-Imagem (1.559538)O espírito aventureiro e o desejo de conhecer o interior do Brasil trouxe, na década de 70, o jovem jornalista Otávio Barros da Silva às terras tocantinenses. Nos anos 60, apaixonado pelo ofício jornalístico, deixou a terra natal no sertão de pernambucano e ganhou os grandes centros do País. Mas era o interior do Brasil que o atraía, e com incursões por vários estados acabou por chegar a Araguaína, hoje Norte do Tocantins. Quando chegou à região, Barros conta que existiam duas realidades. “O sertão, com seu atraso e as cidades que se desenvolviam em torno da Belém-Brasília”, relata o autor, hoje com 73 anos. Destes dois paralelos em que vivia a região, foi o do sertão que atraiu Barros. Começava aí uma nova jornada que seria a matéria-prima para o livro, Memória do Tocantins – primeiro volume, que o autor lança nesta quinta-feira, às 19h30, na unidade operacional do Sesi, na 104 Sul, em Palmas. A obra, edição do próprio autor, em formato de bolso, traz importantes relatos desta experiência pelo interior do Estado antes da sua criação, em 1989. Barros conta que reuniu em uma bagagem tudo que precisava - gravador, papel, caneta, rede de dormir, pilhas para o gravador, lanterna, pó de café, rapadura, maços de cigarros, farinha e carne de sol - e seguiu viagem. “Entrava nos ônibus que percorriam a Belém-Brasília e descia nos entroncamentos que davam acesso às cidades fora deste eixo”, conta ele. O escritor ressalta que a obra foi produzida com o intuito de reconstruir o passado do Norte de Goiás. Sertão Barros percorreu cidades como Natividade, Pedro Afonso, Miracema, Porto Nacional, ouvindo os antigos moradores. “Os mais antigos ainda eram da geração do século XIX”, relata o autor, que traz na obra ainda aspectos da natureza tocantinense e das suas tradições, como as festas religiosas. Também são contados no livro relatos de costumes das cidades interioranas, como o dos moradores de se sentarem à porta para conversar. “Cena comum nas cidadezinhas do Norte goiano era aquele magote de gente vadia debaixo do pé da gameleira ou da faveira, falando da vida alheia”, relata com bom humor no livro, lembrando que, com a chegada da televisão, as cadeiras na calçada para a prosa diária sumiram. Barros conta ainda na obra que, nesta época, nas margens da Belém-Brasília, ainda em construção, se formavam centros urbanos. “As moradias eram de palha de buriti, poucas casas de alvenaria”, diz ele na obra. Barros conta ainda que, na Segunda Guerra Mundial, o Norte goiano foi grande explorador e exportador de cristal de rocha para a indústria bélica. Fatura Em outro trecho, o autor relata que o isolamento era dominante nestes tempos na região. “Mas na mesa do rico ou do pobre sempre tinha o leite de coco, arroz, farinha de puba, carne seca, beiju”, diz ele, que é natural de uma região onde a seca reinava. Ele destaca na obra a sua admiração pela abundância de água. “Aqui é uma festa corrente de água por todo o ano”, diz trecho da obra. Além das águas, o autor traz ainda suas impressões sobre outras farturas da região, como os peixes e a caça e os frutos nativos. “A fartura de frutos nativos tem sabor agradável: araçá bacaba, bacuri, cajuí, jenipapo, mangaba, pitomba, oiti, puçá”, relata ele, supervalorizando ainda a bacaba. “A polpa da bacaba, o nosso chocolate, poderia competir com o cacau no mercado nacional e do estrangeiro”, destaca ele. Com tudo isso, a obra é um agradável retorno ao período que antecede a criação do Tocantins. É ainda uma memória do povo e das suas tradições. “É o que era o Tocantins de ontem, um resgate das suas raízes”, reforça Barros, saudoso. A obra tem uma tiragem de mil exemplares e está à venda por R$ 20,00, nas livrarias GEP, em Palmas, Araguaína e Gurupi. Lançamento O quê - Memória do TocantinsQuando - HojeOnde - Sala da Unidade do Sesi (104 Sul), ao lado da Praça dos GirassóisHorário - Às 9h30-Imagem (Image_1.559336)