Durante a operação “Baco”, realizada pela Polícia Federal no dia 14 de dezembro, como desdobramento da Operação Hygea, que investiga propinas cobradas de fornecedores do Plansaúde, atual Servir, chamou a atenção dos agentes da Polícia Federal uma planilha apreendida durante as buscas nos endereços ligados à Valor Engenharia, em Palmas, alvos do Mandado de Busca e Apreensão nº 000276/2021 expedido pelo ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O relatório da Polícia Federal após a busca e apreensão, assinado pelo delegado da Polícia Federal Diego Guimarães Teles Franco, que chefiou a equipe TO-05, tem uma observação em que os investigadores que encontraram a planilha a consideram "relevante". "Merece ser confrontado com outros elementos colhidos ao longo da presente investigação”, registraram os agentes ao sugerir a manutenção da planilha. O documento é um dos 9 itens encontrados pela Polícia Federal na sede da Valor Engenharia, do empresário João Ricardo Boaventura de Souza Bomtempo, 35 anos. A empresa é apontada pela Polícia Federal como uma das beneficiárias dos repasses de propinas cobradas de empresários da saúde que atendiam o Plano de Saúde dos Servidores (Plansaúde), que mudou de nome após o escândalo de propina tornar-se público, em 2019. A Valor Engenharia é dos oito alvos, entre pessoas físicas e jurídicas, que sofreram busca e apreensão no dia 14 de dezembro. Dentre todos os alvos, apenas o empresário Diego Augusto de Souza Honório, 40 anos, teve a prisão preventiva decretada. El ficou recolhido por dez dias na Casa de Prisão Provisória de Palmas e ganhou liberdade provisória, com monitoramento por tornozeleira eletrônica, no dia 24 de dezembro. Com ele a polícia apreendeu um Porsche Boxster e uma Mercedez C300. Atualmente, João Ricardo e Diego Honório têm ligação por meio do Residencial Califórnia, um empreendimento imobiliário na quadra 103 Sul criado em 2015, que tem como um dos administradores a MVB Participações, de João Ricardo. A PF aponta ainda que Diego Honório foi sócio da HB-10 Construções com João Ricardo. O arquivo retido pela Polícia Federal possui uma tabela contendo uma relação de possíveis nomes de deputados federais e estaduais e, ao lado, um valor numérico associado. Não há data nem qualquer título ou identificação da lauda, além da expressão manuscrita “300 bolas”. O documento lista dezenas de nomes de candidatos a deputado estadual e federal de diversos partidos. Consulta ao site da Justiça Eleitoral aponta que a eleição é de 2018. O ponto comum na relação diversificada de candidatos e partidos é a ligação com os então candidatos do PSB a deputado federal, Tiago Andrino e a governador, Carlos Amastha, presidente estadual do PSB. Uma das tabelas da planilha tem o título "estadual com Amastha" e traz 22 nomes de candidatos, com e duas colunas, com cabeçalho ilegível e, em ambas, o numeral "30", a maioria assinalado um "ok" a caneta. Outra traz indicação de dobradinhas, quando o candidato a deputado estadual se alia a candidato à Câmara dos Deputados. Nessa tabela, todas as dobradinhas são com Tiago Andrino. Carlos Amastha reagiu indignado à manutenção da planilha em meio a operação, um desdobramento da que levou ao afastamento do governador Mauro Carlesse (PSL). “Parece uma armação”, disse, após receber pelo celular as imagens citadas nesta matéria. “São adesivos bola de campanha”, afirma. Conforme a Justiça Eleitoral, a publicidade por adesivos da campanha de Carlos Amastha representou 10,5% do total. Em valores, o valor declarado é R$ 513,8 mil para esse tipo de despesa, que contou com 12 lançamentos. Carlos Amastha também remeteu para o JTo uma nota fiscal de número 2018000, 00000009. Com o código de verificação AINR-KMNS, emitida pela prefeitura de Palmas no dia 24 de agosto de 2018, aparece como prestador de serviço a DM Dias e como tomador "Eleição 2018 Carlos Enrique Franco Amastha Governador" e o total de R$ 182 mil. No item descrição dos serviços consta "adesivos bola 15 X 10 cm". “É uma falta de respeito a Polícia Federal e o Ministério Público Federal com a classe política, se prestar a juntar um documento desse sem qualquer investigação do se trata”, afirma o político. As despesas com adesivo do candidato Tiago Andrino em 2018 alcançaram R$14.236,10. Desse valor, há dois pagamentos que soma R$5.336,10 para a Lucy Comunicação, por adesivos "bola", declarados em duas faturas, nos dias 12 e 29 de setembro de 2018. O ex-vereador desconhece a planilha e afirma que jamais fez qualquer pedido aos envolvidos nem recebeu qualquer tipo de ajuda financeira. “Quero que isso seja esclarecido”. A defesa de Diego Honório e de João Ricardo, a cargo do advogado Maurício Haeffner optou por não comentar. “Neste momento nós não vamos comentar nada sobre a investigação nem a questão de delação porque ainda está em trâmite e há várias coisas que não tivemos acesso, então está muito nebulosa para a defesa e preferimos nos abster por enquanto.” Assim como os depoimentos dos donos do Hospital Oswaldo Cruz sobre a cobrança e o repasse de propinas deram sustentação para a Operação Hygea, no dia 20 de outubro de 2020, um dos motivos apontados na representação da Polícia Federal para a operação Baco é o depoimento de Marco Antônio de Sousa. Ele é um dos antigos sócios proprietários do Hospital Santa Thereza (HST) e UTI Santa Thereza (UST) e de Gilmar Braz da Rocha, responsável pela gestão Unimed Tocantins. O primeiro relatou ter passado propinas ao grupo do governador afastado na ordem de R$ 1.106.339,77 e o segundo, cerca de R$ 1,5 milhão. Conforme a PF, seriam apenas três os beneficiários da suposta propina, João Ricardo Boaventura de Sousa Bomtempo, a Valor Engenharia e Diego Augusto de Souza Honório.