Com objetivos diferentes, mas em comum as bênçãos alcançadas pela fé em Deus, milhares de fiéis sobem a Serra do Estrondo, em Paraíso do Tocantins, a 53 km de Palmas, há mais de uma década na madrugada da Sexta-Feira Santa. No local, a Capela de Santa Cruz, construída em 1978, proporciona aos presentes um espaço para que as orações sejam realizadas. A subida é uma forma de representar os últimos momentos de Jesus Cristo na terra, com a subida dele no Monte do Calvário, local em que foi crucificado. A maratona da subida e todo o sacrifício físico empregado são para lembrar o de Cristo. Muitas histórias se misturam entre os milhares de visitantes que esperam ansiosamente pela chegada da data. Como é o caso de Deusivaldo Leonço Ferreira, 33 anos, e Cláudia Cristina Ribeiro, 34 anos, que encontraram o amor verdadeiro graças à fé e devoção. Os dois participavam do mesmo grupo de jovens da igreja, mas ainda não havia brotado o amor como um casal. Em 2003, eles começaram a orar pedindo ao divino que os enviasse uma pessoa que tivesse os menos interesses e que fosse “de Deus”. Cada um da sua forma e em lugares diferentes, Deusivaldo, na Serra do Estrondo, e Cláudia realizando uma novena a São José, na Paróquia de São José Operário, em Paraíso, ao final das celebrações, Deusilvaldo explica que começou a ver Cláudia de uma forma diferente e logo a pediu em namoro, que acabou em casamento e dois filhos. Eles se casaram em 2006 e destacam com orgulho o namoro abençoado por Deus e a família que formaram, sempre focados nos princípios cristãos. Os filhos do casal, Sarah Cristina Ribeiro Leonço, de seis anos, e Miguel Vitor Ribeiro Leonço, de quatro anos, seguem os passos dos pais e vão ao local todos os anos. “Desde quando eram bebês já trazíamos eles para a celebração, justamente para que sigam nosso exemplo e se orgulhem de serem filhos de Deus”, destaca Deusivaldo. A pedagoga explica que a novena de São José é tradicional para quem busca encontrar um grande amor e principalmente que seja alguém escolhido por Deus. “No último dia da novena tive o meu desejo atendido ao ser pedida em namoro pelo Deusivaldo, e desde então compartilhamos uma vida fincada nos ensinamentos da igreja. Nossa história é celebrada pela família e amigos como um exemplo de que, com determinação e fé, tudo pode ser alcançado”, finaliza. “Do alto da serra, minhas orações e olhos estavam voltados para a cidade, e ao pedir por uma escolhida de Deus, nem imaginava que seria a Cláudia. Mas agradeço por Deus ter tocado em meu coração e ter feito surgir o desejo de tê-la ao meu lado”, afirma Deusivaldo. CuraMuitos peregrinos encaram a subida como uma forma de penitência em agradecimento por alguma bênção recebida, principalmente a cura de alguma doença. O vendedor José Nilson da Silva Araújo, de 44 anos, e sua esposa Jackeline de Moraes Souza, 43 anos, relatam que em 2011 a filha adolescente do casal, Luana Beatriz de Souza Araújo, que atualmente está com 19 anos, sofreu um incidente doméstico e teve o tendão de Aquiles cortado, o que lhe trouxe sérias consequências, correndo o risco, inclusive, de perder o movimento do pé. “Foi um momento muito difícil e minha filha teve que passar por muitas cirurgias. Em meio ao desespero, nos apegamos à fé em prol da cura da Luana. Ela foi curada e ficou sem sequelas”, relata Jackeline. Além das muitas orações feitas e rezas de terços, o casal decidiu subir a serra por cinco vezes e, neste ano, cumpriram a subida de número três. “Encaramos tudo com muita alegria, pois a felicidade e a saúde da minha família estão sempre em primeiro lugar”, explica o vendedor, que ao lado da esposa comemoram mais um ano vencido, acrescentando que outras penitências estão em andamento, como a jejum de arroz que Jackeline está fazendo há oito meses, além dos tradicionais sacrifícios feitos durante a Quarema, como a abstenção de carne vermelha. Luana diz que é um orgulho que os pais demonstrem o amor que sentem por ela e por Deus com todos os sacrifícios feitos. “Cresci na igreja e me sinto privilegiada por meus pais me mostrarem o caminho certo e no dia a dia demonstrarem isso com atitudes de fé e de amor”, explica a jovem. HistóriasOutras históricas também unem cristãos ao sacrifício de Cristo. Como a do funcionário público Uerisvan Sousa Gomes, 48 anos, que faz o ritual da subida da escadaria há alguns anos para agradecer pelas coisas que Deus tem feito na sua vida, da sua família e amigos. Contando apenas com a companhia de outros peregrinos durante a maratona, o funcionário público explica que todo o sacrifício feito vale a pena e que o cansaço é recompensado ao concluir a trajetória. “Jesus se sacrificou por todos nós e o que faço é tão pouco se comparado a toda dor que ele passou, mas é a forma de lembrar e agradecer por sua atitude. Se estou aqui hoje é por conta do amor de Deus.” Independente de quantas vezes cada um já tivesse feito a subida e participado do momento de fé, a emoção era compartilhada por todos. É o caso da estudante Daniela Aguiar Franco, de 20 anos, que aceitou o desafio e encarou a maratona de aproximadamente 40 minutos com muita alegria e descontração. “Esta é a segunda vez que faço o trajeto com meus amigos e pretendo repetir muitas vezes, já que Deus renova minhas forças todos os anos”, destaca. Os fieis não encaram as penitências como algo ruim, mas que edifica o espírito e os purificam dos males da vida. Independente da idade do fiel, o amor de Deus é sentido e compartilhado por todos que buscam a paz, como explica o padre da Paróquia de São José Operário, padre Sidney Martins da Silva. “A espiritualidade dos presentes é algo muito forte com a demonstração da penitência, oração e acima de tudo o amor em Deus. É uma forma de agradecer a Jesus Cristo por todo o sacrifício que Ele fez na terra para nos salvar e limpar os pecados para mostrar que o amor venceu o ódio e a vida venceu a morte”, destaca o padre, acrescentando que as comemorações no Domingo de Ramos é outro ponto alto da Semana Santa. ServiçoNa década de 1960 o pioneiro de Paraíso do Tocantins, Firmino Mendes, subiu a Serra do Estrondo, levando uma cruz de madeira feita por ele e a fincou no alto da serra. A crendice popular afirma que o ato foi para pagar promessas em agradecimento a bênçãos conquistadas.A partir daí, os moradores da cidade seguiram o exemplo do pioneiro com a subida das escadarias.-Imagem (Image_1.819674)-Imagem (Image_1.819675)-Imagem (Image_1.819676)-Imagem (Image_1.819677)