A vendedora Priscila Valença, 43 anos, de Bauru (SP), descobriu na última sexta-feira (14), que o filho de 16 anos estava na 14ª tarefa do jogo online Baleia Azul, que está ligado à morte de jovens no Brasil.

De acordo com Priscila, ela havia saído para jantar com uma amiga e o ex-marido ligou avisando que brigou com o filho adolescente do casal e que o jovem teria até ameaçado ele com uma faca. A vendedora ficou preocupada e ao chegar na casa do ex-companheiro ficou sabendo que o motivo da discussão era que o celular de L.F havia quebrado e o menino ficou descontrolado.

Quando encontrou o filho, Priscila disse que ele estava com o rosto sangrando, dos cortes que ele mesmo tinha feito. O filho mais velho da vendedora alertou a mãe que o irmão poderia estar envolvido no jogo Baleia Azul. "Já tinha ouvido falar no assunto, mas não poderia imaginar que o problema era esse", afirmou ela.

Confusa, a vendedora perguntou para L.F se ele estava jogando o rapaz confirmou e ainda contou que estava na 14ª tarefa e que a última seria se matar. "'Ninguém vai sentir minha falta mesmo...'", ele me disse. Meu coração disparou e fiquei sem reação. O que eu podia fazer ou falar naquela hora?", disse Priscila.

Depois de confirmada a história, o adolescente foi tomar banho e a mãe viu o jovem sem roupa e cheio de cicatrizes nas pernas e nos braços, onde um dos cortes mostrava uma baleia e outros formavam palavras.

"Entrei em pânico e decidi conversar com L.F. Implorei para que parasse com o jogo e disse que o amava. Tirei algumas fotos das marcas no seu corpo e postei as imagens no Facebook. Eu queria alertar outros pais e pedir ajuda. Muita gente comentou, se ofereceu para ajudar e me deu orientações de como tratar com ele. Inclusive, se ofereceram para pagar tratamento psiquiátrico para meu filho" desabafou a mãe.

Uma das formas que a vendedora encontrou para ajudar o filho foi ficar com ele o dia todo e conversar explicando que ele é muito querido. No domingo de Páscoa, amigos da família almoçavam com eles e fizeram perguntas sobre o jogo para o rapaz que ficou nervoso e fugiu de casa.

"Foi desesperador! O que ele seria capaz de fazer? Avisei nossos amigos e parentes e liguei para a polícia. Procuramos por L.F até segunda à tarde, quando recebi uma ligação informando que ele estava na delegacia. Todo calmo, como se nada tivesse acontecido, veio para casa comigo sem falar nada, nem onde tinha estado até então. Não conseguia entender o que se passava na cabeça dele.", explicou Priscila.

Ajuda
"Estou passada com isso tudo... A gente vê na internet as mães falando e lê as notícias, mas nunca acha que vai acontecer na casa da gente... Agora penso que essa situação toda foi um alerta. Foi um jeito do meu filho pedir ajuda", diz a vendedora que separou do pai dos meninos há pouco tempo. Após o divórcio, L.F foi morar com o pai, que viaja a semana toda e ele acaba ficando sozinho. Já Priscila, sai de casa por volta das 7h e volta às 20h.

"Eu costumava dizer que meus filhos têm tudo: roupa, comida, internet, celular. Me sentia orgulhosa por dar de tudo para eles. Mas a verdade é que gente não dá tudo. O que eles precisam é de atenção, é de amor. E a gente ficou em falta com isso", afirmou a mãe.

A vendedora contou ainda que o filho é um garoto calado, com poucos amigos e na escola reclamam do comportamento dele. "Tudo isso já era sinal de que ele precisava de ajuda, sabe?", conclui Priscila.

Internet
"Meu menino me contou que entrou no jogo Baleia Azul via grupo de WhatsApp. O moderador desse grupo foi quem o escolheu e começou a mandar mensagens com os desafios. Acho que essas pessoas escolhem meninos como meu filho: quietos, com poucos amigos...As mensagens vinham pelo Facebook ou pelo WhatsApp, orientando sobre o que fazer" falou a vendedora.

Após tudo isso, Priscila tirou a internet e o celular do filho e ele ainda vai começar um tratamento psicológico e um curso técnico. "Ele vai vir morar comigo e, todos os dias, sairei do trabalho para almoçarmos juntos. Acho que isso tudo fará a diferença. Só de estar mais presente nesses últimos dias vejo mudanças. Na sexta-feira, ele falou que pretendia se matar. Já na segunda, contou que entrou no jogo por curiosidade e que não sabia se ia se matar de verdade. Vejo isso como um sinal de que meu filho queria minha atenção, então é isso que eu vou dar", disse a mãe.

Depressão
"A depressão é uma doença e é preciso buscar ajuda de um especialista que possa orientar e trabalhar com o adolescente", informa a psicóloga Gabriela Malzyner. Para a especialista em suicídio, psicóloga Karen Scavacini, pessoas saudáveis também podem ser atraídos pelo jogo online por curiosidade ou sedução do proibido e pede aos pais que fiquem atentos aos sinais dos filhos, como:

Isolamento
Agressividade
Mudança de comportamento
Não deixar os pais chegarem perto de seu celular ou computador
Usar manga comprida em dias de calor
Queda no rendimento escolar
Mudanças no padrão de sono
Mudanças de apetite
Cortes pelo corpo

Karen também recomenda que os pais conversem mais com os filhos, principalmente sobre esse assunto e acompanhem o que eles estão fazendo na internet.