Do menino que já queria ser passarinho ainda na década de 1970 sob o barulho incansável das catras de cristal na então diminuta Cristalândia, ainda Norte goiano, e que depois, adolescente, na insurgente Gurupi dos anos 1980, encantou-se com os seus famosos festivais de música, Dorivã ainda guarda o sonho alado da canção.Insuflado por seus predecessores e sempre espelhos bons: Juraíldes da Cruz, Genésio Sampaio (que depois viraria Genésio Tocantins) e Braguinha Barroso, romeiros dos festivais desse Brasil profundo. Agora, Passarim do Jalapão, depois de sobrevoar a capital goiana e algumas regiões do País, e se fixar na Sereia do Cerrado, a Palmas do Século XXI, se prepara para pousar em Sampa. Em grande estilo, diga-se. Sob as asas, um cancioneiro de um brasiliano e tocantino, filho legítimo da Pátria Grande, essa América Latina, América Criança, América Menina. São 15 canções, entre músicas consagradas e novas composições, revelando uma obra poético-musical que representa bem o Tocantins.O show, que acontece hoje e amanhã na Caixa Cultural, em São Paulo (veja serviço), comemora 30 anos de carreira com ritmos de influência das culturas negra e indígena, como a sússia, a catira, a jiquitaia e o foliado, apresentados de forma original e sempre poética pelo cantador.Ele vai dibuiar suas cantorias forjadas na labuta diária sob o sol generoso do Sertão tocantino e na lida, ora triste, ora alegre, com o Cerrado resistente e esmigalhado do Portal Amazônico. Além de outras pepitas musicais garimpadas por esse trio de cantadores desbravadores do cantar geral das serras e rios do Tocantins e cravadas em nossas retinas – especialmente nas de Dorivã – ávidas de pertencimento brasiliano.O show abre com uma belíssima canção dos gaúchos Reneu do Amaral Berni e Paulo Albuquerque. Não vivo mais em mim é o lamento do índio que não chega a ser o dito civilizado e nem consegue mais ser apenas um indígena. A pérola Dodói, do tocantinense de Aurora do Tocantins, Juraíldes da Cruz, reafirma o poder da força do cancioneiro tocantino. Catirandê, do também eterno menino traquino Braguinha Barroso e do genial goiano Lucas Farias, reforça a identidade das gentes que povoa esse Cerrado nortista, rico em manifestações populares.A terna Imperador Tocantins do recifense/maranhense Carlinhos Veloz, magnífica ode às águas majestosas do Rio Tocantins. Tem João Bacaba, balada do ser tão inquieto incriado no sertão do cerrado tocantino, construída magistralmente por Dorivã, Paulo Aires Marinho, poeta das repúblicas agrestes do Gancho e Luzimangues, e este espiador de coisas insignificantes que ora dá sentido ao ajuntamento destas letras pra tecer um abecedário de um voo de um passarim cantador.E, claro, entre outras, tem as clássicas autorais Taquarulua, libelo à nossa serrana Taquaruçu e Passarim do Jalapão, que firmou Dorivã como um dos grandes nomes da música do Tocantins.O show Passarim do Jalapão, que conta com um timaço de feras, tanto na equipe de músicos, quanto na de técnicos, além de coroar a carreira desse cantador beradeiro, revela não só o grande artista que é Dorivã, mas, principalmente, o Brasil de dentro, o Brasil mais profundo, que guarda tantos artistas talentosos, ocultos nesse continental território que chamamos de generosa pátria brasileira.ServiçoO quê: show Passarim do Jalapão com DorivãQuando: hoje e amanhã, a partir das 17 horasOnde: Caixa Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111 – Centro)Entrada gratuita Classificação indicativa: livreDuração: 60 minutosPatrocínio: Caixa Econômica FederalInformações: (11) 3321-4400 Repertório1 - Não vivo mais em mim (Reneu Berni e Paulo Albuquerque)2 - Brasil popular (Dorivã)3 - Florezinhas (Dorivã)4 - Festa da colheita (Dorivã)5 - Dodói (Juraildes da Cruz)6 - Catirandê (Braguinha Barroso e Lucas Farias)7 - Descuido (Dorivã, Leo Pinheiro, J. Bulhões e Tião Pinheiro)8 - Meninos (Juraildes da Cruz)9 - João Bacaba (Dorivã, Ronaldo Teixeira e Paulo Aires)10 - Imperador Tocantins (Carlinhos Veloz)11- Avarandado (Dorivã)12 - Sementinha (Dorivã)13 - Mãe Romana (Dorivã)14 - Taquarulua (Dorivã)15 - Passarim do Jalapão (Dorivã)16 – Vinheta Cabrale (Lourival e Cabral) Ficha técnicaDireção geral: Dorivã BorgesDireção musical: Luiz ChaffinDireção cênica e artística: Meire MariaProdução executiva: Regina ReisTécnico de som: Léo BessaProdução: Associação Contágius – Cia. de Dança e Teatro■ BandaDorivã – voz e violãoLuiz Chaffin – violões aço e nylon, bandolim, violão de 12 cordas e guitarrasJessé Fonseca – teclas e vocaisMarcelo Maia – baixoEdilson Morais – percussão