O novo recorde da cotação do dólar, que vem no engate das preocupações do mercado com a fragilidade da economia e o dissenso político, além das turbulências externas, promove mais uma baixa no bolso do consumidor. Em pleno início de safra de trigo, o produto vai ficar 20% mais caro até outubro - segundo estima o Sindicato da Indústria do Trigo (Sinditrigo) de Goiás -, sendo que a metade desse repasse é imediata. Pegos de surpresa, o setor de panificação debruça em cálculos.


A panificadora de Almir Graciniano, em Palmas, produz cerca de três mil pães (francês) por dia. Hoje, o produto é vendido por R$ 8,49 o quilo, valor deve mudar em breve. “Já faz um tempo que o preço do dólar vem subindo e eu ainda não repassei aos clientes”, explica o comerciante. Esta situação deve mudar a partir do mês que vem.

Embora o reajuste seja iminente, Graciniano calcula que a padaria na região norte da capital não poderá apostar em um valor muito alto. A previsão é de que o preço cobrando pelo quilo do pão suba em média R$ 1,00. “Tenho meu público, que já é acostumado a comprar por esse preço, mas também não posso fugir do que está sendo praticado pelo mercado”, avalia.


É a mesma fórmula na qual a comerciantes Dayana Demétrio aposta. A panificadora dela, que fica no Centro de Palmas, também vai reajustar o preço do pão, mas o aumento não deve passar de R$ 1,00. “Hoje o quilo do pãozinho sai por r$ 9,99, que é abaixo do valor médio praticado no mercado.” O cliente de Dayana só vai ver os preços mudarem a partir outubro, quando ela renovar os estoques. No entanto, a comerciante diz que já tem gente consumindo menos por medo do reajuste. “Quem comprava dez pães, agora só leva cinco”, avalia. Ela acrescenta que o pão é o único produto da padaria que ainda não passou por reajuste.


Embora os comerciantes apostem em consumo moderado, tem cliente que não abre mão do pão francês, mesmo tendo que pagar mais caro por ele. O motorista Alessandro Galvão, ainda não notou alterações nos preços, está entre essas pessoas. “Não tem como fugir do pão. É uma tradição.”


A professora Joice Matos é cliente fiel da padaria e todos os dias leva alguns pãezinhos para casa. “Eu não costumo olhar o preço. Só peço o pão e pronto”, decreta, ao lembrar que, mesmo com o preço mais alto, não vai deixar de consumir o produto. “No final não fica tão caro. Vale a pena.”

Cadeia

Pode ser difícil entender como a alta do dólar pode interferir no valor pago pelo pão francês aqui no Tocantins, mas o economista Wereque Trajano explica que se trata de uma reação em cadeia. Isso porque o trigo - principal matéria-prima do pão francês - é uma commodity e, como tal, cotada em dólar.
“Se o dólar sobe, o preço da saca de trigo também aumenta e isso reflete no preço final do pão francês, que passa a ter custo de produção mais alto”, pontua o economista, ao dizer que o consumidor é o último elo desta corrente.


Trajano ainda indica alternativas para fugir dos preços mais “salgados”. Os tradicionais cuscuz e tapioca são feitos à base de produtos nacionais, “comprados e vendidos em real”.