A Igreja Universal faz "um jogo estratégico nojento" ao endossar a indicação do juiz federal Kassio Nunes para o STF (Supremo Tribunal Federal), diz o pastor Silas Malafaia.Para ele, aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro, o indicado "tem amizade com a turma do PT" e "posição muito dúbia" sobre aborto. "Precisa de mais alguma coisa?"A Universal, segundo Malafaia, devolve um favor pela chancela presidencial a dois candidatos a prefeito: no Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Edir Macedo, e, em São Paulo, o deputado federal Celso Russomanno. Ambos são do Republicanos, partido ligado à igreja.Na bancada evangélica, circula a versão de que Malafaia já esteve mais em alta com Bolsonaro. Ele associa a ideia a uma "dor de cotovelo" e diz que o presidente, que lhe dá acesso liberado, costuma brincar: "Quando Malafaia bota dois áúdios seguidos no meu zap, eu nem escuto, sei que é bronca".Por que Bolsonaro faz "defesa apaixonada", como o sr. critica, de um sujeito que não teria a agenda conservadora como prioridade?Me parece que Lula, Dilma, nunca vi nomearem alguém que seja de uma ala de direita, contra os princípios ideológicos deles. [Kassio Nunes] é desembargador nomeado por Dilma e tem amizade com a turma do PT. Tanto é que um dos mais ferrenhos inimigos do presidente, o presidente da OAB, elogiou Bolsonaro por escolher o cara. Precisa de mais alguma coisa? A tese dele, quando fala de aborto, é uma coisa muito dúbia.O sr. diz que foi avisado de antemão pelo presidente sobre o primeiro indicado ao STF não ser "terrivelmente evangélico".Foi o presidente que falou, dizendo que somos mais de 30% da população, e que o Supremo tem católico, judeu, gente da esquerda: por que não um evangélico? Teve uma lista tríplice com 95% da liderança evangélica assinando, e 90% dos 95% apoiando o William Douglas. Desviar o foco dizendo que sou contra o candidato de Bolsonaro porque não foi o meu [indicado] é a coisa mais nojenta.O presidente disse que vai ser uma segunda [nomeação], a evangélica. Ninguém colocou faca em pescoço de Bolsonaro. Inclusive o bispo da Universal da Unigrejas assinou a lista também. Essa conversinha fiada da Igreja Universal é por interesse político, tá? Um jogo estratégico nojento, político, para agradar, porque Bolsonaro está apoiando Crivella e Russomanno. A Universal que é isolada. Representa 4% dos evangélicos. Isso é onda, puríssima.Diz o sr.: "Não podemos ter o culto de personalidade, como a esquerda faz". Isso ocorre com Bolsonaro?Tem alguns apoiadores que estão idolatrando o presidente. Isso não é bom nem pra ele. É exatamente o que a esquerda faz. Não crê em Deus, mas faz culto de personalidade. É só ver a história do comunismo no mundo. Apoiar um presidente é salutar, agora, essa idolatria louca de tudo o que ele fala é bom... Minha filha, todos nós somos passíveis de errar.O sr. citou o provérbio "quem fere por amor, mostra lealdade; o inimigo multiplica beijos". Quem são os inimigos de Bolsonaro hoje, no campo aliado?É pra dizer a Bolsonaro que aquele que é leal fala a verdade. Amigo é o que fala que o outro está com mau hálito. Não acredito que o presidente tenha inimigos dentro do campo aliado, tem é puxa-sacos.O sr. já se disse decepcionado com o presidente em outras ocasiões, como ao esnobar Magno Malta. Sente que o presidente o escuta?Há dez dias, quando eu soube que a primeira vaga não seria de um terrivelmente evangélico, disse assim: quando anunciar o cara, diga que a segunda vaga vai ser para um evangélico. O sr. falou em muitas reuniões evangélicas, o ser humano faz associação. Daqui a pouco estão dizendo que o senhor é traidor. Ele escutou e falou isso. Tenho voo próprio, penso. Já discordei do presidente no caso do Magno. Bolsonaro até brinca: "Quando Malafaia bota dois áúdios seguidos no meu zap, eu nem escuto, sei que é bronca". Fiz casamento dele [com Michelle]. Não cheguei aqui agora, não, com todo o respeito.Bolsonaro vetar a anistia a dívidas de igrejas foi recebido como no segmento?O governo Dilma, se aproveitando de brechas no codigo tributário, meteu multa nas religiões. O preconceito é tão desgraçado que querem colocar na nossa conta, mas é com todas as religiões. Elas têm imunidade tributária. O presidente disse: "Não tenho como liberar tudo ou caio na lei de irresponsabilidade fiscal. Vou ter que dar veto numa parte e dizer pros deputados [derrubarem o veto]".O sr. já foi aliado de Lula. Algo faria com que um dia volte a sê-lo?Apoiei Lula porque acreditava que ele que veio do pobre, do Nordeste, podia fazer transformação no país. Apareci no programa eleitoral dele. Quando comecei a ver diferença entre prática e discurso, me afastei. Meu pai me avisou: "Rapaz, isso é tudo vertente comunista".Ouvi de dois membros da bancada evangélica que o sr. anda desprestigiado com o presidente.Tenho que rir desta. Tem gente lá que tem a maior dor de cotovelo. Onde tem ser humano, minha filha, tem despeito. Falo toda semana com presidente... É, não tenho prestígio nenhum.Diz que reviraram "a vida do cara", de Bolsonaro, e não acharam nada. E o dinheiro depositado por Queiroz, um velho amigo do presidente, na conta da primeira-dama, ou todas as acusações envolvendo Flávio?O que acho engraçado: por que imprensa não escreveu o que o presidente falou sobre isso? "Ele me emprestou, devolvi acho que com 10 ou 20 cheques". Qual é o problema de um amigo emprestar dinheiro? E o que o presidente tem a ver com vida do filho? Se o Flávio está devendo, que pague.Sobre a eleição municipal: o sr. respalda algum nome?Aqui no Rio sou amigo do Crivella e do [Eduardo] Paes, tá, dos dois. Se for pro segundo os dois, vou ficar neutro. Em São Paulo, não decidi se vou dar apoio a Russomanno ou se fico neutro.RAIO-XSilas Malafaia, 62Carioca e líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, é graduado em teologia e psicologia. Soma mais de 8 milhões de seguidores em redes sociais. O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) representa sua igreja no Congresso