É sabido que o desmatamento ilegal, somado às queimadas, contribui para a perda significativa de espécies nativas vegetais e animais em todas as regiões. Um estudo internacional, coordenado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista Nature Ecology and Evolutionalerta para este problema no Cerrado nos próximos 30 anos se o ritmo atual de desmatamento do bioma continuar.

Segundo o estudo, há 4.600 espécies de plantas endêmicas no bioma, que não existem em nenhum outro lugar do planeta e os pesquisadores estimam que até 1.140 espécies podem desaparecer pelo desmatamento acumulado. Desde o ano de 1.500, quando foram feitos os primeiros registros das espécies de plantas no planeta, 139 foram declaradas oficialmente extintas.

Conforme dados do Projeto Mapeamento das Regiões Fitoecológicas e Inventário Florestal do Estado, elaborado entre os anos 2008 e 2011, no Tocantins estão registradas 2.734 espécies vegetais, desse total 156 são consideradas ameaçadas de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), 111 espécies podem ser consideradas restritas a determinados habitats, 39 espécies são endêmicas do Estado e outras 20 espécies são consideradas raras no Brasil.

 Segundo o engenheiro florestal e doutor em Ecologia Florestal Ricardo Haidar, o Tocantins apresenta potencial para abranger um número muito maior de espécies vegetais em função da localização do Estado em zona de contato (transição) entre os biomas Amazônia, Caatinga e Cerrado, incluindo novas espécies nunca registradas cientificamente (espécies endêmicas). “A maioria das espécies vegetais endêmicas do Tocantins são gramíneas, ervas e arbustos, mas também temos algumas arbóreas. De forma geral, essas espécies estão localizadas em ambientes únicos do Estado, como no Jalapão e nas matas secas do Sudoeste”, afirmou.

Para evitar que essas espécies desapareçam com a degradação, Haidar explicou que é necessário “dar mais valor econômico, cultural e espiritual para a cobertura vegetal e as diferentes fitofisionomias que existem. “Temos inúmeras espécies vegetais madeireiras, frutíferas, medicinais ou aptas para o artesanato que são utilizadas na economia regional e nacional. Além disso, a permanência da vegetação nativa em pé em propriedades rurais pode ser considerada um ativo financeiro através da política de pagamento de serviços ambientais”, opinou.

Outra medida eficaz para a conservação das espécies vegetais e seus ambientes naturais, segundo o doutor, é a criação de unidades de conservação de forma planejada sem prejudicar a população tradicional e seus costumes históricos. “Além disso, o ecoturismo e o turismo de aventura são excelentes maneiras de aproximar a população urbana com a vegetação nativa tocantinense”, disse. Segundo Haidar, com a extinção dessas espécies e de seus ambientes naturais, pode haver perdas inestimáveis, não só para a fauna local, mas principalmente para a população tocantinense, seja aquela que vive na área rural e faz uso direto das espécies vegetais, assim como a população urbana que depende, por exemplo, de áreas de recarga de aquíferos para ter água potável em casa.

Taquaruçu

Em Taquaruçu, região Sul de Palmas, existe o projeto de reflorestamento de nascentes, de iniciativa privada do Instituto Ecológica. Segundo o presidente do instituto, Stefano Merlin, o trabalho consiste na recuperação das nascentes, onde existe um viveiro com mudas nativas de várias espécies, além de cercarem para que animais não pisoteiem principalmente o gado.

A professora aposentada Astéria da Costa Rezende, 72 anos, é uma das pessoas que cuida da região. Ela diz que começou com o reflorestamento devido ao impacto sofrido. “A gente tem várias nascentes na nossa área e nas áreas vizinhas e a água tem diminuído”, disse.