Você é sucesso na internet, com mais de 4 milhões de fãs no seu canal no YouTube, Eu Fico Loko. Como surgiu o interesse em postar vídeos?

Tenho meu canal desde 2010 e ele bombou há um ano. Sempre falo que internet você está lá brincando e de repente o negócio fica sério sem você perceber. Era um hobby meu. Quando terminei a escola comecei um curso de cinema porque minha paixão sempre foi vídeo. Quando era criança pegava a câmera digital da minha mãe e ficava gravando e fazendo paródia do Jornal Nacional. Fiz muitas coisas e um amigo falou que dava para postar no YouTube e fui colocando e achando divertido, criando canais para cada segmento. Eu tinha 13 anos e meu brinquedo favorito era isso. Dois anos depois, resolvi centralizar tudo em um único canal e criei o Eu Fico Loko.


Como surgiu a ideia do nome do canal?

Surgiu do nada. Queria fazer uma pegada de vlog. Com 15 anos, tinha aquela paixãozinha de escola e tinha acabado de tomar um fora de uma menina e comecei a fazer vídeos falando disso. Minha intenção foi misturar os sentimentos de ficar louco no cotidiano para dentro da internet. Quando fui registrar já existia um domínio com “u” e que nem tinha vídeo postado. Só que eu gostei tanto do nome que coloquei com “k”. Vejo a internet como uma terapia não paga para o jovem.


Porque você resolveu lançar uma obra física depois de virar fenômeno na internet?

Sempre foi uma vontade minha escrever no papel. Tenho guardada em casa uma coleção de livrinhos que fiz com 12 anos. Escrevia 300 páginas em letra de forma de histórias que inventava da minha cabeça e minha mãe falava que quando eu ficasse grande eu lançaria um livro porque escrevia o dia inteiro. Bom, guardei tudo isso e fui para o digital. Quando formei um público voltei para o sonho antigo porque gosto.


A aceitação da editora foi de imediato?

Um amigo, que estava com projeto de produção de livro e tinha o contato do marketing de uma editora, me fez o convite para ir junto com ele para também fazer uma proposta de transportar o canal para uma obra física. O cara tinha marcado com a gente na Bienal do Livro em São Paulo. O meu amigo pediu para postar uma foto no meu Instagram falando que estaria no estande da Editora Novo Conceito na Bienal. Fiz isso e quando fui lá o espaço estava lotado, com pessoas gritando meu nome e o cara do marketing ficou surpreso e me convidou para almoçar com ele e virou o projeto.


O seu primeiro livro vendeu mais de 200 mil cópias e em setembro de 2015 você lançou Eu Fico Loko 2, que também ultrapassou a barreira dos mais de 100 mil. Você esperava esse sucesso?

Não. Quando conversei com o pessoal da editora eles me falaram que livro no Brasil é complicado porque não vende. Eu expliquei que isso não era meu objetivo e que se tratava de algo pessoal. Ele falou que talvez eu não conseguiria trazer o público digital para consumir uma obra física. O cara me falou que se vendesse 20 mil seria best-seller. Na minha cabeça se tratava de um número absurdo. Fiz vídeos falando do livro e usei minha mídia para viralizar. Só na pré-venda vendi sete mil. Nos meus livros, não tive medo de expor nada. Falei de tudo para mostrar para o público que são assuntos normais porque existem bem mais anti-heróis do que heróis.


Agora suas histórias foram transportadas para o teatro. Como surgiu essa oportunidade?

Foi um teste do meu empresário. Eu sempre falei para ele que queria fazer meu livro no palco. Ele fechou um espetáculo em Belo Horizonte e criei o formato em um mês na brincadeira. A recepção foi tão louca que me deu vontade de fazer novamente e surgiu Goiânia e o público é o termômetro para fechar novas datas. Se eles gostam, tenho vontade de fazer outras.


Em 2016, você será o primeiro youtuber brasileiro a ganhar um filme. Como chegou o convite?

Estamos na fase de roteiro e pretendemos rodar o filme em maio. Serão dois meses de gravação e vamos lançar em dezembro. O convite foi algo muito louco. Sempre que conto, todo mundo fala que era para ser. Um produtor de filmes que fez S.O.S Mulheres ao Mar, Chico Xavier, entre outros, estava passeando com sua mulher no shopping e ele queria fazer um filme mais adolescente, sem essa pegada Malhação, quando passou na frente da livraria e viu meu livro entre os mais vendidos. Ele comprou a obra, leu em um dia, e procurou minha assessoria e disse que queria fazer um filme comigo.


Quando o hobby virou profissão você o transformou em uma empresa e contratou assessoria de imprensa, webmaster, advogado, pessoas para editar seus vídeos e empresário. Foi uma necessidade?

A demanda ficou grande. Quando comecei a trabalhar com meu empresário, o Luiz Felipe Barros, minha vida foi salva. Foi meu tio que me apresentou ele. Eu era o cara que saí de casa para morar sozinho e para ter mais tempo para produzir de madrugada. Só que esse negócio de ficar preso trabalhando você acaba ficando alienado quanto à parte comercial. Tive várias propostas enviadas para o meu e-mail que se perderam porque não tinha tempo para ler. Eu era desorganizado com minha agenda. Meu empresário profissionalizou algo que estava esquecido. Fiquei produzindo e ele cuidando da outra parte e deu certo.


O que os jovens da sua geração querem?

Todos eles têm carência de uma pessoa que comunica de igual para igual e que não é um amigo de escola, é um cara que fala para mais pessoas, em quem ele possa se espelhar porque tem moral. Acredito que os jovens estão carentes de um guru mesmo para conversar de tudo.


A profissão youtuber terá vida longa?

Tinha medo disso há um tempo. Só que caiu minha ficha que o streaming não vai acabar porque tem jovem hoje que nem liga a televisão e são números que aumentam todos os anos. Vejo a juventude mais frenética e quanto mais conteúdos fáceis de processar mais aceitação. O blog escrito morreu um pouco e todo mundo está indo para o vídeo porque se trata de uma linguagem rápida. O negócio é sempre se renovar, não parar de produzir conteúdo porque quem morre no digital é quem não inova. Estou bem tranquilo e acho que teremos uma vida muito longa. Tenho mais de 4 milhões de inscritos no YouTube e minha meta é chegar aos 10 milhões. Para um menino que saiu de casa e não esperava nada estou bastante animado pelos resultados que consegui e cheio de gás.