Tragédias sempre aconteceram. Infelizmente. E causam dores, lágrimas, feridas, tristeza e as intermináveis interrogações de frágeis humanos sobre os motivos de desfechos tão amargos que nos fogem ao controle e à compreensão.

Como ocorreu com o malfadado e incompleto voo da Lamia, que vitimou jogadores, dirigentes e convidados da vibrante Chapecoense, jornalistas e tripulantes, interrompendo em montanhas colombianas o maior sonho até então da equipe catarinense. 

Imensuráveis os sentimentos de todos, principalmente de familiares, amigos e colegas, que a essas horas juntam forças e se apegam a energias distintas para suportarem a violência dos fatos e ausências de entes tão queridos.

As imagens dos destroços da aeronave em meio a árvores e lamas, do desespero de pessoas tentando entender a dimensão do acidente e da angústia de gente que sequer conhecia alguém daquele voo são, realmente, tocantes.

A ponto de nos remeter a reflexões tão raras em um mundo tão estranho, onde valores são subvertidos em nome da pressa, do dinheiro e do egoísmo. Vivemos a efêmera e enganosa virtualidade das coisas, dos sentimentos e da vida. 

Lições há que se tirar dessa tragédia a nos mostrar que, por pior que esteja, nem tudo está perdido, nem todos são movidos pelo ódio como o de terroristas, pela ganância como a dos donos da Lamia ou pelo descaso com o próximo como o fazem muitos de nossos governantes.

Lições como as que nos dão o povo colombiano. Certamente esse país será visto sob outros ângulos a partir de agora: fraterno, solidário, humano e competente. Deixando para trás a marca de uma Colômbia antes ligada ao narcotráfico, à violência e a ditadores.

Gestos simples que podem nos fazer sobreviver ao caos do egoísmo e do desamor e realimentar esperança como a estampada pelo índio-mascote Carlinhos na molhada Arena Condá, em Chapecó.

Lições como a abnegação de jogadores e dirigentes do Atlético Nacional de Medellín em sagrar a Chapecoense campeã da Copa Sul-Americana, ou ainda como manifestações em gestos e ajuda de gente de várias partes do mundo.

Lições como o abraço carinhoso de dona Ilaídes Padilha, que em meio à dor por ter perdido o filho – o goleiro Danilo -, encontra forças e serenidade para consolar o repórter Guido Nunes, que também perdeu colegas de ofício.

Lições como a emocionante carta póstuma da jornalista Isabela Fernandez para o marido Giovani Klein – morto no acidente – em que demonstra amor e respeito ao companheiro e ao profissional com quem dividia afetos, ausências, pautas e sonhos. 

Como não acreditar no mundo a partir de lições como essas? Como não acreditar que tudo pode ser diferente, que gestores públicos não tenham que ser sinônimos de corrupção, que o ter não tenha que se sobrepor ao ser e que os sonhos – como os da Chapecoense – não tenham que se transformar em pesadelos?

Que a pressa do tempo e a fragilidade das relações sejam substituídas pelos sentimentos e lições de uma tragédia.

#FORÇACHAPE!