Inegavelmente, o ensino de matemática é um dos desafios imediatos que o país precisa enfrentar se pretendemos ter algum protagonismo nesse mundo marcado por transformações tecnológicas cada vez mais impactantes no nosso dia a dia, como a Inteligência Artificial. Os resultados da última avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes dão uma ideia do tamanho do desafio: apenas 27% dos estudantes brasileiros avaliados conseguem identificar como uma situação simples pode ser representada matematicamente – a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é 69%.

Diante de tamanho desafio, é fundamental que os gestores de políticas públicas se questionem seriamente sobre que caminhos tomar para transformar a realidade do ensino de matemática no país, no Tocantins e, em particular, no município de Palmas. Nessa perspectiva, uma pista do que fazer pode ser encontrada no documento O cenário do ensino de matemática no Brasil: o que dizem os indicadores nacionais e internacionais produzido pela organização Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional.

O referido documento traz, entre outras coisas, evidências de que a participação de escolas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) promove uma elevação na qualidade do ensino que se reflete em incremento nas notas de avaliações nacionais de larga escala, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Esses resultados corroboram estudos anteriores que podem ser encontrados no próprio site da OBMEP, na aba “Quem somos”, seção “Estudos sobre a OBMEP”.

E o momento não poderia ser mais oportuno para falar sobre OBMEP e o Ideb, uma vez que nessa sexta-feira, 19/12/2024, foram divulgados os premiados da 19ª edição dessa olimpíada e, como em anos anteriores, fica evidente que não basta inscrever a escola e aplicar as provas sem uma preparação adequada para tanto. Nos anos de 2022 e 2023, a E. M. Darcy Ribeiro se destacou regionalmente nessa competição olímpica obtendo nas duas edições 28 premiações – quatro a mais que a E. M. Anne Frank, a mais premiada do município em todas as edições do certame.

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Nas duas edições anteriores da OBMEP a E. M. Darcy Ribeiro desenvolvia ao longo do ano um projeto de treinamento intensivo voltado a essa competição. Em 2024, esse projeto de treinamento passou a ser desenvolvido na E. M. Henrique Talone e, sim, os resultados parecem indicar que não basta se inscrever, é preciso dedicar-se à preparação: obtivemos vinte e sete premiações. O maior número de premiações do estado.

Nesse ano, na E. M. Henrique Talone foram ministradas mais de 70h de treinamento, encontros de até 2h no contraturno e finais de semana. As atividades de treinamento se iniciaram muito antes da prova da primeira fase: em muitas escolas é comum que os alunos fiquem sabendo das provas de primeira e segunda fase na semana de sua aplicação. A prova da segunda fase é aplicada em um sábado e o índice de comparecimento geral de nossos alunos à prova da segunda fase foi superior a 88% e dos alunos do nível 1, 6º e 7º anos do ensino fundamental, foi de 100%: o que evidencia o engajamento das famílias e dos alunos.

Como em todo ano de Ideb, certamente o início do ano letivo de 2025 nas escolas dará lugar às discussões sobre o que fazer para que se melhorem os índices das escolas. Que tal partir de evidências? Se houver uma coordenação de esforços a partir da Secretaria Municipal da Educação, priorizando a criação de grupos de treinamento com a previsão de carga horária para isso, é provável que se consiga elevar a outro patamar a Educação de Palmas. Obviamente, grupos de treinamento para OBMEP sozinhos são insuficientes, mas, certamente temos muito a contribuir.

Rodrigo Mota Marinho é professor de matemática da Escola Municipal Henrique Talone e treinador da Equipe de Matemática Olímpica HTP.

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Como a OBMEP pode ajudar as escolas municipais de Palmas em ano de construção do Ideb?

Opinião

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Matéria - Opiniao - JTO

Rodrigo Mota Marinho

Vivemos na era do amor líquido, onde os laços são frágeis, os encontros cada vez mais imediatos — e os desencontros, quase inevitáveis.

Dados do Registro Civil 1 mostram que em 2022, foram registrados 970 mil casamentos e 420 mil divórcios no Brasil. Houve 1 divórcio para cada 2,3 casamentos. Os dados revelam também que os divórcios têm acontecido mais cedo. Em 2010, 37,4% dos divórcios aconteciam menos de dez anos após o casamento. Em 2022, esse percentual subiu para 47,7%.

Isso mostra que os brasileiros têm se divorciado cada vez mais e mais rápido. Mas, será que existe uma alternativa para a construção de relacionamentos mais saudáveis e duradouros?

No início dos relacionamentos, a fase da paixão costuma ser arrebatadora. É quando nos sentimos intensamente conectados ao outro, como se fôssemos um só. As emoções se misturam, os desejos se alinham, e a sensação de intimidade parece absoluta. É quase como se estivéssemos vivendo dentro de um filme romântico em que tudo “parece” fazer sentido — pelo menos por um tempo.

Mas, inevitavelmente, essa fase passa.

E quando isso acontece, a ilusão da fusão emocional começa a se desfazer, dando lugar à realidade: dois indivíduos distintos, com histórias, crenças, sentimentos e padrões de comportamento diferentes. As idealizações cedem espaço às diferenças reais. Aquilo que antes parecia encantador ou irrelevante passa a incomodar ou confundir. E então nos perguntamos: o que aconteceu com aquele amor tão perfeito?

Essa pergunta, muitas vezes, nasce da crença equivocada de que o amor verdadeiro é isento de conflito, mas não é. O amor não é a ausência de diferenças — é a capacidade de enfrentá-las com consciência, respeito e comprometimento.

Então, quando a paixão dá lugar à realidade, temos a chance de construir algo mais profundo: a verdadeira intimidade. É nesse estágio que começamos a enxergar o outro como ele é — e a sermos vistos também. E, com isso, nasce um convite ao autoconhecimento, à escuta ativa e ao diálogo honesto. Não sobre a ilusão de completude, mas sobre a aceitação mútua e o desejo de crescer juntos, mesmo com — e por causa das — diferenças.

Cada um de nós tem seus medos, defesas e formas próprias de buscar amor, aceitação, valorização; assim também, cada pessoa tem o seu modo particular de sentir-se amada. Alguém que é predominantemente mental, se relaciona com os outros de um modo diferente de quem é emocional, por exemplo.

O Eneagrama2 surge como um “tradutor” nos relacionamentos, ajudando na compreensão sobre o jeito único de cada pessoa existir no mundo e, claro, sobre a linguagem de amor de cada um dos tipos de personalidade.

Mais do que um sistema de tipos, o Eneagrama é um espelho da alma — e um guia que nos ajuda a reconhecer padrões inconscientes que sabotam nossos vínculos mais profundos e a traçar um caminho para desenvolver aquilo que não está bom e valorizar as virtudes inerentes a cada tipo, como aliadas nesse processo.

O Eneagrama nos ajuda a ter consciência de quem somos (de verdade), e isso impacta diretamente na melhora dos nossos relacionamentos, porque o amor não é apenas um sentimento, é ação que nasce de uma escolha (decisão). E escolher tem a ver com consciência.

Quando paramos de exigir que o outro “ame como nós”, abrimos espaço para crescer nos relacionamentos, de modo mais consciente e mais intencional. E se amar de verdade é um ato de rebeldia em tempos de vínculos descartáveis, o Eneagrama surge como uma bússola para esse caminho de coragem.

Patrícia Marinho&nbsp;é mentora de Mulheres, Facilitadora de Eneagrama certificada pelo IESH, Advogada com mais de 20 anos de atuação e membro da IEA Brasil. Conduzo jornadas de autoconhecimento para a construção de relacionamentos mais conscientes e harmoniosos.

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Os artigos publicados não refletem a opinião do Jornal do Tocantins. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

O Eneagrama como "tradutor" nos relacionamentos

Patrícia Marinho

O dia 30 de todo mês virou o do Terror para funcionários da Eletrobras. É a data escolhida pela direção para anunciar demissões a rodo, a lista de quem aceitou o Plano de Demissão Voluntária – muito criticado pelos servidores por baixos valores de prêmios e perda de direitos trabalhistas. Ontem, sindicatos protestaram em frente à sede no Rio de Janeiro. Mais funcionários foram demitidos na Chesf há dias, e não apenas os deficientes, como publicamos ontem. A empresa informa que tem contratado mais gente. Para os sindicalistas, são pessoas sem experiência necessária para os cargos.

<h2>Todos em casa</h2>

Não deve prosperar a iniciativa do deputado Lucas Redecker (PSDB-RS), que consultou a ONU sobre possível descumprimento pelo Brasil da Convenção Universal dos Direitos Humanos, pelo asilo a Nadine Heredia, a ex-primeira dama do Peru que fugiu para cá, condenada por corrupção no país vizinho. É que caberá ao Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, emitir um parecer. Ele é aliado de Lula da Silva.

<h2>Sozinho na vitrine</h2>

Com 53 anos de Itamaraty, Mauro Vieira se manteve frio durante as 6h32 que durou a audiência pública da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, na última quarta (28). Também não se incomodou com os pedidos de demissão e deixou claro que não se incomoda com Celso Amorim mandando no MRE. Por outro lado, chamou a atenção o abandono do ministro. Deputados governistas combativos não apareceram.

<h2>Dança das cadeiras</h2>

Orlando Leite Ribeiro, ex-secretário de Relações Internacionais da então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, deixará o cargo de embaixador na Espanha para chefiar a Embaixada do Brasil na República Tcheca. Ele tentou se segurar no cargo, mas pesou contra o fato de ter sido indicado no Governo Bolsonaro. Para Madri, uma das Embaixadas mais cobiçadas, foi indicado o ex-chanceler Luiz Alberto Figueiredo.

<h2>Acorda, Anvisa!</h2>

Uma adolescente de 15 anos morreu dia 28, em Brasília, por complicações pelo uso de cigarro eletrônico. A Anvisa trava o debate junto às fabricantes, e o Brasil está no atraso sobre o assunto. Os produtos piratas negociados no País têm dezenas de substâncias cancerígenas que o vape regulado não leva. Fumar o pirata hoje é quase como fumar uma pedra de crack – com a diferença de que o resultado é mais lento.

<h2>Por enquanto...</h2>

A cisma do presidente Donald Trump com a Harvard University por causa do grande número de estudantes chineses não é de hoje. Anos atrás, a então embaixadora da China visitou o presidente da Uni, e ele se vangloriou de receber centenas de estudantes do país asiático ao citar que Harvard está na vanguarda do ensino. Ela o cortou, ríspida: “Por enquanto...”. Um brasileiro presenciou a cena e contou à Coluna

<h2>ESPLANADEIRA</h2>

#Podcast do LIV sobre desafios da maternidade estreia hoje nova temporada. #FUNBIO e GEF lançam 8ª edição do Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro. #Itaú Social abre inscrições, até dia 11/7, para o Edital Fundos da Infância e da Adolescência. #Índice Abrasel Stone revela recuo de 1,6% nas vendas no setor de bares e restaurantes. #Unifisa e Alvesp firmam parceria para facilitar compra de carros usados e seminovos. #Serasa Experian revela alta de 7,6% na busca dos consumidores por recursos financeiros em março.

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Dia do Fora!

Política

Politica - título

Matéria - Politica - JTO

Coluna Esplanada

Em um tempo em que acumulamos dados, mas carecemos de sabedoria. Em que produzimos discursos, mas empobrecemos os vínculos. Em que falamos de conexão, mas convivemos com solidão e fragmentação. A filosofia clássica ressurge como uma bússola silenciosa. Não porque seja moda, mas porque é necessária.

Na noite do último dia 27, conduzi uma aula inaugural para novos alunos do curso de Filosofia da Nova Acrópole. O que vi ali não foi apenas um grupo interessado em ideias antigas. Vi uma geração que está à procura de algo que a escola formal não oferece: sentido.

<h2>Muito além da Grécia</h2>

Ao contrário do que muitos imaginam, a filosofia não nasceu na Grécia. O que chamamos de tradição filosófica ocidental foi estruturado ali. Mas a busca pelo sentido da vida é tão antiga quanto a humanidade. Povos como os egípcios, indianos, maias e chineses já refletiam sobre ética, morte, tempo, política e justiça muito antes da consolidação do pensamento lógico grego.

Pitágoras, por exemplo, que cunhou o termo filosofia — amor à sabedoria — estudou no Egito e na Índia antes de fundar sua escola. A ideia de que os antigos criavam mitos apenas por ignorância científica é, no mínimo, ingênua. A mitologia é uma linguagem simbólica, sofisticada, capaz de preservar e transmitir sabedorias profundas.

<h2>A crise da literalidade</h2>

Vivemos uma era onde os símbolos perderam seu valor. Como advertia Platão, em tempos de decadência cultural, não se deve contar mitos, pois serão tomados ao pé da letra. Isso explica, em parte, por que a religião, a política e até os textos filosóficos sofrem interpretações tão extremadas hoje. Perdemos o hábito de pensar com profundidade e passamos a debater tudo com superficialidade.

<h2>Educação ou condicionamento?</h2>

A palavra educar vem do latim educare, que significa tirar de dentro. Para Platão, ensinar é relembrar. É evocar a sabedoria que já habita em nós. Mas o modelo educacional vigente faz o oposto. Enche cabeças de informações, mas pouco desperta consciência. Produz excelentes técnicos, mas não ensina a viver.

É por isso que, ao assistirmos a cenas de extrema crueldade na televisão, dizemos: “isso nem parece coisa de ser humano”. Intuitivamente, ainda sabemos que ser humano deveria significar mais do que sobreviver. Deveria significar viver com dignidade, empatia e sentido.

<h2>Ética, política e história: os caminhos da unidade</h2>

Nosso estudo começa com três pilares: ética, como reencontro com a própria integridade. Política, como construção de unidade entre os diferentes. E filosofia da história, como capacidade de aprender com os ciclos da humanidade e da nossa própria vida.

Hoje, ética virou sinônimo de regras externas, e política, de polarização. Mas para os clássicos, ética era o cultivo da alma. E política, a arte de gerar amizade entre os cidadãos. Aristóteles via na política um meio de unir, não de dividir. No mundo atual, essa visão soa quase utópica. Mas justamente por isso, precisamos dela.

<h2>Uma filosofia que se vive</h2>

A proposta da Nova Acrópole é clara. Não fazer da filosofia um discurso erudito, mas uma prática cotidiana. Um estilo de vida. Uma busca honesta por unidade dentro de nós, entre nós e com o tempo.

Como as células de um corpo, cada ser humano tem sua forma, sua função, sua identidade. Mas só encontramos saúde quando conseguimos atuar juntos. Quando uma célula resolve crescer apenas por si mesma, chamamos isso de câncer. O mesmo se aplica à sociedade.

<h2>Amar a sabedoria ainda é possível?</h2>

O filósofo, dizia Sócrates, é aquele que sabe que não sabe. E que por isso pergunta, escuta, busca. É um amante da sabedoria. E amar a sabedoria, como qualquer amor, exige movimento, escuta, presença. Exige ir além do barulho das redes, das certezas imediatas, das promessas fáceis.

Nosso projeto não forma consumidores. Forma seres humanos. Voluntários, professores, alunos — todos juntos, reconstruindo o tecido humano por meio da filosofia. Não como um luxo intelectual, mas como um direito e um dever de quem deseja viver com mais sentido.

Em tempos de crise social, tecnológica e existencial, talvez a pergunta mais urgente não seja “qual é a solução?”, mas “o que ainda pode nos lembrar que somos humanos?”. A resposta, para mim, é a mesma de sempre. A mesma desde que o ser humano começou a perguntar: filosofia.

Ana Paula Leobas é professora voluntária de Filosofia e Oratória na Nova Acrópole. Atua há mais de uma década em projetos de formação humana e comunitária, promovendo filosofia, arte e educação em diversos espaços do Brasil.

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A filosofia pode curar o que a informação não cura

Ana Paula Leobas Maracaipe

A relação entre Gabriel García Márquez e William Faulkner vai além da simples admiração entre escritores; ela se reflete em uma profunda influência na construção de seus estilos literários, que ajudaram a consolidar suas trajetórias como mestres da literatura mundial. Ambos receberam o Nobel de Literatura e deixaram marcas indeléveis no campo literário, especialmente nas peculiaridades de seus cenários ficcionais e na forma como abordam o tempo e a memória. Ao comparar os universos criados por cada um, como Macondo, criado por García Márquez em Cem Anos de Solidão, e Yoknapatawpha, o condado fictício de Faulkner, podemos observar como o autor colombiano se apropriou da técnica do mestre americano para criar seu próprio estilo narrativo.

Faulkner é famoso por construir Yoknapatawpha como um microcosmo, um condado fictício que se torna o verdadeiro coração de suas obras. Através desse cenário, ele cria um labirinto de histórias interligadas, onde as vidas dos personagens se cruzam ao longo do tempo, formando um espaço repleto de memórias e significados. A narrativa não linear, com múltiplos pontos de vista e o fluxo de consciência, confunde a percepção do tempo e transforma o condado em uma experiência subjetiva e caleidoscópica. Gabriel García Márquez se inspira nesse modelo ao criar Macondo, a cidade fictícia de Cem Anos de Solidão. Assim como Yoknapatawpha, Macondo não é apenas um espaço físico, mas um microcosmo onde os destinos dos personagens e a memória coletiva se imbricam de maneira indissociável. Macondo reflete a complexidade da história latino-americana e se torna palco onde o real e o fantástico se entrelaçam.

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Ambos os autores compartilham a ideia de que o lugar, seja uma cidade ou um condado, possui uma memória própria, impregnada de experiências históricas e culturais que moldam as vidas dos indivíduos que nele habitam. Em Cem Anos de Solidão, os habitantes de Macondo estão conectados a um passado que se repete, como se a cidade fosse uma prisão temporal. Essa característica também aparece nas obras de Faulkner, com o passado de Yoknapatawpha se sobrepondo ao presente e criando um clima de inevitabilidade que permeia o destino dos personagens.

Uma das influências mais notáveis de Faulkner sobre García Márquez é a utilização do fluxo de consciência e a forma como ambos abordam o tempo de maneira não linear. Faulkner, com sua técnica de múltiplos pontos de vista e narrativas fragmentadas, cria uma simultaneidade de vozes e eventos que permite ao leitor entrar em contato com as subjetividades dos personagens, cuja memória é fluida e muitas vezes contraditória. García Márquez adota esse estilo e cria uma temporalidade cíclica em Cem Anos de Solidão, onde o tempo não é linear. Em Macondo, o tempo se repete, se dobra e se entrelaça, refletindo as idiossincrasias da memória coletiva da América Latina. A famosa frase "O problema de Macondo foi que, a partir de um certo momento, começou a ser fundado por pessoas que não se lembravam de nada" sintetiza a ideia de que a repetição do passado condena os habitantes a uma história sem fim.

Faulkner introduz a ideia de que o passado nunca está distante, mas se faz presente, se sobrepõe ao presente e molda o futuro. A reinterpretação do tempo e da memória, em Faulkner, é íntima e subjetiva; em García Márquez, ela adquire uma dimensão quase mítica. Ambos questionam a linearidade do tempo e da história de formas igualmente eficazes, mas com tonalidades e enfoques diferentes.

Os legados de Faulkner e García Márquez moldaram a literatura mundial do século XX de maneiras distintas, mas igualmente significativas. Faulkner, com sua desconstrução da narrativa tradicional e sua crítica à sociedade sulista dos Estados Unidos, criou um estilo que influenciou muitos escritores contemporâneos. Seu enfoque em temas como decadência social, racismo, culpa histórica e luta pela identidade continua relevante nas discussões literárias atuais. Já Gabriel García Márquez ampliou as fronteiras da literatura latino-americana e mundial com o realismo mágico, tornando-se um dos maiores representantes do chamado "Boom" latino-americano. A fusão entre o fantástico e o real em suas obras se tornou um ponto de referência para várias gerações de escritores, além de sua capacidade de articular as complexidades históricas e sociais da América Latina.

Ao comparar os legados de ambos, percebemos que Faulkner teve um impacto decisivo na narrativa moderna, especialmente no que diz respeito à exploração da subjetividade e do tempo. No entanto, o legado de García Márquez, profundamente conectado à realidade social e política latino-americana, criou uma estética literária única, que ultrapassou fronteiras e se tornou um símbolo da complexidade cultural da América Latina. Seu estilo, influenciado por Faulkner, ajudou a dar forma a uma literatura mais universal e a integrar o fantástico ao real de maneira inovadora.

Embora ambos os escritores tenham deixado legados monumentais, a obra de Gabriel García Márquez, com sua visão profundamente enraizada na realidade histórica e social da América Latina, parece ter um impacto mais amplo, alcançando leitores em todo o mundo. Contudo, a influência de William Faulkner sobre Márquez é inegável, especialmente em sua manipulação do tempo, da memória e na construção de mundos ficcionais que exploram o destino coletivo dos povos. A fusão das influências de ambos resultou em um estilo único, essencial para o entendimento da literatura do século XX.

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