-Imagem (Image_1.1507330)Apesar da idade avançada, Dona Ivone Lara, venerada por sambistas de diferentes gerações e chamada de “Rainha do samba” e “Primeira-dama do samba”, fez shows há até pouco tempo atrás e em 2010, fora homenageada pelo Prêmio da Música Brasileira. Ela faleceu na última segunda-feira na Coordenação de Emergência Regional anexa ao Hospital Miguel Couto, no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro (RJ), onde estava internada. Dona Ivone morreu em decorrência de insuficiência respiratória. Ela se deslocava de cadeira de rodas e era amparada por familiares. Em suas aparições públicas, estava sempre sorridente e alinhada. Onde chegava era ovacionada. Apesar disso, somente parou quando o Alzheimer a deixou frágil e cansada. “Fazíamos shows com amigos, ela gostava muito de se manter no meio da música. Depois começou a ficar muito cansada. Foi uma referência no samba e na família”, contou o neto dela, André Lara, na quadra do Império Serrano em Madureira onde foi realizado o velório. O corpo da sambista foi sepultamento ainda ontem no Cemitério de Inhaúma. Carreira O maior parceiro foi Délcio Carvalho, com quem a sambista criou, muitos sambas como Sonho meu e Minha verdade. Ele era 18 anos mais jovem e morreu em 2013. Entre a lista das grandes músicas da sambista estão também: Alguém me avisou, Acreditar, Tendência, Mas quem disse que eu te esqueço, Samba, Minha raiz, Sorriso de criança e Sorriso negro.Primeira mulher a ganhar uma disputa de samba-enredo numa escola de samba no Rio, em 1965 - Os cinco bailes da história do Rio (com Silas de Oliveira e Bacalhau) -, ela era filha de músicos e ligados ao carnaval. Perdeu os pais muito cedo. Foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba ao lado do primo, o Mestre Fuleiro, um dos fundadores do Império Serrano, sua escola. Casou-se aos 25 anos com o filho do presidente da escola Prazer da Serrinha e conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições. Ivone, formada enfermeira e auxiliar da pioneira psiquiatra Nise da Silveira, nasceu bem antes da agremiação - era de 1921; o Império, de 1947. Ela compôs sambas ainda para o Prazer de Serrinha, escola do qual o Império viria a ser uma dissidência. A Verde-e-branco do bairro de Madureira, na zona norte do Rio, lhe fez um desfile-tributo em 2012. Reconhecida como a maior compositora do samba e da música brasileira, Dona Ivone Lara teve inúmeras vozes cantando suas músicas. Elas deixa um monumento erguido como criadora samba após samba, cantados todos os dias. Sua música se universalizou com rapidez, mas seu formato jamais foi o lugar comum. Seu samba tinha uma assinatura. Em qualquer uma dessas canções, fica evidente o faro de Dona Ivone Lara pela frase que será entoada para sempre, pelo refrão que o sambista e o folião levariam para casa mesmo depois que a festa acabasse. Gravada por Beth Carvalho, Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Mariene de Castro, Roberta Sá e Marisa Monte, Ivone sabia como curar a dor de amor, algo que muito provavelmente tem a ver com outra de suas especialidades: a enfermagem.