É tímido. É um gênio. É bom no pôquer. Planeja cometer um atentado. Essas são algumas das classificações que um pequeno grupo de empreendedores de Tel Aviv garante poder distinguir apenas com a análise do rosto de uma pessoa usando as características dela graças ao sistema de reconhecimento facial desenvolvido por eles.

A startup Faception patenteou uma "tecnologia de aprendizagem" que cria perfis de pessoas e revela sua personalidade através de uma imagem do rosto, uma técnica pioneira que, segundo defende a empresa, abre enormes possibilidades no campo da segurança.

O diretor-executivo Shai Gilboa acredita que o comportamento e o semblante humanos contam mais sobre nós do que acreditamos e desenvolveu esta ideia tecnicamente.

Agora, ele está à frente de uma pequena empresa focada em segurança nacional e pública que foi contratada por uma agência de segurança - de um país que não revela - que acredita na teoria de que a personalidade é determinada pela carga genética e é refletida no rosto.

"Não estamos presumindo nada. Só lemos o computador e aprendemos. Não modificamos o sistema", explicou Gilboa, em entrevista feita por telefone.

Recentemente seu programa identificou com sucesso entre todos os participantes de um torneio de pôquer duas das três pessoas que seriam finalistas, antes mesmo de a competição começar.

O computador analisou as fotos de 1.500 jogadores e as comparou com as de outras pessoas. A partir disso, o sistema elaborou classificadores de personalidade e analisou o que as tornam únicas.

A empresa garante ter 80% de efetividade demonstrada, uma porcentagem que pode aumentar.

Alta ou baixa autoestima, carisma, tendência à agressividade ou criatividade são traços "lidos" nos rostos, em vídeos, fotos ou ao vivo, e classificados em um dos 15 perfis definidos até o momento e que incluem, entre outros, os de QI alto, pedófilo, pesquisador acadêmico, promotor de marcas ou criminoso do colarinho branco.

"Os sistemas de reconhecimento faciais usados agora podem procurar nas bases de dados se um indivíduo é um terrorista ou um criminoso. Mas o que acontece se você tem o autor de crime em potencial e isso não está registrado em lugar algum?", ponderou Gilboa.

Em sua opinião, o Faception é uma "ferramenta para trabalhar mais eficientemente", principalmente em assuntos de segurança, mas também no âmbito da comunicação, marketing e serviços financeiros.

Um exemplo de uso é o trabalho feito por agente do Departamento de Imigração de um aeroporto, onde o software "dá o alerta e depois eles podem tomar o passo seguinte. Permite com que trabalhem melhor porque, conforme o que o programa falar, o sistema pode perguntar algo mais o viajante", acrescentou o diretor-executivo da startup.

Gilboa defende que o Faception "não dita sentença nem julga ninguém" e rejeita que esta maneira de criar categorias pelo aspecto físico seja discriminatória ou racista.

"Não existe uma avaliação preconceituosa ou de perfil racial. Não vai dizer que todos os árabes são terroristas, por exemplo. O sistema dirá se alguém é ou não alguma coisa. Não discrimina, mas se baseia em fatos", argumentou.

A empresa assegura que tem um código ético e que se impõe limites, como não compartilhar a informação de quem foi classificado e em quais categorias, embora entenda que "a tecnologia provoca ceticismo e pode ser que alguns a rejeitem".