Marcado para os dias 12 e 18 de setembro de 2021 o VI Festival de Poesia de Lisboa terá a participação do poeta radicado em Palmas Gilson Cavalcante. A entidade idealizadora do Festival, a Helvetia Edições, selecionou o poema "Olhos Vazados em Grãos" para o evento que tem como tema "Terra - uma poética de nós". De acordo com a entidade, o tema propõe um diálogo com as poéticas da terra e suas narrativas históricas para poetas com origens em países da língua lusófona: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu."Por acreditarmos na sua centralidade e na sua transversalidade em nossas vivências social, econômica e política, desde a demarcação de terras para a expressão digna de povos originários, passando por movimentos sem-terra, de trabalhadores rurais, até os movimentos urbanos de moradia", explica a entidade, no regulamento. O festival homenageará o escritor moçambicano Mia Couto, que fará a abertura do evento. Serão premiadas três poesias e mais 20 serão menção honrosa. O poeta premiado terá um livro-solo de poesias com até 100 páginas publicado pela Helvetia, com lançamento na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) de 2022. Os assuntos dos textos inscritos incluem diáspora negra, pessoas em situação de refúgio e a lutas pela preservação do meio-ambiente até lutas coloniais, entre outros. O poema de Gilson Cavalcante trata da oposição entre a cena agrária, palco de lutas e da lida humana e utopia produtora e a cidade moderna, que esconde mazelas e amontoa pessoas e demandas em sua verticalidade alienante.Confira a poesia.Olhos Vazados em GrãosLouvada seja a terra lavrada na palavra agrária banhada de sangue e suor os rios de mim irrigam a safra do ser real de uns olhos vazados em grãos do campo pra cidade agiganta-se em sua arquitetura horizontal a urbe desalmada e fria gleba planejada para acomodar distâncias esconder mazelas e amontoar demandas privilégios de vertical usura vertigem dos arranha-céus a medir léguas de lagrimensura a ferrugem dos dias de urgência em cada olhar da periferia hora de rasgar o tecido social e reinventar a cidade do ócioa Bíblia cansou de ser a bula dos fracos os fiéis teimam em ler a vida ao contrário com as mãos estendidas da esmola e adivinham a sorte na contramão da estrada os deuses se aposentaram da venda de indulgências e se desconvenceram das epifanias agora é a hora aberta necessária da rebelião dos anjos da retaguarda da subversão da ordem