Em Goiânia na manhã deste domingo (23), o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, comentou o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) da última quinta-feira (20) sobre o dossiê contra 579 servidores federais e estaduais identificados como “antifascistas”. Durante pregação em igreja da capital, disse que continua “com autoridade moral”, após o que chamou de “semana abençoada dentro de um mês muito difícil.” Mendonça foi alvo direto do pedido de abertura de inquérito feito pela Rede Sustentabilidade ao STF no fim de julho. O partido solicitou averiguação de eventual crime cometido pelo ministro devido ao monitoramento de opositores do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O dossiê em questão foi produzido pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi), subordinada à pasta comandada por Mendonça. Pastor da Igreja Presbiteriana Esperança em Brasília, André foi convidado para fazer duas pregações na Igreja Fonte da Vida, em Goiânia. A igreja é liderada pelo apóstolo César Augusto, pai do ex-deputado federal Fábio Sousa (PSDB), que é bispo da denominação. Os dois estavam presentes. Durante sua primeira pregação, que durou aproximadamente uma hora e teve tom testemunhal, Mendonça disse que “as evidências mostravam” seu não envolvimento na elaboração do dossiê. Já na segunda pregação, o ministro afirmou ter “convicção” de que não fez “nada errado”. “Mas uma avalanche se pôs sobre mim e minha família. Toda dúvida de conduta. Se fiz dossiê, se mandei elaborar um dossiê, se tenho parte com tal de dossiê. Tenho convicção do que fiz e do que não fiz”, relatou. “POUPADO” Após o julgamento, ocorrido na quinta-feira (20), e no qual o STF decidiu por 9 votos a 1 pela suspensão de qualquer ato do Ministério da Justiça que esteja relacionado à produção ou compartilhamento de informações sobre pessoas ou servidores, a análise do governo Bolsonaro foi de que Mendonça foi “poupado” nos votos proferidos pelos ministros. Em seu voto, o ministro Edson Fachin, por exemplo, afirmou que o dossiê começou a ser produzido pela Seopi no dia 24 de abril, mesmo dia do pedido de demissão do ex-ministro Sérgio Moro, que denunciou à imprensa naquele dia a tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal, além da cobrança de acesso a relatórios de inteligência da corporação. Portanto, a produção teria começado antes da nomeação de Mendonça à pasta, feita quatro dias depois. Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, além de entregar o relatório ao STF, antecipando-se ao julgamento, Mendonça manteve conversas reservadas por telefone, dias antes do julgamento, com os ministros do Supremo para explicar sua versão dos fatos e evitar mais desgastes entre a Corte e o governo federal – Mendonça é cotado para o STF, na vaga de Celso de Mello, que se aposenta em novembro; Bolsonaro falou, em uma igreja em Goiânia, em 2019, que deve escolher um ministro evangélico para a função. Além de Mendonça, há outros dois pastores ministros do governo Bolsonaro: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Milton Ribeiro (Educação). Os dois também foram citados por Mendonça em sua pregação. “São três pastores (no governo) e nossa responsabilidade é muito grande, porque não representamos a um governo, mas a um Deus. E daí uma responsabilidade quando questionam a nossa conduta. Se fizemos o certo ou o errado.”