O anúncio do novo projeto arquitetônico do Museu de Arte do Espírito Santo, o Maes, mexeu com os ânimos nas redes sociais ao ser anunciado nesta semana. Nele, o museu, que no ano passado concluiu suas reformas depois de quatro anos de obras, aparece soterrado por um gigantesco ovo branco, muitas vezes maior do que o prédio.O projeto foi alvo de comentários indignados nas redes sociais, que criticavam da intervenção num prédio tombado à poluição visual que um ovo daquelas dimensões causaria no centro de Vitória. Até um abaixo-assinado foi criado, sério apesar do nome -"não queremos um ovo em cima do Museu de Arte do Espírito Santo".Nem o projeto, nem o seu patrocinador, a Da Silva Brokers, existem, porém -são uma obra de "Tirante", primeira exposição virtual do Maes. Mesmo o CEO do suposto conglomerado, Antonio da Silva, foi na verdade inventado pelo artista alemão Anton Steenbock.É com um filtro com o rosto de Da Silva que Steenbock conversa, por videoconferência, com a repórter. Ele criou a identidade quando se mudou para o Rio de Janeiro nos anos 2010, época em que projetos imobiliários de gosto duvidoso despontavam na paisagem, financiados pela iniciativa privada.Então, a DaSilva Brokers era figurinha carimbada em mostras de arte contemporânea pelo país. Anunciava, em cartazes, adesivos e até lojas próprias, planos como um hotel em forma de banana no meio da enseada de Botafogo ou um anexo modernoso com escada rolante no Parque Lage.Na entrevista, Steenbock encarna o personagem que cunhou, um homem de meia-idade calvo e com óculos sem aro, de tendências conservadoras na política e liberais na economia.Faz propaganda do conglomerado e do ArtLab, iniciativa de arte contemporânea que a empresa mantém, afirma que, "agora, com as mudanças políticas no Brasil", vários dos planos da construtora que estavam parados voltaram a andar.Questionado sobre como enxerga as reações do público à proposta do Maes, porém, é o artista que assume. "Elas são interessantes porque mostram os dois lados. Há quem considere o projeto moderno, novo. Outros acham horrível, um ataque ao patrimônio. E essa discussão é o principal, porque o projeto acontece na cabeça das pessoas", diz."Chamo esses projetos de uma vacina, porque, ao darem uma pequena dose de algo que só é real na imaginação das pessoas, elas então criam anticorpos e ficam mais atentas àquilo que pode limitar a liberdade delas."Steenbock prevê que, mesmo que a arquitetura mirabolante típica de Dubai possa ter ficado no passado, discussões como as que o Rio viveu quando ele vivia na cidade prometem voltar com força no pós-pandemia. Afinal, com a crise econômica instaurada, é provável que os governos apostem cada vez mais em privatizações.Em Berlim, onde Steenbock -e Da Silva- mora há quatro anos, a prefeitura decidiu congelar os preços dos aluguéis pelos próximos cinco anos. A medida está sendo combatida por imobiliárias nas cortes superiores alemãs.O próximo projeto da Da Silva Brokers, previsto para ser apresentado no próximo dia 28, dialoga com isso. Para driblar a paralisação dos preços, o conglomerado propõe um pacote que inclui o aluguel de um apartamento e de diversas obras de arte contemporânea para fazer a decoração. "Assim, conseguimos uma margem de 40% a mais do que é permitido atualmente", diz o artista. Ou melhor -diz Antonio da Silva.