições, como seu candidato a vice, Mike Pence, prometeu fazer. O republicano respondeu que "examinará o caso quando a hora chegar".

Hillary provocou: por não levar um prêmio pelo reality "O Aprendiz", ele "achou que o Emmy também era manipulado". "Deveria ter ganhado", disse o homem que pode perder a eleição, mas não a piada.

A polarização direita versus esquerda voltou à arena, com os candidatos divergindo sobre tópicos como aborto, porte de armas e imigração –Trump disse querer expulsar os "'hombres' malvados", Hillary lembrou que ele já empregou imigrantes ilegais.

Comendo poeira nas pesquisas, acusado de bolinar mulheres e abandonado por republicanos envergonhados de seu candidato, Trump viria com sangue nos olhos, apostavam especialistas.

Mas "mentirosa" foi o insulto mais grave disparado por quem, no debate passado, acusou a adversária de ter "ódio no coração". No início, a democrata parecia desorientada.

O moderador citou um discurso que Hillary deu para o Itaú em 2013, com trechos vazados pelo WikiLeaks. Nele, apoiava o livre comércio.

Trump agradeceu a lembrança. Ele adora recordar como ela defendia acordos comerciais e hoje, ante um eleitorado mal-humorado com a ideia de outros países roubando empregos americanos, trata-os como uma praga.

A ex-secretária de Estado se esquivou acusando o WikiLeaks de receber ajuda de hackers russos, e Trump de ser uma marionete de Vladimir Putin. A simpatia pelo presidente do país que por anos travou a Guerra Fria com os EUA esquentou o debate. "Não conheço Putin. Ele disse coisas gentis sobre mim. Se nos dermos bem, seria bom", rebateu o republicano, que em 2013 sediou seu Miss Universo em Moscou e tuitou: "Será que Putin vai? Caso sim, ele vai virar meu melhor amigo?".

Quando o moderador evocou as nove mulheres que disseram ter sido abusadas por Trump, ele classificou as acusações como "ficção". "Nem pedi desculpas à minha mulher porque não fiz nada."

Hillary lembrou: ele já insinuou que elas sequer estariam à sua altura. "Disse [sobre uma]: 'Ela não seria minha primeira escolha'".

Depois ele revidou, mencionando doações que a Fundação Clinton recebeu de países como Arábia Saudita, "que tratam mal mulheres".

Abuso sexual
Donald Trump, acusou a rival democrata de estar por trás das acusações de abuso sexual feitas por várias mulheres contra o magnata nas últimas semanas.

Questionado sobre o tema, Trump disse que são "histórias falsas e já desacreditadas" e responsabilizou a campanha de Hillary por esta onda de acusações.

"É a única maneira. Essas histórias são totalmente falsas, nem sequer pedi perdão à minha mulher porque não fiz nada, não as conheço, ou querem fama ou foi a campanha (de Hillary) que fez isso", afirmou o republicano.

Em meio a esta alegação, Trump também acusou Hillary e a campanha democrata de incitar à violência em seus comícios, inclusive pagando pessoas para isso.

No turno de resposta, a democrata lembrou a polêmica das denúncias dos abusos sexuais, gerada após a divulgação de um vídeo de 2005 no qual Trump diz que pode fazer o que quer com as mulheres sexualmente por ser famoso.

"Ouvimos o que Donald Trump disse que fez às mulheres e depois as mulheres vieram e disseram a ele", argumentou Hillary Clinton, ao dizer que a onda de denúncias foi provocada pelo vídeo.

A democrata lembrou que o empresário, em comícios posteriores, chegou a dizer que algumas das mulheres que o acusam nem sequer são suficientemente atraentes para que ele tentasse algo com elas.

O empresário negou a acusação e a ex-secretária de Estado continuou a afirmar que "Donald Trump acredita que denegrir as mulheres o faz maior".

"Acho que depende de todos nós mostrar quem somos, que país queremos ser, que nosso país seja unido. Não é apenas uma coisa, é um padrão de divisão, uma visão perigosa. Espero que mais gente perceba o que está em jogo nestas eleições: que país queremos ser", acrescentou Hillary.

Trump se defendeu ao comentar que "ninguém tem mais respeito pelas mulheres" do que ele e tentou desviar o tema ao recordar a polêmica ocasionada pelo uso de um e-mail pessoal por Hillary Clinton para tratar de assuntos relacionados ao cargo de secretária de Estado entre 2009 e 2013.


Resultado das eleições
O candidato republicano disse que decidirá "depois" se aceitará o resultado das eleições do dia 8 de novembro. "Direi depois. Vou manter o suspense", respondeu Trump ao ser questionado em Las Vegas pelo moderador do último debate presidencial, Chris Wallace, se aceitará o resultado da disputa.

O magnata nova-iorquino alertou que há "milhões de pessoas registradas para votar que não deveriam estar registradas para votar", ao alegar que as eleições estão armadas a favor da candidata democrata.

Esta rejeição de Trump se choca com as declarações de seu candidato a vice-presidente, Mike Pence, que garantiu que tanto ele como o companheiro "aceitarão o resultado das eleições e a vontade do povo americano".

A filha do magnata, Ivanka Trump, também afirmou na quarta-feira que o pai "fará o certo" e se mostrou confiante de que reconhecerá a vitória de Hillary caso seja derrotado das urnas.

A candidata democrata criticou que Trump, com suas contínuas insinuações de que as eleições estão armadas, "debilita a democracia" americana. Donald Trump também afirmou que as eleições estão manipuladas pela linha editorial dos veículos de imprensa. 

Economia
Donald Trump, afirmou que, se chegar à Casa Branca, o país criará uma "maquinaria econômica" para crescer a um ritmo anual de 5% a 6%, e disse que essa porcentagem será "menor que zero" com a rival democrata, Hillary Clinton.

"Criaremos uma maquinaria econômica como não vimos em décadas. Podemos crescer de 5% a 6% anualmente. Se Hillary chegar ao poder, o crescimento econômico será menor que zero", disse Trump no terceiro e último debate presidencial, realizado em Las Vegas.

Em resposta, a democrata criticou as propostas econômicas do magnata nova-iorquino ao dizer que o rival quer diminuir os impostos dos mais ricos e ressaltou que o plano econômico democrata não contempla o aumento de impostos para a classe média.

"Aumentaremos os impostos para os mais ricos", disse a ex-secretária de Estado, ao defender que protegerá os programas sociais e a reforma da saúde conhecida como "Obamacare". A melhor forma de recuperar a economia é "reconstruir a classe média", garantiu Hillary Clinton.

Trump criticou que as propostas da rival democrata só prometem continuar com o governo do presidente Barack Obama, que foi responsável pela recuperação econômica mais fraca da história do país, segundo o magnata.

Para o republicano, o problema que aflige a economia americana é o excesso de regulação e a expansão do governo federal, que sufoca a iniciativa privada responsável pela criação de emprego.

Pesquisa
A candidata Hillary Clinton, ganhou o terceiro debate contra seu rival republicano, Donald Trump, com uma margem de 13 pontos (52% contra 39%), a menor entre os três embates, de acordo com uma pesquisa da emissora "CNN".

Depois do primeiro debate realizado no dia 26 de setembro, 62% optaram por Hillary e 27% por Trump (uma diferença de 35 pontos), enquanto no segundo, no dia 9 deste mês, a margem baixou para 23 pontos (57% a 34%) em favor da democrata.

Entre os que assistiam este último debate, 50% responderam que Hillary Clinton pode administrar melhor a economia (48% Trump), enquanto 49% disseram que o magnata nova-iorquino administrará melhor a imigração.

Além disso, 47% opinaram que Trump foi o mais sincero no debate, enquanto 46% disseram que a democrata foi a mais franca. No primeiro debate, Hillary teve uma margem de 13 pontos (53% a 40%) neste campo.

A ORC realizou a pesquisa para a "CNN" após o fim do debate, com 547 entrevistados com uma margem de erro de 4%.