Em busca de realização profissional, desejo de se manter ativo no mercado de trabalho ou por necessidade financeira, é no empreendedorismo que as pessoas com mais de 60 anos têm apostado. E o diferencial marcante desta fatia da população, em relação aos demais com menor idade, é a experiência. No Tocantins, eles somam 4.340 Microempreendedores Individuais (MEIs), representando 5,70% do total de MEIs no estado (76.113), conforme dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Tocantins.

Ainda de acordo com os dados do Sebrae, obtidos no dia 11 de maio de 2023, no Tocantins, as cidades que possuem o maior número de MEIs são, respectivamente, Palmas, com 25.527; Araguaína, 9.723 MEIs; e Gurupi, que soma 5.349 MEIs. Quanto ao número de microempreendedores acima de 60 anos, Palmas segue na liderança com 1.226 MEIs, seguido de Araguaína (544) e Gurupi (388).

É no comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios que está a maior concentração dos microempreendedores da terceira idade. São 313 no Tocantins, seguido dos MEIs cabeleireiros, manicures e pedicures, com 255 microempreendedores. As informações levam em consideração a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) principal. O detalhamento das atividades é apresentado no infográfico abaixo:

 

 

Conforme a analista técnica do Sebrae Tocantins Gabriela Tomasi, basicamente existem dois tipos de empreendedorismo na terceira idade: por oportunidade e por necessidade. “No empreendedorismo por oportunidade, essa pessoa tem uma experiência maior e empreende por uma realização profissional, pois já tem maior segurança, conhecimento e vivência no mercado de trabalho”, detalha a analista.

O empreendedorismo motivado pela necessidade ocorre como forma de complementação de renda, sustento total da família ou uma forma dos idosos se sentirem úteis no ambiente familiar. “Em muitos casos os familiares dessa pessoa não conseguem suprir a demanda financeira e o idoso precisa continuar trabalhando para complementar, ou ainda, é o provedor principal. Muitas vezes essas pessoas também se sentem obsoletas dentro do mercado de trabalho, muito por conta da tecnologia”, explica.

Pioneirismo e inovação

Aposentadoria é algo que não passa pela cabeça da empreendedora do ramo de semijoias em Palmas Mara Pereira de Camargo, de 60 anos. Atuante no segmento há 13 anos, Mara procura sempre realizar cursos específicos no ramo atuante, além da área de vendas e tecnologia. O objetivo, segundo ela, é a necessidade de atualização constante. “Seguir como empreendedora na melhor idade exige constante busca de aprendizagem, investimento no desenvolvimento pessoal”, esclarece Mara que complementa a renda familiar com seu trabalho. 

A história da empreendedora começou ainda em 2010, quando decidiu deixar para trás um emprego formal com carteira assinada, para ser dona do próprio negócio. “Sou pedagoga aposentada e trabalhei por muitos anos na rede privada na cidade de Goiânia. Logo que mudei para Palmas, optei em não ser empregada, pois queria a flexibilidade de viajar e visitar familiares. Neste momento investi nas vendas de semijoias, inicialmente como sacoleira, atendendo clientes no trabalho ou em casa”, narra Mara.

A primeira grande mudança ocorreu em 2016 com a abertura da loja física. “E não parei mais. Busco sempre inovação e atualidades para me manter em alta no mercado, tanto que preparo o lançamento da minha marca própria de semijoias. É um marco na minha história como empreendedora”, comemora.

Assim como em qualquer negócio, obstáculos fazem parte da rotina, e para Mara não é diferente. A empreendedora aponta o domínio da tecnologia como maior dificuldade para ela. “Apesar disso, tenho excelentes profissionais ao meu lado e estou vencendo a crença da limitação da terceira idade para desenvolver a minha atividade”, explica.

Mara acredita que o conhecimento e a experiência são fundamentais na tomada de decisões dos clientes ao escolherem um profissional, independentemente da área de atuação. “Nós de 60 anos acima, temos características ideais para o empreendedorismo. Temos menos medo de arriscar e sonhamos com a realização pessoal ao abrirmos o nosso próprio negócio”, defende.

Os investimentos feitos ao longo dos anos têm dado bons frutos. Além do lançamento da marca própria, em breve o negócio deixará de ser enquadrado como MEI, em razão do crescimento.  “A minha recomendação aos que desejam empreender, independentemente da idade, é analisar a área que se identifica, o conhecimento ou possibilidade de adquirir e analisar o mercado”, finaliza.

No alto da serra

Em meio a palmeiras de babaçu e no pé da Serra de Taquaruçu, um sonho vem sendo cultivado dia após dia e cuidado a várias mãos. Há cerca de oito meses, Maria Suely da Silva Oliveira e Silva, de 61 anos, inaugurou uma estância destinada a aluguel por curtos períodos ou por temporada. O local fica localizado no Vão do Mutum, em Taquaruçu, distrito de Palmas.

A empreendedora da área de turismo e hotelaria planejava abrir uma pousada no Nordeste, porém, os caminhos tomaram novos rumos. Inicialmente, a propriedade foi adquirida apenas para o lazer da família e amigos. “Quando compramos a estância, o objetivo era ter um local de hospedagem durante a programação do Festival Gastronômico de Taquaruçu. Após uma conversa com uma amiga sobre o nosso desejo de morar no distrito, compramos juntas uma chácara, ainda em 2013, mas a construção da casa ocorreu em 2015, quando me mudei para a propriedade para morar num lugar sossegado e focar nos meus artesanatos”, narra Suely.

Em 2020, Suely mudou-se para uma chácara próxima ao município de Lajeado -TO, após um caso de doença na família e a estância ficou em segundo plano. “Cheguei a colocar a propriedade à venda, mas fui convencida por amigos a não abrir mão desse paraíso. A ideia de alugar o espaço surgiu como solução para explorar melhor a estância e ter um retorno financeiro, inclusive aliada à própria manutenção do espaço”, detalha.

A partir da decisão em tornar o local economicamente rentável, Suely, ao lado da família, colocou o projeto em prática. “Começamos a pesquisar e aprender a trabalhar nesse segmento. Ainda estamos engatinhando, mas estou gostando da experiência. Empreender nessa idade aumentou o meu ânimo e me sinto realizada com os novos rumos que a vida tomou”, celebra.

Planejar para empreender

Para a analista técnica do Sebrae Tocantins Gabriela Tomasi, a análise de risco é um ponto a ser considerado na estruturação de um negócio. “Não é o fato de os idosos estarem mais dispostos a correrem risco, que farão isso sem um planejamento, pois muitas vezes envolve economias de uma vida inteira. Nós orientamos no levantamento de dados, plano de negócios e na orientação como um todo”, relata.

Além do envolvimento da família na parte tecnológica para apoiar esse idoso, é importante a inclusão dessas pessoas dentro do negócio. “Às vezes não fisicamente, mas apoiando. Quanto à questão tecnológica orientamos que busque conhecimento, podendo fazer a gestão direta ou tendo a capacitação básica para entender o mínimo possível e se sentir seguro na gestão do negócio”, sugere a analista.

Para empreender com segurança e eficiência, o Sebrae lista alguns pontos essenciais, são eles: Separação de despesas pessoais e empresariais; controle de contas a pagar e receber; acompanhar o fluxo de caixa; estudar o mercado; e engajar colaboradores.

Além de capacitações presenciais, a instituição oferece uma extensa lista de cursos na modalidade on-line, sobre empreendedorismo. Os cursos estão disponíveis no site https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/cursosonline.