André Magnabosco
Estadao ConteudoOs dois relatórios foram elaborados após o Operador Nacional do Sistema (ONS) elétrico divulgar a primeira previsão oficial de chuvas para o mês de fevereiro. O cenário é negativo. Na região Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento do País, a Energia Natural Afluente (ENA) deve ser equivalente a 52% da média de longo termo (MLT). Confirmada essa projeção, os reservatórios chegariam ao final do mês com apenas 19,7% da capacidade. Distante do patamar de 30% considerado mínimo para o final do período chuvoso, em abril.
"Incorporadas as projeções de fevereiro, nossas previsões para os reservatórios indicam que (...) a hidrologia agora tem que superar 84% da média de março em diante (contra uma previsão de 79% de fevereiro em diante)", aponta o documento assinado pelos analistas Felipe Leal, Luiz Antonio Leite e Diego Moreno. Na sequência, eles destacam que em 19 dos últimos 84 anos, ou em 23% do período analisado, a hidrologia para o bimestre março-abril ficou abaixo desse patamar. A projeção do ONS para março, ressaltam os analistas, também é inferior a esse nível, ficando em 71%.
A análise do BofA leva em consideração a necessidade de os reservatórios encerrarem o chamado período chuvoso com o equivalente a 30% da capacidade. Esse nível seria suficiente para que o sistema elétrico brasileiro pudesse superar o período seco e chegasse a 10% em novembro de 2015, quando tem início o novo período chuvoso.
Os analistas Guilherme Loureiro, Thiago Carlos, Lilyanna Yang, Carlos Herrera e Rafael De La Fuente, do UBS, destacam que o risco de racionamento de energia é, hoje, a principal ameaça ao crescimento econômico brasileiro em 2015. Para evitar riscos, o nível das chuvas no acumulado de 2015 deveria ficar em no mínimo 80% da média histórica.
Em números, o UBS considera que um eventual racionamento equivalente a 10% da carga poderia provocar uma queda de 0,7% a 1,5% na economia brasileira. A restrição energética ainda teria efeitos na inflação, que poderia fechar o ano com alta de mais de 8%, e no aumento da taxa de desemprego, esta podendo chegar a 6,5%.
A visão negativa é explicada pela comparação entre o nível dos reservatórios neste início de 2015 e os patamares do começo do ano passado e de 2001, ano em que o Brasil passou por um racionamento de energia. A situação deste ano é pior do que as duas outras referências analisadas, o que justifica o termo "déjà vu" citado na apresentação do relatório.
"O risco do racionamento de energia está de volta ao radar dos investidores. Com mais um verão seco no Brasil, e o nível dos reservatórios abaixo daqueles registrados durante a crise de 2001 e a demanda ainda elevada, o risco de escassez de energia está crescendo rapidamente e gerando preocupações sobre o potencial impacto econômico", sintetizam os analistas do UBS.
Credit
O Credit Suisse também divulgou um relatório sobre o risco de racionamento de energia no Brasil, mas fundamentou seus comentários em uma conversa tida com o presidente da consultoria PSR, Mario Veiga. No documento, assinado por Vinicius Canheu e Pedro Manfredini, a instituição ressalta que há 58% de risco de ser necessária uma redução na oferta de energia na região Sudeste, na ordem de 4%. O número é atribuído às projeções da PSR.
"A chance de necessidade de um corte de 10% é de 36% e de corte de 15%, de 25%. Finalmente, há 22% de chance de os reservatórios na região Sudeste chegarem a 10% em novembro, o que é considerado o nível operacional mínimo do sistema", cita o documento. Os analistas destacam que, para que o Brasil chegue ao final do período seco com volume de água considerado suficiente, o nível de chuvas nos meses de abril e março deve alcançar aproximadamente 90% da média histórica.
Na eventualidade de haver racionamento de energia, as geradoras devem ser as empresas mais afetadas, pontuam Canheu e Manfredini. As empresas com maior risco são a Copel, a Light, a AES Tietê e a EDP Energias do Brasil. Dentre as ações sob cobertura do Credit, o cenário é menos adverso para Taesa, Equatorial, CPFL e Alupar.
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