O presidente Jair Bolsonaro editou medida provisória permite ao governo escolher de reitores temporários para universidades federais durante o período da pandemia do novo coronavírus no País. A MP 979/2020, que está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira, 10, elimina a necessidade do processo de consulta pública ou lista tríplice para embasar a definição dos nomes. Na prática, o presidente poderá intervir diretamente no comando e restringir a autonomia das instituições. A medida pode afetar 16 universidades federais, o que representa 25% do total de instituições, cujos mandatos dos reitores acabam até o fim do ano. Entre elas, estão a Universidade de Brasília (UNB), a Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de São Carlos (UFSCAR) e do Paraná (UFPR). Atualmente, há 68 instituições, mas só 63 delas têm processos seletivos. As outras cinco foram criadas recentemente e estão com reitores temporários.O texto diz que "não haverá processo de consulta à comunidade, escolar ou acadêmica, ou formação de lista tríplice para a escolha de dirigentes das instituições federais de ensino durante o período da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia da covid-19", determina o ato.A medida pegou de surpresa os reitores das federais. "Ela revela uma intenção de intervenção. A MP atenta de forma absurda contra a democracia do nosso País e a autonomia constitucional das nossas universidades", diz o presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Federal da Bahia (UFBA), João Salles. Ele defende que a MP seja devolvida pelo Congresso e que os mandatos dos reitores atuais sejam prorrogados. Há ainda, segundo ele, a possibilidade de se realizar eleições online.As cinco frentes ligadas à educação no Congresso já se articulam para que a MP seja devolvida ao governo. Em nota de repúdio, os parlamentares chamaram o texto de "mais um ato arbitrário, antidemocrático e inconstitucional do governo federal". "A vigência dessa MP mesmo que por um dia já é uma afronta e um risco", diz a deputada Margarida Salomão (PT-MG), da coordenação da Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades Federais. A Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação (Comex/MEC), na Câmara, também divulgou nota pedindo a devolução da MP.A alegação jurídica é que a MP viola o artigo 62, § 10 da Constituição Federal, que diz que é não se pode reeditar medida provisória que tenha sido rejeitada ou perdido sua eficácia. Eles se referem à MP 914, de dezembro de 2019, que também falava sobre eleições nas federais e acabou caducando.Já há, inclusive, instituições que fizeram seu processo seletivo online recentemente, como a Universidade Federal do Sudeste e Sul do Pará (Unifesspa). Outras estão começando as articulações para as eleições. Seis dos 16 reitores que terminam o mandato este ano precisam deixar o cargo em setembro ou outubro.A MP delega ao ministro da Educação a escolha de reitores temporários das universidades federais durante a pandemia e, quando cabível, vice-reitores temporários e até diretores de unidades. A regra vale também para os institutos federais e o Colégio Pedro II.Segundo o reitor da UFPR, Ricardo Fonseca, dirigentes temporários que não foram escolhidos pela comunidade não têm ligitimidade, o que prejufica muito o trabalho nas instituições. "A MP causa muita apreensão e perplexidade porque ela afeta algo que é central nas universidade que é a escolha de seus dirigentes." Para ele, a medida tem fragilidades jurídicas porque afeta tanto o princípio da autonomia quanto o da gestão democrática das instituições, ambos previstos pela Constituição.De acordo com o ato, as regras se aplicam quando acabar o mandato dos atuais dirigentes, desde que isso ocorra no período de emergência de saúde e no caso de os processos de seleção do substituto já não terem sido concluídos."Enquanto o governo pressiona para a retomada das aulas, diz que é impossível fazer a consulta para eleição de reitor. É um paradoxo", diz o presidente da Andifes. Ele diz que apesar de as aulas estarem suspensa nas instiuições, com algumas iniciativas remotas, as federais não estão paradas. Segundo a entidade, cerca de mil pesquisas relacionadas ao coronavírus estão sendo feitas nas instituições nesse momento.Esta não é a primeira vez que Bolsonaro altera a regra para a escolha de reitores de universidades federais. No fim do ano passado, o presidente editou outra MP que fixava pesos diferentes de voto para professores, funcionários e alunos na eleição dos reitores. Na prática, isso restringia a autonomia das instituições na definição do processo – muitas adotam paridade na votação, sob justificativa de um modelo mais democrático. A medida, no entanto, não foi aprovada pelo Congresso e perdeu a validade.A MP que possibilita a indicação de reitores temporários já está em vigor. No entanto, para também não perder a validade, precisa ser votada pela Câmara e pelo Senado no prazo de 120 dias. Para o Instituto Educatores, que reúne ex-secretários de Educação, a MP é uma "ação descabida, antidemocrática, autoritária e desprovida de qualquer necessidade administrativa".