"Existe hoje no Brasil uma incompreensão em relação ao papel das Forças Armadas, e essa incompreensão serve a interesses claramente golpistas", diz a comentarista de política e advogada Gabriela Prioli.Ela continua: "A retórica golpista é mais um sinal de fraqueza do Bolsonaro. Veja o desfile dos blindados em Brasília, deu vontade de rir! Não quero dizer que nós não devemos nos preocupar com essas falas dele, mas precisamos ficar atentos para não fortalecer quem está fraco".Embora as ações do governo federal sejam assunto incontornável dos seus comentários, especialmente nas redes sociais, o recém-lançado "Política É para Todos", o primeiro livro dela, não é exatamente uma reflexão sobre os anos Jair Bolsonaro.Trata-se de um livro curto de introdução à política, de leitura fluente, com temas atemporais ou que fazem parte da nossa sociedade há décadas. Entre os assuntos, estão as configurações de uma República federativa; a finalidade dos partidos; as atribuições de União, estados e municípios; e o financiamento das eleições. Os motes são perenes, mas os exemplos dão temperatura à obra.No capítulo sobre as funções do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, por exemplo, Prioli dedica as seis páginas finais à tese defendida por bolsonaristas de que a Constituição permite que as Forças Armadas atuem como um poder moderador, uma espécie de árbitro em caso de conflito entre os demais poderes.Depois de um breve histórico sobre a presença constante dos militares na vida política brasileira, a autora mostra como surgiu essa interpretação de "intervenção militar constitucional" e as bases frágeis que a sustentam. Ela conclui: "Carece de qualquer fundamento jurídico a ideia de que o texto constitucional permitiria um papel moderador para as Forças Armadas".Essa associação de temas duradouros e exemplos recentes também aparece no capítulo Autoritarismo e Democracia: Quais as Diferenças?.Ao final dessa parte, Prioli faz boa introdução ao pensamento de cientistas políticos contemporâneos que discutem as razões para ascensão de líderes autocratas no século 21, como Steven Levitsky ("Como as Democracias Morrem", com Daniel Ziblatt) e Yascha Mounk ("O Povo contra a Democracia").Prioli não é um Felipe Neto, mas ostenta números expressivos. Tem cerca de 2 milhões de seguidores no Instagram, mais de 1 milhão no Twitter e por volta de 750 mil no YouTube.Os debates com aqueles que a acompanham no mundo online contribuíram para a elaboração de "Política É para Todos", diz ela, que foi colunista da Folha de junho de 2020 a abril de 2021.Mas deu um trabalho e tanto levar para o livro o estilo claro e descontraído com o qual ela se notabilizou na CNN, nas redes sociais e nos cursos que ministra."É mais fácil ser informal oralmente, no YouTube, por exemplo. O livro nasceu mais formal, eu venho dessa tradição do direito. Depois fui mexendo para deixá-lo mais didático e informal.""Simples sem ser simplório", ela repete como um mantra.Prioli conta ainda que vai estrear um programa de entrevistas neste segundo semestre na CNN. Desta vez, no entanto, não terá a política como tema principal. "Vamos falar sobre diversos assuntos, com o objetivo de abordar aspectos da vida do convidado que a gente normalmente não vê."