Um diplomata americano afirmou que os Estados Unidos não vão procurar processar ou aplicar uma punição contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se ele deixar voluntariamente o poder, mesmo levando seu país a um colapso econômico e desastre humanitário. Elliott Abrams, enviado especial para Venezuela do Departamento de Estado americano, disse que não havia visto indicação de que Maduro estaria disposto a deixar o cargo. Mas afirmou que sua mensagem de anistia era um aviso ao presidente venezuelano.“Isso não é uma perseguição”, disse Abrams em entrevista ao jornal The New York Times. “Não estamos atrás dele. Queremos que ele tenha uma saída digna e vá embora.” O diplomata ainda acrescentou: “Nós não queremos processá-lo; nós não queremos persegui-lo. Queremos que você deixe o poder”. O Departamento do Tesouro americano acusou Maduro no ano passado de lucrar com o tráfico ilegal de drogas na Venezuela, mas não recomendou a abertura de um processo. A abordagem mais suave, até pragmática, contrasta duramente com os oito meses de sanções, isolamento internacional e as ameaças do governo Trump de umaintervenção militar contra Maduro e seus aliados, acusados de acumular poder e manipular as eleições do ano passado. Abrams também negou que funcionários de Trump e Maduro tenham conversado na última semana. Ambos os presidentes afirmaram que reuniões estavam sendo feitas. “A ideia de que estejamos negociando é completamente errada”, disse. “E a ideia de que exista um padrão de comunicação é errada. Existem mensagens intermitentes e eu acredito que as pessoas achariam que a mensagem ocasional enviada por Washington é completamente previsível: ‘Você precisa retornar à democracia. Maduro precisa deixar o poder’.” As mensagens que os EUA enviam a Maduro são normalmente por meio de depoimentos à imprensa, no Twitter ou em alguns casos, por diplomatas europeus ou líderes religiosos. Qualquer contato direto seria um risco às negociações paralelas, mediadas pela Noruega, que ocorrem na ilha caribenha de Barbados. As negociações são feitas entre o governo venezuelano e a oposição liderada pelo presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. Os encontros ganharam andamento em julho, após Maduro ter oferecido à oposição novas eleições presidenciais em troca do fim das sanções dos EUA. Mas a negociação foi suspensa no dia 5, após novas sanções americanas bloquearem todos os ativos venezuelanos nos EUA. A ação surpreendeu tanto Maduro quanto líderes da oposição, pois ameaça com penalidades econômicas qualquer empresa estrangeira que faça negócios com o governo venezuelano. Abrams reforçou durante a entrevista que os EUA não derrubariam as sanções contra a Venezuela sem que Maduro renunciasse. Mesmo com a nova iniciativa de anistia, qualquer oferta desse tipo vinda dos EUA teria limites. Um funcionário da Casa Branca disse previamente ao Times que o governo Trump não poderia remover processos federais relacionados a tráfico de drogas em que vários confidentes de Maduro e parentes são acusados. O próprio Abrams não quis comentar se os EUA impediriam Maduro de manter qualquer fortuna ou outros ativos se ele renunciasse ou deixasse a Venezuela em exílio.