“Nunca é tarde para começar a estudar”, uma frase que já virou um ditado popular. Pensamento defendido por estudiosos da área da educação e saúde, que destacam os benefícios para a autoestima e a mente desses senhores e senhoras que já com os filhos criados, alguns já com netos, voltam ao banco das universidades para se preparem para iniciar uma nova carreira profissional. Uma ideia bonita, mas realmente é possível ser alcançada e é viável? O Jornal do Tocantins conversou com pessoas que vivem essa experiência e estão apostando no estudo para ingressarem em um novo mercado de trabalho.Com 53 anos e há 25 anos no serviço público, Raimundo Nonato Dias cursa o 5º período do curso de Serviço Social e não quer parar na graduação, deseja fazer uma pós-graduação e buscar a aprovação em um concurso público de nível superior, pois deseja garantir que tenha melhores condições salariais no futuro. “Entrei no primeiro concurso da Prefeitura de Palmas, em 1992, mas para um cargo com salário baixo, pois só tinha até o Ensino Médio”, disse. Nonato há muito tempo tem trabalho nos centros de Referência de Assistência Social (CRAS) da Capital.“No começo foi muito difícil, pois fazia cerca de 30 anos que havia parado de estudar e tudo hoje é muito informatizado. Realmente é preciso ter muita força de vontade para não desistir e também contei com o apoio da minha esposa e dos meus dois filhos”, relatou. Com uma grande risada, Nonato contou que não sabia ligar um computador, mas mesmo assim encarou um curso à distância. “Os meus filhos me ensinaram a usar o computador e quando tenho problemas sempre me ajudam, mas agora eu domino a máquina”, disse.Nonato argumentou que conhecimento nunca é demais e aconselha as pessoas a estudarem. “Abre a nossa cabeça para o mundo, passamos a saber muitas coisas e ajuda até na saúde da nossa mente”, defendeu. Perguntando sobre dicas para não desistir, Nonato frisou que o principal é ter um planejamento do tempo, onde garanta um parte do dia para estudar.Também servidor da Prefeitura de Palmas, mas com uma história um pouco diferente, José Gaspar dos Reis Soares, de 52 anos, acabou de concluir o curso de Direito e conseguiu ser aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quando ainda era estudante. “Quando era jovem não quis saber de estudar e conclui apenas o Ensino Fundamental, queria mesmo era ser vendedor, achava que iria ficar rico com essa profissão, mas a riqueza não chegou”, explicou. Gaspar seguiu a vida, quando aos 42 anos, em uma conversa com uma assistente social, percebeu que estava envelhecendo e não tinha construído muita coisa e não tinha garantias para o futuro. “Mas ainda continuei trabalhando como vendedor e depois de um tempo já estava cansado da estrada e fiz o concurso de vigia da Prefeitura de Palmas, passei e comecei a trabalhar no município à noite e durante o dia fazia outras atividades para complementar a renda.”Mas foi em 2009 que Gaspar decidiu que não poderia continuar como estava. “Estive em São Paulo, onde encontrei colegas de infância trabalhando para grandes empresas, com cargos de executivo, e percebi que eu não era menos inteligente, que na verdade tinha menos estudo e depois de 30 anos sem trabalhar resolvi correr atrás.” Gaspar conseguiu o certificado de conclusão do Ensino Médio em um ano, através da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) garantiu o ingresso em uma universidade, para o curso de Direito. “Cheguei a passar para os cursos de Pedagogia, Artes e Física em instituições federais, mas eu queria era Direito e optei por uma instituição privada, que paguei pelo Fies graças a ajuda de uma pessoa de Belém (PA) que foi o meu fiador.”Gaspar destacou que até o nono período da faculdade não faltou um dia de aula e não teve nota menor que 8. “Era muito difícil, pois tinha deixado de estudar há mais de 30 anos e ainda tinha o trabalho de vigia que não podia largar”, disse. Ele contou que acordou com a gestão municipal em trabalhar todos os finais de semana direto e os feriados. “Foi uma ótima saída, pois não perdia as aulas, de dia tinha que trabalhar com outras coisas e nos finais de semana e feriados eu ficava sozinho na prefeitura e aproveitava para estudar.”Assim como Nonato, Gaspar quer uma nova carreira profissional, mas não no serviço público. “Eu quero advogar e com foco nisso eu me dediquei e me esforcei para conseguir o diploma e a OAB”, ressaltou. Ele contou que algumas pessoas falavam que ele era doido por começar uma faculdade e que já estava muito velho. “Hoje estou advogando e aconselho as pessoas não desistirem dos seus sonhos, cheguei a ser convidado pela faculdade para dar palestra sobre minha história. O que é preciso é querer e ter foco para garantir o sucesso”, destacou.