Um dos maiores cartunistas brasileiros, Mauricio de Sousa é o homenageado da edição 2015 do Salão do Livro e vem a Palmas fazer palestra sobre a importância e o desenvolvimento da leitura. Membro da Academia Paulista de Letras, o desenhista, que começou a carreira como repórter policial, é criador da turma dos quadrinhos mais querida de todos os tempos. Após a estreia na área com a tirinha do Bidu, a própria família e amigos o inspiraram a criar os personagens Mônica, Magali, Cascão, Cebolinha e toda a Turma da Mônica.

Comemorando 80 anos este ano, sendo 50 de carreira, o autor mais premiado dos quadrinhos conversou com o Jornal do Tocantins sobre literatura, história em quadrinhos, educação e tudo mais que envolve o fantástico mundo das letras na perspectiva dos personagens que já criou. Confira!

 

Você já foi homenageado na Bienal do Rio deste ano e vem também ao Tocantins receber o reconhecimento no Salão do Livro pelo trabalho que desenvolve. Como você avalia o papel que os quadrinhos desempenham no processo de alfabetização das crianças e incentivo à leitura?

Fico orgulhoso de encontrar a todo o momento pessoas que me dizem que aprenderam a ler com a Turma da Mônica quando criança e que hoje estão comprando a revista para o filho, que também começa a se interessar por leitura com os quadrinhos. Os quadrinhos são hoje o ponto de partida para que alguém ainda se interesse pela leitura. Logo depois as crianças também se interessam por ler livros, enfim, ler. Foi o que aconteceu comigo na infância.

 

Por meio dos quadrinhos você inspirou muitas pessoas a se apaixonarem pela literatura. Qual era o seu desejo quando começou a desenhar? Havia esse objetivo específico?

Não era um objetivo, mas foi um caminho natural. Meus pais sempre valorizaram a literatura, poesia e me incentivaram a ler trazendo revistas de HQ para mim. Aí eu comecei a me interessar por contar histórias e hoje é o que faço. Aquela imagem que todos guardam do pai ou da mãe lendo um livro para seu filho antes dele dormir não deve ser apenas um sugestão. Deve ser ação.

 

Já são 50 anos de história. Como avalia essa trajetória? O que acha que fez diferente para conquistar tanto destaque?

Nosso segredo para manter - e ampliar - nosso público é justamente estarmos sempre ligados ao que as crianças estão pensando no momento, sem perder a atualidade nos temas e costumes. Assim, mantemos um diálogo de igual para igual. Para isso, é vital falar sempre a língua do dia, da hora, pois o mundo está mudando numa velocidade espantosa e não podemos ficar para trás.

 

A sua história como cartunista se entrelaça à trajetória da Turma da Mônica. Como foi o processo de criação dos primeiros personagens?

Praticamente todas as inspirações são de minha infância e de meus filhos. Cascão e Cebolinha foram colegas que moravam perto de casa. Magali, Mônica e Maria Cebola são minhas primeiras filhas. Depois vieram mais sete filhos e agora o mais novo, Marcelinho, que ainda não aprovou seu personagem. Mas estamos conversando. Todos os outros já viraram algum personagem.

 

De onde vem essa nova inspiração? A família, que atualmente trabalha com você, ajuda no processo de criação?

Sem dúvida. Além da Mônica, que é diretora comercial da Mauricio de Sousa Produções, tem a Marina, que me ajuda na análise dos roteiros das historinhas e também já está criando algumas histórias e capas, o Mauro, que comanda a Mauricio de Sousa ao Vivo para produções e espetáculos, a Vanda e Valéria, que trabalham na área de projetos especiais, e o Mauricio Spada, que trabalha na área de produção interna de vídeos e fotos; e, claro, uma equipe de ponta para realizar tudo isso.

 

Assim como você, que completa 80 anos este ano, a Turma da Mônica também foi ganhando maturidade ao longo dos anos. Além da aparência dos personagens, o que mudou nas histórias neste período?

Hoje as crianças têm várias possibilidades de diversão com os games, a Internet e até os celulares. Por isso é necessário estarmos sempre criando novas possibilidades de comunicação. Também percebi que meus leitores, quando chegavam à adolescência, migravam para os mangás (quadrinho japonês). Assim, juntei uma antiga ideia nossa de mostrar o que acontecia com a turminha na adolescência e utilizei o estilo mangá mesclado com o nosso para conseguir um novo visual. Assim a Turma da Mônica Jovem deu certo. É o maior sucesso editorial de quadrinhos nos últimos 30 anos.

 

Na sua opinião, no geral a essência das crianças de hoje continua a mesma da década de 1960?

A criança é e sempre será a mesma em qualquer época. O que muda são as novas formas de comunicação e avanços tecnológicos, que influenciam nos relacionamentos, mas os sentimentos são imutáveis.

 

Você está sempre inovando, criando novos produtos. Hoje há quadrinhos para crianças, para o público jovem e adulto. É uma forma de acompanhar o crescimento dos fãs que, desde pequenos, curtem a Turma da Mônica?

Assim como a Turma Jovem também criamos uma linha de graphic novels para jovens e adultos. Nosso editor, Sidney Gusman, trabalha em busca de artistas brasileiros da maior qualidade para adaptar nossa turminha para seu próprio estilo e história. O sucesso está sendo tão grande que as editoras estão repensando esse nicho que andava meio que abandonado. Sabemos que criamos leitores desde os cinco anos de idade e que precisam de novos produtos para manter esse hábito de leitura.

 

E os últimos lançamentos, como a Magali ensinando as crianças a serem comilonas saudáveis, Cebolinha estrelando o Pequeno Príncipe, além de outros clássicos, como a Bela e a Fera e Cachinhos Dourados. A produção não para? Aposentadoria é uma palavra que não existe no seu vocabulário?

Só nessa Bienal do Rio de Janeiro lançamos 42 títulos por 11 editoras. Tenho uma bela equipe de editores e muitas ideias para realizar. Eu me sinto uma criança que dizem ter 80 anos.

 

Você já fez histórias em quadrinhos, desenho animado, criou um parque temático, ganhou as redes. Qual o próximo passo?

Nós trabalhamos com conteúdo. O próximo passo é ter mais ideias e trabalhar para realizá-las. Não há aposentadoria nos sonhos.

 

Sua própria história ganhou os quadrinhos. O que mais te orgulha em todos esses anos?

A responsabilidade aumenta e isso é mais estimulante ainda. Meu orgulho é ter conseguido manter leitores nesses 55 anos de trabalho que não nos abandonam.

Serviço

O quê: Palestra A importância e desenvolvimento da leitura - Mauricio de Sousa

Quando: hoje, às18 horas

Onde: Auditório Tião Pinheiro (Centro de Convenções Parque do Povo), em Palmas

Obs: Em seguida, haverá sessão de autógrafos com os personagens da Turma da Mônica

Entrada gratuita (o acesso às palestras é por ordem de chegada)