Atualizada às 15:17A subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo pediu ao ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Mauro Campbell que mantenha o governador Mauro Carlesse (PSL) afastado do cargo em parece protocolado na terça-feira, 7, no qual sugere que o governador possa ter cooptado o promotor eleitoral Fabio Vasconcelos Lang.No documento de 36 páginas Lindôra dedica 8 delas à atuação do promotor. Lang teve citado no pedido de reconsideração de Carlesse, o parecer pelo arquivamento de um inquérito criminal que tramitou na Justiça Eleitoral até ser arquivado pelo juiz Lauro Maia, no dia 22 de outubro, dois dias após a operação policial que cumpriu o mandado de afastamento de Carlesse.O caso, aberto a pedido da PF, investigava a suspeita de benefício eleitoral na campanha de Carlesse em 2018 com dinheiro de propina do Plansaúde. Em parecer no dia 1º de outubro, Fabio Lang pediu o arquivamento do caso, por falta de provas. Com base no parecer e na decisão, a defesa afirmou no pedido de reconsideração que o Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria Geral da República (PGR), ressuscitou “linhas investigativas já examinadas, exauridas, superadas e arquivadas”, como mostrou o Jornal do Tocantins.A subprocuradora não discute o mérito do parecer nem da decisão de Maia, mas aponta que o promotor errou ao não se declarar suspeito no caso e que “deverá agora responder por seus atos perante os órgãos de controle”.Lindôra afirma que a manifestação de Lang na Justiça eleitoral é irrelevante para a decisão do STJ, porque os fatos investigados naquele inquérito na eleitoral não são os mesmos porque ocorreram em tempos e condições fáticas diferentes dos que são os investigados pela Polícia Federal nos inquéritos em tramitação no STJ.Subprocuradora vê tentativa de controle total das instituiçõesPara a subprocuradora, como Mauro Carlesse já havia cooptado toda a estrutura da Segurança Pública, de acordo com o parecer, o governador “buscava estender tentáculos para dentro do Ministério Público do Estado, quiçá cooptando o Promotor Eleitoral a partir da nomeação da esposa do agente ministerial para cargo em comissão na Governadoria”.Lindôra Araújo aponta ainda que a esposa do promotor se filiou ao PSL no mesmo dia de filiação do chefe Carlesse, que assumiu a presidência do partido no Tocantins, para apontar a atuação suspeita do promotor.“Na hipótese mais singela, e para não adentrar em especulações, o Promotor Fábio Vasconcelos Lang tinha o dever de se declarar suspeito, mas deliberadamente optou por arquivar inquérito cujo interessado direto era a autoridade nomeadora de Aldenora Costa Lang para cargo em comissão, ou seja, ela era subordinada a Mauro Carlesse”, escreve a subprocuradora. Aldenora é concursada como Assistente Administrativo, nível 7-II-J na carreira iniciada dia 5 de maio de 2001. Do cargo comissionado, ela acabou exonerada dia 26 de novembro, em ato do governo interino.O parecer da subprocuradora também cita em outro trecho, que o mesmo promotor passou pela promotoria militar, ocasião em que pediu a prisão preventiva do youtuber, pastor evangélico e ex-policial militar Nelcivan Feitosa, que criticava abertamente o governador e o comandante da Polícia Militar. O parecer junta fotos de Lang e Carlesse recebendo homenagem do Corpo de Bombeiros.Para Lindora, era uma atuação para blindar Carlesse que levou o promotor a pedir a prisão de Nelcivan porque ele “estaria criticando insistentemente nas redes sociais os atos do Governo do Estado na figura do governador Mauro Carlesse”.Nas palavras de Lindôra Araújo, Carlesse tentava "controlar todas as instituições para que atuem em seu favor" e, no caso do promotor, “descontente com a total cooptação das estruturas de segurança pública, [Mauro Carlesse] agia também para manter membro do Ministério Público Estadual (ninguém menos do que o Promotor Eleitoral) sob seu jugo, descortinando um modus operandi [forma de agir] ostensivo de busca incessante pela frustração das investigações, pela turbação da instrução, da colheita de provas e do sereno e regular desfecho dos casos de seu interesse.”Lindora sugere investigação do juiz pelo CNJNo parecer, a subprocuradora-geral afirma que o juiz Lauro Maia merece ter a atuação no processo investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo o documento, o juiz “certamente” teve conhecimento do afastamento do governador e, “ao menos em linhas gerais” da investigação que ocorre no STJ. “Ainda assim, sem nenhum zelo (na melhor das hipóteses), acolheu a promoção de arquivamento”, critica Lindôra. A conclusão da subprocuradora para o STJ é esse fato demonstraria a “a necessidade de manutenção do afastamento” do governador do cargo.Procurado por meio das assessorias de imprensa do Ministério Público do Tocantins e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Fabio Lang e Lauro Maia não se manifestaram.Parecer relaciona transferências bancárias e outras provas para pedir que afastamento seja mantidoEm outra p arte do parecer, Lindora relaciona diversos documentos na investigação para contestar a tese da defesa de que o afastamento de Carlesse se deu apenas com base nas delações de donos e responsáveis por hospitais e clínicas.Segundo Lindôra, são relatórios de inteligência financeira (RIFs do COAF), documentos comprobatórios de expedição e cancelamento de notas fiscais além de “provas da existência de empresas de fachada, interminável rede de empresas características de lavagem de ativos em nome de Mauro Carlesse (sócio ou ex-sócio delas), imagens de entrega de propina em espécie, mensagens eletrônicas, provas compartilhadas de outro inquérito, filmagens do recebimento do material de pesca e nota expedida em nome do hospital, cheques, escritura pública da compra de fazenda e toda uma gama de provas, absolutamente independentes de simples declarações de colaborador”.Segundo Lindora, a defesa de Carlesse no pedido de reconsideração é “praticamente uma confissão dos delitos investigados” e a estratégia de citar que o dinheiro movimentado em sua conta é de disponibilidade financeira no ajuste anual de imposto de renda de pessoa física, “longe de conferir lastro ao dinheiro em espécie, é conhecida técnica empregada para, depois, tentar conferir aparência de legalidade ao dinheiro efetivamente movimentado, proveniente de crime e recebido fracionadamente em várias ocasiões.”Para a subprocuradora, Carlesse só consegue apontar como origens “lícitas” uma movimentação em espécie de R$ 1.755.000,00. Contudo, de acordo com o parecer, de maio de 2018 a 7 de janeiro de 2021, houve a movimentação de R$ 9.581.800,54 por meio da empresa MJE Empreendimentos e Participações, ficando sem explicação da fonte, o valor de R$ 7.826.800,54.O parecer também relaciona diversas transações milionárias de parentes, amigos e servidores estaduais ligados a Carlesse, ao longo de quase 20 páginas com dados e valores bancários, para pedir a manutenção do afastamento de Carlesse.Para Lindôra, o pedido de Carlesse é ‘quase uma confissão” e reforça “a forte tentativa de dominar todas as instituições do Estado” por ter buscado cooptar até agentes com atuação na Justiça Eleitoral e dos supostos crimes de lavagem de dinheiro pelo “reconhecimento das movimentações bancárias e sua vinculação” com os demais investigados, operadores, empresas de fachada e a compra de fazenda no Jalapão.Posicionamento de CarlesseEm relação ao parecer do Ministério Público Federal, o governador do Estado do Tocantins, Mauro Carlesse, afirma que o conteúdo apresentado pela acusação prossegue o mesmo, ou seja, sem incluir elementos que provam as ilações iniciais. Diferentemente dos documentos incluídos pela defesa de Mauro Carlesse, no ato da apresentação do pedido de reconsideração junto ao Superior Tribunal de Justiça, no último dia 29. Os advogados do governador Mauro Carlesse incluíram nos autos documentos que comprovam a origem lícita dos recursos movimentados em sua conta bancária, assim como de seus familiares, desconstruindo, portanto, as alegações do MPF. O governador Mauro Carlesse prossegue tranquilo e aguarda a decisão do STJ sobre o seu pedido de reconsideração, com o objetivo de seu retorno ao cargo de Governador do Tocantins.