Na tentativa de imprimir uma agenda positiva em meio à crise política e econômica, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou nesta quinta-feira (30) uma agenda de votações até 13 de julho, quando a Casa fará um recesso. O principal projeto que pode ser votado é o que regulamenta a exploração de jogos de azar no país.Os senadores também podem analisar o projeto que trata do limite global da dívida da União, a proposta que institui consórcios públicos de saúde e o projeto que fixa um limite para despesas dos Legislativos e Tribunais de Contas estaduais.As quatro propostas já estão prontas para serem votadas pelo plenário da Casa e devem ser pautadas nas próximas duas semanas.Renan anunciou também que o Senado fará um recesso mesmo que o Congresso não vote a Lei de Diretrizes Orçamentárias. De acordo com a Constituição, o Legislativo só pode entrar em férias com a LDO aprovada. Caso isso não aconteça, no entanto, os senadores farão um recesso branco, que é quando o Senado mantém as atividades básicas mas não realiza votações.O calendário do impeachment, no entanto, não será afetado. As atividades da comissão especial que analisa o caso funcionará normalmente. A previsão é de que a comissão encerre seus trabalhos no início de agosto e que o julgamento final da presidente afastada, Dilma Rousseff, ocorra entre 25 e 27 de agosto.Durante o recesso branco, os integrantes do colegiado não devem se reunir, porque será o período para a apresentação das alegações finais da acusação e da defesa e para a elaboração do parecer do relator.PAUTAEm uma entrevista à imprensa, Renan afirmou que irá reativar três comissões especiais na Casa para dar celeridade à análise de projetos que podem ajudar na retomada do crescimento econômico. Apesar do pouco tempo para que a Casa analise as matérias, o peemedebista disse acreditar que é possível aprová-las até o início do recesso branco.Na Comissão de Regulamentação da Constituição, o presidente do Senado quer votar o projeto de lei que estipula regras para que haja punição quando houver abuso de autoridade."Tínhamos uma cobrança do STF (Supremo Tribunal Federal) e, como a Câmara não deu andamento à questão, resolvemos trazê-lo para cá. O mesmo texto apresentado lá vai tramitar no Senado", explicou Renan.O peemedebista negou que a prioridade dada à proposta tenha relação com a Lava Jato e voltou a dizer que "ninguém vai interferir" no curso da operação. "O discurso de que algumas pessoas querem interferir, é político. A operação está caminhando, tem muita gente presa e hoje tem muita pressão da sociedade para que as coisas se esclareçam", disse.Na comissão do Pacto Federativo, Renan que votar o projeto que estimula investimentos em saneamento básico, com créditos do PIS/Cofins e o que reajusta as alíquotas dos impostos incidentes sobre doações e herança. De acordo com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que será o relator do segundo projeto, ele será uma alternativa a falta de um imposto para taxar grandes fortunas.Coelho explicou que atualmente, só os Estados podem taxar, em até 8%, a transferência de doações ou de herança. A ideia é acrescentar mais um imposto federal, com alíquotas que variem entre 8% e 27,5% para valores acima de R$ 3 milhões."Isso pode gerar uma renda adicional de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões por ano. Isso é importante no momento em que todos são chamados a colaborar com a retomada da economia", disse. Os senadores, no entanto, ressaltaram que não há acordo para esta proposta e que a decisão terá que ser feita no voto.Já na comissão de Desenvolvimento Nacional, Renan quer aprovar o projeto que trata do abastecimento de água por fontes alternativas e o que atualiza a lei de licitações. Em relação à segunda proposta, o peemedebista afirmou que ela pode ajudar em sua proposta de impedir que o número de obras públicas inacabadas continue a crescer no país.Renan voltou a falar sobre a sua iniciativa de realizar um grande levantamento nacional de obras inacabadas em todo o país para que governadores e prefeitos possam estabelecer prioridades de conclusão. O peemedebista criou uma subcomissão no Senado para fazer o levantamento e criar regras para que se evite o desperdício de dinheiro público desta forma, inclusive com a determinação de que novas obras, exceto as emergenciais, só possam ser iniciadas quando as anteriores forem concluídas."Hoje existem grandes cemitérios pelo país. São cerca de 30 mil obras entre grandes e pequenas que somam um resto a pagar de R$ 250 bilhões", explicou Renan. Na próxima terça (5), ele e outros senadores se reunirão com o presidente interino, Michel Temer, para tratar do assunto. Sua ideia é pedir ao presidente que peça a ajuda dos Estados e municípios no levantamento e que seus ministros também ajudem a rastrear as obras no âmbito federal.AUMENTO DOS SERVIDORESQuestionado sobre o andamento que a Casa dará ao pacote de propostas de aumento salarial para diversas categorias do funcionalismo público, Renan tergiversou e disse apenas que, conforme os projetos sejam analisados pela Comissão de Assuntos Econômicos, eles devem seguir para análise do plenário.Nesta quarta (28), o Senado aprovou o reajuste de 41,5% para servidores do Judiciário e de 12% para os funcionários do Ministério Público da União, com impacto calculado de cerca de R$ 26 bilhões nos próximos quatro anos. Alguns senadores, no entanto, sinalizaram nos últimos dias não querer votar os 12 projetos em um ano de crise econômica e deficit fiscal de R$ 170,5 bilhões.FIM DO ANONa apresentação da agenda de votações, o presidente do Senado destacou que a Casa deverá votar outros três temas importantes em novembro e dezembro, após a realização das eleições municipais. De acordo com Renan, deverão ser analisados os projetos de autonomia do Banco Central, com o estabelecimento de mandato para o presidente da instituição; a regulamentação do trabalho terceirizado; e a reforma do Código Penal.