Há 17 anos, o cinema de horror sofreu uma das suas maiores revoluções. Um grupo de jovens cineastas e atores lançou A Bruxa de Blair, um filme semicaseiro que borrava a linha entre realidade e fantasia: compilava o que seriam vídeos gravados por jovens desaparecidos numa floresta em busca da lenda da Bruxa de Blair. O longa virou um fenômeno de bilheteria (custou US$ 60 mil e rendeu US$ 250 milhões) e deu início à proliferação de filmes no mesmo estilo.

Bruxa de Blair (sem o artigo), que estreia hoje, é a continuação direta do primeiro filme, desprezando a péssima continuação, O Livro das Sombras (2000), e torcendo para reiniciar o hype em torno do fenômeno em meio a tantas imitações. “É algo complicado”, afirma o diretor Adam Wingard (Você É o Próximo). “Não tínhamos como recriar aquele fenômeno, porque foi uma surpresa. Mas podemos explorar a mitologia desse universo, como os totens feitos de galhos de árvores e as vítimas olhando para a parede.”

Wingard conta que o estúdio queria trazer a franquia de volta à vida com alguma ligação com o original. A solução foi apelar para James (personagem de James Allen McCune), irmão mais novo de Heather, desaparecida em 1999. Obcecado por descobrir o que aconteceu, ele reúne uma amiga (Callie Hernandez) e um casal de amigos para voltarem à floresta de Black Hills. “Tivemos toda a liberdade para criar o roteiro. A única coisa que o estúdio requisitou foi essa ligação com a família do primeiro filme.”

No entanto, o diretor e seu roteirista, Simon Barrett, pediram algo em troca: o filme deveria ser mantido sob segredo até alguns meses antes da estreia. Eles começaram a trabalhar em 2013 no que foi chamado The Woods (A Floresta) e só revelaram que o projeto era, na verdade, Bruxa de Blair, durante a San Diego Comic-Con, em julho passado. “Essa informação vazaria em algum momento. Um site até descobriu, mas ninguém acreditou nele”, brinca Barrett. “Gostamos de surpresas, estou cheio desses filmes que mostram tudo antes do lançamento. E não conseguiríamos repetir o marketing incrível do original, então surpreender era algo parecido.”

Presente

Bruxa de Blair se passa no presente, então o cineasta pode fazer mais uso da nova tecnologia audiovisual (celulares, microcâmeras, drones) para diluir o estilo tremido do original. “É a versão montanha-russa de A Bruxa de Blair”, brinca Wingard. “Fiz alguns filmes que desconstruíam o gênero. Dessa vez, eu queria fazer um filme de horror puro, conseguir uma reação mais visceral da plateia e manter a vitalidade do horror.”

A plateia no Festival de Toronto, onde o filme fez a première mundial na última semana, aceitou o projeto com gritarias e aplausos. E, de acordo com as estimativas, o longa deve alcançar o topo das bilheterias americanas neste fim de semana de estreia, rendendo entre US$ 19 e US$ 25 milhões (de R$ 63 a R$ 83 milhões.

Considerando o orçamento de US$ 5 milhões, Bruxa de Blair não deve parar. “Não é um sucesso óbvio”, comenta Wingard. “Estamos confiantes. Não importa se gostam ou não, só queremos mostrar logo esse filme.”