Do lado paulista, uma estrada cruza colinas da área rural do interior do Estado. Do outro, a famosa Cunha-Paraty, caminho cenográfico do período colonial, traz quem vem do Rio de Janeiro. No meio do trajeto, um destino serrano, a 230 km de São Paulo, que cabe bem num fim de semana e fez da cerâmica, dos campos de lavanda e do turismo de aventura seus principais atrativos.

Reinaugurada no ano passado, a Cunha-Paraty leva motoristas aos tempos em que o ouro mineiro seguia até o litoral fluminense, no século 17. A antiga Estrada-Parque é uma via com menos de 10 km de extensão, com pavimentação de paralelepípedos sobre o Caminho Velho da Estrada Real, no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Para se aventurar por ela, é preciso ter em mente que se trata de uma via de contemplação, e não velocidade. O bate-volta até Paraty já vale pelo cenário que se abre sob alguns mirantes locais. Fique atento aos horários: a circulação de carros é permitida apenas até as 18 horas.

Para ter acesso às principais atrações de Cunha, no entanto, siga pela SP-171, que sai de Guaratinguetá e coloca o visitante cara a cara com os grandes destaques da cidade, afastados do centro. É o caso dos campos de lavanda. Escolha um período sem chuvas para visitá-los (o excesso de água tira a beleza das plantações). Solo alcalino e bem drenado, noites frias e temperaturas amenas são condições ideias para o cultivo das plantas, que florescem o ano todo graças à poda em rodízio.

Aromas provençais

O mais famoso, digno de cenário de novela, é o Lavandário (km 54,7 da SP-171), que funciona em uma construção de estilo provençal. Ali, os corredores de lavandas têm vista para as montanhas do Vale do Paraíba, por onde o visitante pode circular entre caminhos delimitados. Procure chegar no final da tarde, quando o sol ilumina os campos e dá ainda mais destaque para as matizes lilases.

Outra opção é o Contemplário (km 61,5 da SP-171), com mais de 3 hectares equipados com deques em meio a campos de lavandas, e um café suspenso com produtos feitos com a planta, como creme hidratante, aromatizadores e biscoitos.

Mãos à obra

A cerâmica também deu fama à cidade. Desde que recebeu seu primeiro forno Noborigama, introduzido nos anos 1970 pelos primeiros artesãos orientais que chegaram à cidade, o destino se tornou referência na produção ceramista, considerado um dos polos mais importantes da América do Sul.

Os ateliês costumam abrir suas portas para visita turística e contam com eventos como a abertura de fornada do Suenaga & Jardineiro, quando uma peça vem a público pela primeira vez. No Gaia Arte Cerâmica, a atração são as peças de autor que saem do forno ainda em brasa, técnica conhecida como raku e apresentada em encontros esporádicos, em que os visitantes aprendem sobre o processo, acompanham a queima por uma hora e são recebidos com petiscos e vinhos.

Natureza

As principais atrações naturais estão mais afastadas. No Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Pedra da Macela oferece uma vista panorâmica, a 1.840 metros de altitude, de onde se vê Cunha, Angra dos Reis e Paraty. Para chegar ao local (cujo nome se refere à perfumada flor de mesmo nome, abundante na região), a caminhada é exigente. O acesso se dá pelo km 66 da SP-171, e é preciso andar ao longo de 2 quilômetros por terreno elevado e sem sombra.

Já o Parque Estadual da Serra do Mar é mais amigável e abriga trilhas mais leves, em meio à Mata Atlântica. Todas as rotas do Núcleo Cunha (km 56,2 da SP-171) são gratuitas, como a das Cachoeiras, de 14 km de extensão (ida e volta) até seis quedas d’água e com trechos que podem ser feitos de carro. Quem procura algo mais leve, conta com a tranquila Trilha do Rio Paraibuna, uma caminhada autoguiada de 1,7 km, onde o visitante pode fazer paradas em diferentes piscinas naturais - talvez para esta seja caso de esperar por dias mais quentes, não é mesmo?

Para matar a fome

Não faltam bons restaurantes para aplacar sua fome depois de se aventurar pela cidade. No melhor estilo comida de roça, o Do Gnomo Restaurante, que o proprietário Caio chama de “regional criativo”, oferece trutas preparadas de diferentes modos - como a “à moda do Gnomo”, que serve duas pessoas e acompanha arroz negro e purê de banana prata.

Outro endereço é o Veríssima Bistrô, sob o comando cuidadoso da paulista Vera, cujas referências vêm da casa com fogão à lenha onde morou com a família. Entre as especialidades, está o risoto de miniarroz, produzido ali mesmo no Vale, acompanhado de truta com crosta de castanhas de caju e do Pará. Depois de se fartar, descanse bem. Afinal, no dia seguinte tem muito mais...