Um representante do Movimento Brasil Livre (MBL) em Minas Gerais, Thiago Loureiro Dayrell Costa, de 24 anos, foi autuado em flagrante e vai responder pelo crime de injúria racial por chamar de "crioula" a cozinheira de um restaurante da Zona Sul de Belo Horizonte. O militante do MBL foi autuado ainda por vias de fato. Depois do pagamento de fiança de R$ 1 mil, foi liberado. A informação é da Polícia Civil de Minas Gerais.A ocorrência foi registrada na madrugada de ontem, 10, na Central de Flagrantes da corporação. Segundo o registro, a cozinheira agredida, Eliana da Silva, de 43 anos, tentou intervir depois de o representante do MBL jogar um cartão de banco no rosto da operadora de caixa Ariadna Matias Felipe, de 22 anos e dizer "cobra essa p... logo".O boletim de ocorrência feito pela Polícia Militar relata que, neste momento, o representante do MBL disse para Eliana: "não coloca a mão em mim, crioula". O gerente do estabelecimento, Eliezer Alves Rodrigues dos Santos, também de 22 anos, se aproximou, teria pedido calma ao militante e os dois começaram a brigar. A cozinheira tentou evitar a briga e, ainda segundo o boletim de ocorrência, teria sido agarrada pelo pescoço e chutada pelo integrante do MBL. Pessoas que estavam próximas separaram a briga.Em seu relato à polícia, Thiago Dayrell disse ter chegado ao restaurante com sua namorada, pedido uma cerveja e uma refeição. Perguntou quanto tempo demoraria e foi informado que o prazo seria de 10 minutos. Passados os dez minutos, disse, perguntou quanto tempo mais demoraria. Foi passado que mais 20 minutos. Pediu que a conta fosse fechada porque não esperaria mais. Foi ao caixa para pagar pela cerveja e reclamou do atendimento. Nesse momento, um garçom teria lhe dito "vá se f..., seu merda" e o teria jogado no chão para fora do restaurante.Ao Estado, hoje, 11, o representante do MBL afirmou que não chamou a cozinheira de "crioula" e que é a verdadeira vítima do episódio. Enviou fotos com marcas pelo corpo que teriam sido provocadas durante a briga no restaurante. "É uma acusação completamente falsa. É uma grande mentira", disse. O representante do MBL afirmou trabalhar em uma rede de pet shop da família. Thiago enviou uma nota redigida por seus advogados. O texto diz: "Sobre os fatos ocorridos na noite de 09/11/2019, a defesa de Thiago Dayrell informa que ele é inocente e é absolutamente falsa a versão de que ele teria praticado qualquer tipo de injuria racial". O acionamento da polícia militar ocorreu às 23h44 do dia 9.A nota afirma ainda que "a defesa irá obter acesso aos autos do inquérito policial e se colocará à disposição das autoridades para esclarecer os fatos. Desde já, informa que irá apresentar às autoridades vídeos e provas que comprovam a inocência de Thiago e também solicitará acesso às imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos da região e do Olho Vivo, que certamente demonstrarão que Thiago é a verdadeira vítima, tendo em vista as agressões físicas sofridas, cuja comprovação se dará por exame de corpo de delito já realizado no IML".O MBL em Belo Horizonte afirmou, também em nota, que o militante será expulso "caso a acusação apresente validade" e cita um vídeo que também foi repassado à reportagem pelo MBL. O movimento diz repudiar "a escalada de acusações mentirosas contra o coordenador Thiago Dayrell nas últimas 24 horas e que, "como se pode ver pelo próprio vídeo gravado, não há qualquer ofensa racial proferida pelo rapaz. Ao contrário. A agressão efetiva foi cometida pelos funcionários do estabelecimento contra ele, como ficou comprovado em boletim de ocorrência feito após o incidente, que traz fotos de marcas e escoriações provocadas pelas agressões".O vídeo, que parece ter sido gravado pelo próprio representante do MBL, mostra um bate-boca entre Thiago Dayrell e funcionários do restaurante. Em determinado ponto o militante indica que um dos trabalhadores o teria mandado se f... . O funcionário pede para que "baixe o tom de voz". Thiago responde "dá em mim então, sô". O militante em seguida diz, "vou pagar essa m... dessa conta. Me dá essa p... aí", diz o representante do MBL, para a caixa. Outro funcionário do restaurante rebate, "olha como você fala com a menina, p...". Na sequência, pelas imagens tremidas, começa o que parece ser a briga relatada no boletim de ocorrência.O MBL afirma na nota que reprova o "comportamento de Thiago em tomar parte em discussões baixas", e que "o expulsaremos caso a acusação apresente validade". A prova cabal do vídeo, porém, torna o argumento dos agressores extremamente frágil. A má-fé envolvida na acusação resta patente". Por fim, MBL afirma reiterar "o compromisso do Movimento Brasil Livre com as mesmas pautas da liberdade, autodeterminação e da igualdade de todos, de raça, sexo, orientação ideológica ou convicção, perante a lei e o Estado brasileiro. Temos uma história de defesa destas pautas e não tememos acusações levianas e maliciosas de quem se vale da pecha de 'racismo' para sabidamente calar adversários ideológicos".