O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) deve sair do terreno da deflação em julho e caminhar para uma taxa positiva. A expectativa é do superintendente adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, que, em entrevista à imprensa para detalhar a taxa de junho, avaliou ser mais provável um resultado mais próximo de zero para o indicador conhecido por ser usado como base para reajuste em boa parte dos contratos de aluguel.

Nesta sexta-feira (27), a FGV anunciou que o IGP-M registrou deflação de 0,74% em junho ante taxa negativa de 0,13% em maio. A forte queda foi mais intensa que a esperada por economistas do mercado financeiro, já que, no levantamento do AE Projeções com os profissionais, as estimativas eram de um declínio de 0,50% a 0,67%, com mediana em baixa de 0,60%.

A deflação de junho, conforme a FGV, também foi a mais expressiva desde junho de 2003, quando o IGP-M recuou 1,00%. Para Quadros, é difícil que o índice volte a ter uma queda tão forte como essa em 2014 e, justamente por isso, essa tende a ser taxa mensal mais baixa do indicador neste ano.

"É pouco provável uma nova deflação de IGP-M com essa intensidade para este ano", disse o superintendente, que, no entanto, não descartou completamente uma taxa negativa para julho, apesar de acreditar que essa chance seja minúscula. "É muito pequena a possibilidade de uma repetição. Vemos os IGPs saindo da deflação em julho", comentou.

Para Quadros, o comportamento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) em junho foi fundamental para a queda do IGP-M do período. Tal qual o indicador geral, o subíndice, que responde por 60% do resultado geral, mostrou deflação significativa, de 1,44%, também a menor desde junho de 2003, quando caiu 1,67%.

Dentro do IPA, outro destaque ficou por conta dos preços dos Alimentos In Natura, cujo declínio, de 12,73% (ante recuo de 3,08% em maio) foi o mais forte desde agosto de 1997 (-15,49%). Esse movimento foi importante para puxar os preços do atacado ainda mais para baixo num mês em que a soja, item de maior peso no IPA, subiu 1,55% (ante 0,10% em maio).

Segundo Quadros, a queda vista no IPA, principalmente na parte agropecuária, está sendo uma compensação das altas observadas no início de 2014, quando a estiagem que atingiu várias regiões do País fez os preços saltarem para níveis preocupantes. Em março, por exemplo, os Alimentos In Natura haviam subido expressivos 17,48%.

Outro detalhe que não pode deixar de ser mencionado, de acordo com o representante da FGV, é que o câmbio vem ajudando a inflação. Esse fator também é um benefício a mais num cenário no qual o mercado internacional de commodities está mais favorável do que no início do ano.

Para Salomão Quadros, é justamente a aproximação de um esgotamento desses fatores que tende a impedir uma nova deflação em julho. Segundo ele, tanto o IPA deve voltar ao terreno positivo no mês que vem como o dólar não tende a influenciar tanto em forma de queda alguns itens de destaque dos IGPs.

Um fator que pode ser o fiel da balança para julho, de acordo com Quadros, é justamente a soja. Na avaliação do superintendente, se o quadro traçado por departamentos, especialmente dos Estados Unidos, para a safra do produto for positivo (e há, segundo ele essa chance), o item pode subir menos no IGP-M e fazer com que a caminhada do indicador para o terreno de altas seja mais lenta.