-Imagem (Image_1.1465401)Foi criada recentemente em Dianópolis, sudeste do Tocantins, a comissão organizadora dos 100 Anos do Barulho, que traz entre seus componentes, a Academia Dianopolina de Letras (ADL) com apoio da Unitins e IFTO. O objetivo do evento, dentre outros, é articular estudos para unificação de dados históricos ofertando um relatório conclusivo, com versão pacificada sobre o fatídico Barulho, e de outro lado, acervo reflexivo às novas gerações.Um dos motes inspiradores dos 100 anos de Barulho centra-se no despertamento das novas gerações à leitura para que, em diálogo comparativo com os diversos autores e documentos oficiais, possam conhecer a verdade dos fatos e repelir versões difamatórias aos sucessores das vítimas da Chacina. Grife-se, portanto, nesta seara de ficções, que a obra goiana de Bernardo Élis, O Tronco, não se sustenta ao simples confronto com o teor dos documentos oficiais do governo federal, a exemplo do relatório oficial emitido ao Ministro da Guerra pelo Major Adjunto de Estado-Maior, Álvaro Guilherme Mariante. Some-se a esses, enfim, os apontamentos do escritor goiano Godoy Garcia nos estudos críticos-literários em Aprendiz de Feiticeiro e dos relatos históricos de Zoroastro Artiaga, que fazem coro com outros tantos autores, a exemplo de Osvaldo Rodrigues Póvoa, em Quinta-Feira Sangrenta; Voltaire Wolney Aires, em A Saga de Jagunços e Coronéis, e enfim, as obras O Duro e a Intervenção Federal, o Diário de Abílio Wolney, a Chacina Oficial e o Barulho e os Mártires, da lavra do magistrado goiano Abílio Wolney Aires Neto.Impende acentuar que o Barulho, ocorrido entre 1918 e 1919, no antigo Vilarejo do Duro, culminou, inicialmente, com o assassinato em dezembro de 1918 de Joaquim Aires Cavalcante Wolney, pai de Abílio Wolney, e após, em 1919, com a chacina de nove outros familiares. O holocausto desses mártires se deu por meio de um tronco de suplício. Aludido artefato foi utilizado pelas milícias goianas em decorrência de uma trama arquitetada pela Oligarquia Caiado com o propósito de interromper a ascensão política do então deputado, erradicando suas lideranças, haja vista que se porventura assim não o fosse o parlamentar ascendente chegaria ao cargo hoje de governador, pois era pré-candidato.Insta salientar que o deputado, neste evento do Barulho, exsurge induvidosamente na condição de vítima. Uma, porque foi traído pelo Juiz Celso Calmon Nogueira da Gama no acordo para levar o inventário de Vicente Belém e partir com sua comissão deixando em paz os familiares e, enfim, todos no citado Vilarejo. Segundo, porque logo após ser traído pelo referido juiz Calmon, teve que presenciar a primeira morte desta chacina, o assassinato de seu pai, o coronel Joaquim Aires C. Wolney, de forma brutal e cruel, com diversos tiros e golpes de sabre em circunstâncias onde teve que se esconder numa estiva de farinha para não morrer junto com seu genitor.Terceiro, porque após fugir em busca de auxílio para vingar seu pai, antes de realizar o seu intento constatou o assassinato num tronco, de forma vil e insana, do irmão Wolneyzinho, além do seu cunhado, do sobrinho menor Oscar Leal, familiares e amigos em um total de nove pessoas, entre correligionários e patentes.Quarto, porque após o evento perdeu parte do seu patrimônio, que foi saqueado pelos jagunços da comitiva do governo e logo após mais de dez mil cabeças de gado pelo Capitão Siqueira do Quartel Militar, fato que se deu em relação a outras células familiares locais, sem jamais serem indenizados por qualquer órgão, repartição, ou instituição. Quinto, porque, com o final da referida chacina, uma vez ceifada a vida de suas lideranças, viu a sua carreira política entrar em declínio.Desfecho e consequênciasDesfecho e consequências A comissão enviada pelo governo estadual ao Duro veio ladeada de jagunços, bêbados e arruaceiros. O aludido Juiz Calmon de Passos descumpriu trato avençado com os Wolney, expediu mandado de prisão contra esses, e determinou que seus jagunços atacassem a fazenda, matando o patriarca Joaquim Aires C. Wolney. Em seguida, o referido magistrado perdeu o controle da situação, e uma vez que sua real intenção era minar as forças políticas do deputado Abílio, e fugiu deixando um número aproximado de 40 soldados aos quais foram agregados 90 jagunços, que sitiaram o Vilarejo e saquearam os bens das famílias.Alguns autores, divorciados da realidade, quiseram apontar como estopim do Barulho, a intervenção enérgica do advogado Abílio Wolney, na condução do inventário da viúva de Vicente Belém. Referido álibi não procede, amiúde quando as autoridades, o Coletor Sebastião de Brito e o Juiz Manoel de Almeida, reconhecidos inimigos pessoais do causídico, e por isso, suspeitos ou impedidos, foram indicados politicamente pela citada Oligarquia goiana. Ora, a questão do inventário era apenas o pano de fundo que seria utilizado por Totó Caiado, para, vingar-se do opositor de seus desmandos na Assembleia Legislativa goiana. Para tanto, louvaria do auxílio de seu cunhado, o governador João Alves de Castro, no sentido de criar uma comissão direcionada ao Vilarejo do Duro, para aniquilar a ascensão política do deputado Abílio Wolney, que se projetava rumo ao governo do Estado.O deputado Abílio Wolney não foi condenado em qualquer ação judicial até hoje. Anote-se, aliás, que todo o processo do Barulho, em nível estadual, foi anulado pelo desembargador Emílio Póvoa. Registre-se, não obstante, que o Juiz Celso Calmon e sua Comissão do Duro, ao regressarem à sede da capital goiana, diante da repercussão dos fatos em todo o País, sofreram imediata prisão administrativa e foram destituídos dos seus cargos pelo Governador João Alves de Castro. O Juiz Celso Calmon foi condenado criminalmente e preso preventivamente. O Criminoso Catulino Viegas, autor das execuções das vítimas no Tronco, recebeu pena de 25 (vinte e cinco) anos e multa. Totó Caiado foi algemado e preso por dois anos. Os cargos políticos do Coletor Estadual, Sebastião de Brito e do Juiz Municipal Manoel de Almeida deixaram de existir com o declínio da Oligarquia Caiado, e aqueles, em decorrência, tiveram que fugir de Dianópolis, para residir em outras paragens no ostracismo da vida pública.O evento Barulho, decididamente, não apresenta heróis, antes revela inúmeras vítimas. A sua causa, induvidosamente, está centrada na insânia política da Oligarquia Caiado para perpetuação no poder, conforme se vê da reiteração dessas práticas em diversas comunidades do antigo Estado goiano. As células familiares de Dianópolis, oriundas do antigo Vilarejo do Duro, a exemplo da família Aires e Wolney do deputado Abílio Wolney foram todas vítimas. Elas, após, tiveram que levantar a poeira de suas aflições, seguir em frente, no ciclo da marcha existencial, porque marchar é preciso, viver, após esses fatos, talvez seja apenas uma consequência nesta caminhada.-Imagem (Image_1.1465421)