Maior eficiência nas comunicações de sensores e redes usadas para análise de dados em cidades inteligentes, melhorando o bem-estar das populações; impulso significativo na acurácia para produção de novos fármacos, em meios de diagnósticos e tratamentos de doenças, e otimização da proteção de sistemas financeiros em constante ameaça de hackers interessados em obter vantagens futuras ao ter acesso a dados sigilosos. Esses são alguns dos impactos positivos na cibersegurança com a rápida evolução da computação quântica, conhecimento que permite a resolução de problemas complexos, não solucionados pelas máquinas atuais. 
 
Mais que resolvê-los, a expectativa da comunidade científica e dos entusiastas é de que os métodos de entrelaçamento e superposição de dados da computação quântica possam entregar retornos confiáveis em uma velocidade cada vez maior. Para isso, especialistas se esforçam em desenvolver processos eficientes e aprimorar algoritmos capazes de minimizar ou reduzir a zero erros operacionais, hoje chamados de ruídos. 
 
Por outro lado, a mesma tecnologia tende a estimular ainda mais a criatividade de cibercriminosos interessados em conseguir vantagens ao invadir sistemas ou mesmo interromper o fluxo normal de prestação de serviços de instituições públicas ou privadas. Atualmente, crimes de ransomware (sequestro de dados) e DDoS (Distributed Denial of Service, que deixa um site ou serviço indisponível) com o objetivo de pedir resgate, geralmente em criptomoedas, são constantes, cada vez mais arquitetados. 
 
Essas investidas levam em conta as milhões de pessoas no mundo usando, simultaneamente, redes de internet e satélites e a vulnerabilidade crescente de sistemas e processos de incontáveis atividades cotidianas pouco ou nada protegidas. Precisamos estar preparados e não relegar essa tarefa exclusivamente a cargo de empresas ou governos, diante do quanto interferem diretamente e indiretamente na rotina de indivíduos desde a mais corriqueira até a mais complexa situação. 
 
Basta lembrar do apagão na Europa no final de abril que deixou partes da Península Ibérica sem energia elétrica, desligou semáforos e tumultuou o dia a dia desses moradores. Ou mesmo do impacto do cancelamentos de voos em função de “falhas” provocadas por interferências externas no sistema de empresas que organizam o fluxo e a logística das aeronaves pelo mundo afora. 
 
Quebras de criptografias vigentes e ataques retrospectivos (coleta de dados criptografados agora para acessá-los adiante) são emergentes cenários que as múltiplas áreas da ciência, indústria, saúde, serviços bancários e de finanças, terão que lidar em curto e médio prazos, a partir do avanço da computação quântica. Sobretudo se forem dominados por grupos dispostos a explorar a faceta perversa das aplicações dessa tecnologia, sua velocidade de processamento, habilidade de decodificação e capacidade de alcance. 
 
Cabe lembrar, entretanto, que a consolidação para modelos de computadores quânticos ainda deve levar alguns anos e exigir ajustes complexos, investimentos e capacitações contínuas de países e empresas. Esse ciclo vai exigir a modernização de sistemas e algoritmos e o ajuste dos atuais modelos para essas novas especificidades. 
 
Daí a importância de empresas e organizações se prepararem com seriedade necessária para trocar informações, aprimorar modelos e resolver lacunas. E esse processo passa, necessariamente, por priorizar quantidade e qualidade na formação de profissionais especializados em computação quântica, o suficiente para agregar ao contexto brasileiro os avanços e soluções eficientes e sustentáveis, dessa tecnologia. Na atualidade, podemos lamentar pela escassez crítica de talentos em cibersegurança no mundo, mas tentar contribuir de alguma forma para mudar esse panorama o mais depressa possível. Seja cobrando medidas governamentais, contribuindo com sistemas de reciclagem e desenvolvimento profissional, ou se inspirando em condutas de carreiras e dos que estão em cargos acima do que ocupa atualmente. 
 
Gabriel Gomes de Oliveira&nbsp;é membro do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos) e professor colaborador da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC-Unicamp) e pesquisador do CTI Renato Archer/CNPq.

Quer ter seu artigo ou crônica publicado no Jornal do Tocantins? Envie para o e-mail: contato@jornaldotocantins.com.br

Os artigos publicados não refletem a opinião do Jornal do Tocantins. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.&nbsp;

O impacto da computação quântica na cibersegurança e em outros setores da economia

Opinião

Opiniao - título

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Matéria - Opiniao - JTO

Gabriel Gomes de Oliveira

O chuveiro elétrico está presente em praticamente todas as casas brasileiras e tornou-se símbolo de conforto e praticidade. No entanto, esse dispositivo carrega uma fama ambígua: é, ao mesmo tempo, herói e vilão do setor elétrico nacional.

Seu lado heróico é evidente. A facilidade de instalação, sem necessidade de grandes obras civis, o baixo custo de aquisição e a simplicidade na manutenção transformaram o banho quente em uma realidade acessível para milhões de brasileiros. Mesmo em moradias populares e zonas rurais, o chuveiro elétrico democratizou o conforto térmico, levando dignidade e qualidade de vida a uma parcela significativa da população.

No entanto, o sucesso tem seu preço. O lado vilão do chuveiro elétrico surge no impacto que seu uso massivo provoca sobre a estrutura do sistema elétrico. O equipamento responde por cerca de 20% da demanda nacional de energia nos horários de pico, especialmente entre 18h e 21h, quando a maioria das famílias está em casa e utiliza simultaneamente diversos aparelhos. Esse padrão de consumo obriga o sistema a operar com capacidade ociosa fora dos picos e, nos momentos de maior demanda, recorrer ao acionamento de usinas termelétricas — mais caras e poluentes. O resultado é o aumento do custo de operação, o encarecimento das tarifas e a pressão por investimentos constantes em geração, transmissão e distribuição de energia.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/keynes-o-homem-que-salvou-o-capitalismo-e-redefiniu-o-mundo-1.3288599">Keynes: o homem que salvou o capitalismo e redefiniu o mundo</a> 
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Além disso, o chuveiro elétrico é um equipamento de baixa eficiência energética. Converte eletricidade diretamente em calor, sem mecanismos de reaproveitamento térmico ou controle inteligente. Embora modelos mais recentes ofereçam melhorias pontuais, como ajuste de potência e sensores de temperatura, a evolução tecnológica ainda é limitada, especialmente quando comparada a soluções adotadas em outros países, como aquecedores a gás, bombas de calor ou sistemas de aquecimento central.

Frequentemente escolhido pelo baixo custo inicial e pela praticidade, o chuveiro elétrico tornou-se, em escala nacional, um desafio estrutural. O planejamento energético do país precisa lidar com esse paradoxo: o conforto individual proporcionado por um banho quente contrasta com o custo coletivo de manter o sistema preparado para atender a uma demanda concentrada em poucas horas do dia.

Para enfrentar esse desafio, é necessário buscar alternativas que conciliem inclusão social, eficiência e sustentabilidade. O incentivo ao uso de aquecedores solares — especialmente em projetos habitacionais públicos — é uma medida promissora. Campanhas de conscientização sobre o uso racional da energia e políticas tarifárias que desestimulem o consumo nos horários de pico também podem contribuir significativamente.

A tecnologia oferece caminhos inovadores. Com a expansão da automação residencial e da chamada Internet das Coisas, é possível imaginar chuveiros inteligentes, integrados à rede elétrica, capazes de otimizar o consumo de energia conforme a disponibilidade do sistema. No entanto, nenhuma solução será plenamente eficaz sem uma mudança cultural no modo como lidamos com a energia no cotidiano.

O chuveiro elétrico é, simultaneamente, uma conquista da modernidade e um desafio para o futuro. Ele representa o paradoxo do conforto: aquilo que melhora a vida do indivíduo pode, em larga escala, sobrecarregar as estruturas que sustentam a coletividade. Encarar esse dilema com consciência e criatividade é fundamental para construir um desenvolvimento energético mais equilibrado e sustentável no Brasil.

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Chuveiro elétrico: de herói a vilão

Salatiel Soares Correia

O economista americano John Kenneth Galbraith, ainda jovem, certa vez descreveu o impacto de seu primeiro encontro com John Maynard Keynes como um momento quase místico. “Foi como se o apóstolo São Paulo encontrasse o pároco de uma aldeia”, disse, não com ironia, mas com reverência. O contraste era visível: Galbraith, então promissor, vislumbrou em Keynes uma figura maior que a vida — altiva, penetrante, sedutora pela inteligência e pela segurança de quem sabia que estava moldando a história em tempo real.

A cena, ocorrida nos anos trinta em Cambridge, era mais do que um encontro entre dois economistas. Era o reconhecimento de um novo messias da razão, em uma época em que o mundo capitalista cambaleava após o colapso da Bolsa de Nova York em 1929. Milhões de trabalhadores perderam seus empregos, empresas ruíram, bancos faliram. A grande promessa do liberalismo clássico — de que o mercado tudo ajustaria — revelou-se impotente diante do caos social. O laissez-faire, outrora símbolo da liberdade econômica, tornava-se sinônimo de inércia diante do sofrimento.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/o-olhar-de-celso-furtado-sobre-o-subdesenvolvimento-1.3286005" target="_blank">O olhar de Celso Furtado sobre o subdesenvolvimento</a> 
<a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/o-impacto-da-computac-o-quantica-na-ciberseguranca-e-em-outros-setores-da-economia-1.3284642" target="_blank">O impacto da computação quântica na cibersegurança e em outros setores da economia</a></div>

Foi nesse contexto que emergiu a figura de John Maynard Keynes, já conhecido como brilhante teórico, mas ainda subestimado por muitos ortodoxos. Em 1936, publicou sua obra-prima: Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda Com clareza e ousadia, Keynes desmontou os pilares do pensamento econômico dominante. Mostrou que, em tempos de crise, a economia podia estacionar em um patamar de desemprego elevado — e que só o gasto público deliberado poderia reativar o ciclo virtuoso da produção e do consumo. O investimento do Estado, portanto, não era uma ameaça ao capitalismo — era sua salvação.

Franklin D. Roosevelt, nos Estados Unidos, e posteriormente os países europeus do pós-guerra, adotariam políticas inspiradas nos princípios keynesianos. O New Deal, a reconstrução do Estado de bem-estar social, os investimentos em infraestrutura, saúde, educação — tudo isso tinha a marca de Keynes, mesmo que nem sempre creditada diretamente a ele. Na prática, o capitalismo foi reformado sob orientação keynesiana, tornando-se mais equilibrado, socialmente atento e capaz de responder às necessidades das massas.

Mas Keynes era mais que um economista. Era um homem de múltiplos interesses e rara sensibilidade estética. Participava do célebre Grupo de Bloomsbury, um círculo de intelectuais radicais e brilhantes que incluía nomes como Virginia Woolf, E. M. Forster, Lytton Strachey e Clive Bell. Discutiam política, filosofia, artes plásticas, literatura — e viviam como se a liberdade fosse o princípio orientador da existência. Em Bloomsbury, o amor era fluido, os papéis de gênero eram desafiados, e a sinceridade emocional, um valor sagrado.

Em 1925, Keynes casou-se com Lydia Lopokova, bailarina russa do célebre Ballets Russes de Diaghilev. Ela era, para muitos, o oposto do mundo intelectual de Bloomsbury: exuberante, espontânea, menos cerebral e mais intuitiva. Mas foi justamente esse contraste que encantou Keynes. O casamento foi feliz, duradouro, e profundamente afetuoso. Amigos próximos diziam que aquela união reunia dois mundos: o talento intelectual e a beleza corporal; o rigor analítico e o lirismo artístico. Para alguns, era como ver a mente de Platão abraçando a dança de Isadora Duncan.

Keynes morreu em 1946, pouco depois da vitória aliada. Não chegou a ver plenamente o impacto transformador de suas ideias no mundo ocidental. Mas o que deixou foi uma herança intelectual profunda: a crença de que a economia deve servir à sociedade, e não o contrário; que o desemprego em massa não é uma fatalidade, mas uma escolha política evitável; e que o Estado, longe de ser um inimigo do mercado, pode ser seu melhor parceiro.

John Maynard Keynes foi, sem sombra de dúvida, o maior economista do século XX. Reformulou os fundamentos da ciência econômica, salvou o capitalismo de seu colapso, inspirou políticas públicas duradouras e mostrou que um sistema só é sustentável quando serve ao bem-estar de todos. Pensador rigoroso, homem sensível, espírito livre — Keynes foi a combinação rara entre razão e imaginação, cálculo e compaixão. Sua obra permanece não apenas como um marco teórico, mas como um farol para os que acreditam que a economia deve estar a serviço da vida.

Se Galbraith o viu como um apóstolo diante de um discípulo, o mundo o reconheceu como aquilo que foi: o arquiteto de uma nova era.

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Keynes: o homem que salvou o capitalismo e redefiniu o mundo

O sonho de cursar Medicina, muitas vezes, vem acompanhado de um desafio financeiro significativo. A realidade dos custos da graduação, com mensalidades que podem ultrapassar os R$ 10 mil por mês, faz com que muitos estudantes recorram ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) como meio de viabilizar a tão sonhada formação médica.

No entanto, para muitos profissionais, a alegria da conquista do diploma logo se vê ofuscada pela preocupação com a dívida acumulada durante os anos de faculdade. O que poucos sabem é que, especialmente para médicos, a legislação brasileira prevê mecanismos legais que podem reduzir significativamente o saldo devedor do FIES, permitindo um alívio real no planejamento financeiro desses profissionais.

Essa possibilidade não é nova e tem amparo direto na Lei nº 10.260/2001, que regula o FIES, além de portarias e atos normativos complementares. Desde 2010, o programa passou a prever o abatimento de parte da dívida para médicos que atuam em regiões de maior vulnerabilidade social, em unidades públicas de saúde e no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é duplo: de um lado, promover o acesso à saúde em locais com escassez de profissionais e, de outro, viabilizar que esses médicos consigam quitar sua dívida de forma mais justa.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/decis-o-da-justica-reforca-protec-o-ao-produtor-rural-banco-deve-acionar-seguro-antes-de-cobrar-divida-no-tocantins-1.3276831">Decisão da Justiça reforça proteção ao produtor rural: banco deve acionar seguro antes de cobrar dívida no Tocantins</a> 
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<h2>Entenda o benefício:</h2>

O médico que integra uma equipe de Saúde da Família, atua em unidades básicas de saúde situadas em regiões previamente definidas pelo Ministério da Saúde, ou em localidades de comprovada vulnerabilidade socioeconômica, pode obter o abatimento de 1% ao mês sobre o saldo devedor consolidado do financiamento. Isso significa que, para cada ano de trabalho nessas condições, o médico tem uma redução de 12% na sua dívida, o que, ao longo dos anos, representa um impacto expressivo no valor total devido.

Importante destacar que, além da atuação na Estratégia Saúde da Família, a legislação também contempla os médicos militares das Forças Armadas, desde que lotados em localidades com carência desses profissionais. Outro ponto relevante foi a inclusão, durante a pandemia de Covid-19, de uma modalidade excepcional de abatimento para profissionais da saúde que atuaram na linha de frente do SUS no enfrentamento à emergência sanitária, independentemente de estarem vinculados a programas específicos ou de possuírem carga horária mínima.&nbsp;

O caminho para obtenção desse benefício pode ocorrer tanto na esfera administrativa quanto, se necessário, na via judicial. A solicitação administrativa, embora possa parecer simples, exige uma série de documentos específicos, especialmente a declaração de atuação emitida pela Secretaria Municipal de Saúde ou pela unidade pública em que o médico trabalhou. Essa declaração precisa atestar de forma clara e precisa o tempo de serviço, a função desempenhada e o local de atuação, além de seguir os critérios estabelecidos pela legislação.&nbsp;

Na prática, um dos grandes desafios enfrentados pelos médicos é justamente a burocracia imposta por alguns órgãos públicos, que muitas vezes não estão preparados para emitir corretamente esses documentos. Isso acaba gerando indeferimentos, exigências excessivas ou até omissões de informações fundamentais. Além disso, é comum encontrar profissionais que tiveram seu pedido negado ou que receberam resposta incompleta, abrindo, assim, espaço para a judicialização da questão.&nbsp;

Outro ponto relevante diz respeito aos contratos mais antigos do FIES, firmados em condições que, atualmente, podem ser questionadas juridicamente, seja por aplicação de juros compostos (capitalização indevida), seja por práticas contratuais consideradas abusivas à luz do Código de Defesa do Consumidor. A análise jurídica personalizada do contrato permite identificar essas irregularidades e buscar, na Justiça, não só a redução&nbsp;do saldo devedor, mas também a correção de cláusulas que possam ter sido aplicadas de forma prejudicial ao contratante.&nbsp;

Portanto, é fundamental que o médico que enfrenta dificuldades com sua dívida do FIES tenha clareza de que existem, sim, caminhos jurídicos seguros, legítimos e eficazes para enfrentar essa situação. A redução do saldo devedor não é uma promessa vazia ou uma solução milagrosa. Trata-se de um direito previsto em lei, que precisa ser corretamente interpretado e aplicado, mediante análise criteriosa de cada caso.

A atuação de um advogado especializado faz toda a diferença nesse contexto. Não se trata apenas de protocolar um pedido, mas de conduzir uma estratégia jurídica que leve em consideração tanto os aspectos administrativos, quanto eventuais demandas judiciais necessárias, assegurando que o médico não apenas reduza sua dívida, mas o faça de forma correta, segura e definitiva.

Diante disso, é importante que o profissional da saúde busque orientação qualificada, evitando promessas fáceis e soluções genéricas que muitas vezes ignoram as especificidades do seu caso. A dívida do FIES não precisa ser um obstáculo permanente na vida do médico. Com o suporte adequado, é possível transformá-la em uma questão resolvida, permitindo que o profissional concentre seus esforços no que realmente importa: cuidar de vidas e construir sua carreira com estabilidade e segurança financeira.

Daniela Junqueira Andrade é a dvogada com foco em Direito Médico, graduada em Direito pela Universidade Católica do Tocantins. Atua na assessoria jurídica de profissionais da saúde, com ênfase em responsabilidade civil, contratos médicos e estratégias de prevenção de riscos jurídicos na prática clínica.

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FIES para médicos: estratégias legais para reduzir sua dívida

Daniela Junqueira Andrade

Qual recado você deixa para aqueles que pensam em ser professor?

Essa foi a última de muitas perguntas direcionadas a mim, em uma entrevista recente, feita por uma estudante de Letras, para o seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

Era uma terça-feira à tarde, quente, como são os dias tocantinenses. Terminei minha última aula, caminhei em direção à biblioteca da escola, onde aconteceria a entrevista.

Enquanto eu atravessava o pátio do colégio, para ir ao encontro da futura professora e responder as perguntas, que ainda nem imaginava quais seriam, pensei sobre o meu papel enquanto professor.

Quase duas décadas já haviam se passado, desde que pisei pela primeira vez em uma sala de aula, como professor.

Após formado, vieram as primeiras dificuldades: firmar na profissão, entrar para o mercado de trabalho. Há muitos profissionais formados, especialmente em áreas como Letras, História, Geografia, o que torna o mercado competitivo.

Eu rodava de moto pelas ruas de Goiânia, de colégio em colégio, com um sonho na cabeça e, muitas vezes, com o meu filho pequeno na garupa, deixando currículos, os quais, acredito, nem sequer foram lidos.

No primeiro emprego, a luta para se firmar, não ser dispensado, afastar o fantasma do desemprego. Muitos recém-formados sentem-se inseguros diante da sala de aula, do planejamento, da gestão de sala e da aceitação pela turma, o que não foi diferente comigo.

No início, acreditava que o maior desafio seria dominar os conteúdos e saber compartilhá-los com maestria. Sempre, antes de iniciar qualquer aula, havia o receio de surgir uma pergunta difícil e eu não saber respondê-la.

Com os anos, compreendi que ser professor era bem mais complexo do que dominar conteúdo. São muitos os desafios. Entre eles: saber se comunicar, ouvir, motivar, manter um bom relacionamento, lidar com a inclusão e conflitos, pressão por resultados, aceitar as próprias limitações, lidar com a precarização da profissão, a busca por saúde mental e valorização.

Tudo isso, eu também disse durante a entrevista. Porém, com cuidado, claro, para não parecer cético. Pois a minha intenção não era ser pessimista, mas ser realista e alertar para os desafios enfrentados por milhares de professores todos os dias nesse imenso país.

Cheguei até a biblioteca, abri a porta e entrei. Ao fundo, entre duas estantes de livros, sentada em uma cadeira, estava a entrevistadora, sorridente, simpática. Sobre a mesa, um gravador, um caderno e canetas. Antes de me sentar, pensei, será uma excelente professora.

Ao terminar as perguntas, ela disse:

– Qual recado você deixa para aqueles que pensam em ser professor?

– Que tenham resiliência, se reinventem sempre. O desgaste emocional é real, por isso, tenham momentos de descanso, trabalhe em equipe, para que o fardo seja mais leve.

Haverá dias difíceis, mas lembrar que você pode transformar vidas dará sentido à jornada. Somos a ponte entre o saber e o sonhar. Nunca se esqueçam, trabalhamos com sonhos. Não será fácil, mas será nobre e gratificante.

Paulo Martins é professor, escritor, mestre em Letras, autor dos livros “Cemitério das bonecas e outros contos (2022)” e “Vamos conversar: crônicas” (2017).

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