O Brasil vive uma euforia em torno da energia solar. Painéis fotovoltaicos se multiplicam em telhados, sítios, comércios e indústrias, compondo uma paisagem que parece anunciar o triunfo da tecnologia limpa. Hoje, a fonte solar já responde por mais de 55 gigawatts de capacidade instalada e ocupa o segundo lugar na matriz elétrica brasileira, atrás apenas das hidrelétricas. É um avanço inegável, mas que vem acompanhado de um perigoso equívoco: o fetichismo da energia solar. Trata-se da crença de que o sol resolverá, sozinho, os desafios do setor elétrico. Ocorre que essa fonte é intermitente, depende do clima e desaparece justamente nas horas em que o consumo mais cresce. O sistema elétrico nacional, acostumado a receber energia em fluxo único das grandes usinas para as redes de distribuição, agora enfrenta um movimento contrário: milhões de microgeradores injetando energia simultaneamente. O resultado é um conjunto de desequilíbrios — variações de tensão, sobrecargas, desligamentos automáticos — que tornam a operação mais complexa e a manutenção mais onerosa. A própria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o Operador Nacional do Sistema (ONS) já reconhecem a necessidade de novas regras para controle remoto e até cortes pontuais de geração solar em horários de sobreoferta.