-Imagem (1.1811167)No início da noite, em uma base comunitária de segurança localizada no Setor Morada do Sol II, na região Sul de Palmas, toda segunda, quarta e sexta-feira, crianças com idades entre 4 e 12 anos deixam os chinelos e algumas bicicletas na calçada para treinarem em um tatame desgastado. Entre risos, quedas e agitação, e sob o olhar do professor, o sargento da Polícia Militar Evaldo Souza da Silva, 41 anos, meninos e meninas praticam juntos o jiu-jítsu.O esporte é uma das modalidades que a Escolinha Comunitária do 6º Batalhão da Polícia Militar do Tocantins, fundada em meados de 2015 e desde 2017 com aulas de jiu-jítsu na Base de Integração Social e Segurança Pública do Setor Morada do Sol II, oferece a mais de 600 crianças e adolescentes, a maioria de baixa renda. O projeto tem como finalidade promover uma mudança social na vida desses jovens, através das práticas de tolerância, compreensão e não violência.Com o aliciamento para o caminho da violência urbana cada vez mais comum nas ruas do País, crianças e adolescentes de baixa renda fazem parte de um grupo vulnerável, que sem a devida orientação acaba perdido nessa estrada. Para o sargento Souza, que já perdeu jovens integrantes do projeto para o crime, trabalhar com a base, ou seja, com crianças, é a melhor forma de coibir atos criminosos. “Afastar essas crianças das ruas, por meio do esporte, é uma das melhores armas que podemos usar. Muitas delas têm uma estrutura familiar fragilizada e não recebem a atenção que precisam. Assim o caminho acaba direcionamento para que elas entrem no mundo da criminalidade. Seguimos uma linha de raciocínio: é mais fácil ajudar a formar o pensamento de uma criança, que mudar a cabeça de um adulto, portanto é aqui que podemos vencer”, ressalta o professor.AdolescentesOs dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2017 mostram que naquele ano o número de adolescentes com idades entre 12 e 17 que estavam em conflito com lei chegou aos 24.628. O levantamento aponta que 44,4% deles tinham envolvimento com roubo e outros 24,2% com tráfico de entorpecentes.Souza explica que o público adolescente apresenta uma dificuldade maior em participar do programa, principalmente se algum jovem já esteve ou estiver envolvido com atos ilícitos. Isso se dá por conta da ação fazer parte de um batalhão policial, o que pode afastar esses jovens.“É um dos nossos grandes desafios, fazer com que jovens que já se envolveram com coisa errada ou estão enrolados com isso agora, possam entrar e ficar no projeto, devido ao fato da gente ser policial e achar que vamos prejudicá-los. Quando é justamente o contrário, o que queremos é afastá-los desse caminho” pontua.DificuldadesNos três dias da semana que as aulas acontecem, cerca de 50 crianças sentam em círculo e ouvem com atenção as instruções do mestre, faixa preta em jiu-jítsu e com mais de 24 anos de experiência na modalidade. Antes de iniciarem o treino, elas observam os movimentos e tentam executar de maneira fiel quando são liberadas para praticarem. Porém, encontram certa dificuldade para executarem os golpes mais simples.Isso acontece devido grande parte deles não possuir o material básico para prática de jiu-jítsu, o kimono. A maioria deles não tem condições financeiras e chegam ao treino apenas de short e camiseta, somente um ou dois com a vestimenta correta. Mesmo assim eles procuram fazer o que o professor pede, mas sem o material é difícil. Outro problema que a Escolinha enfrenta é quanto às condições do tatame, utilizado desde o início do projeto e que já está desgastado devido às marcas do tempo.Apesar de ser um projeto que envolve a Polícia Militar, a Escolinha pode receber doações, e no momento a prioridade são os kimonos para que as crianças consigam desenvolver as técnicas e não abandonarem essa ação. Em uma pesquisa rápida feita pela reportagem, os valores variam de R$ 90 a R$ 140. Quem deseja ajudar pode entrar em contato pelo telefone (63) 9236-0636.EscolaÉ possível perceber pela atenção que as crianças dão importância à fala do professor e que elas enxergam ali alguém importante. Com essa consciência, o sargento faz da base comunitária um local, não apenas de aprendizado esportivo, mas também de ensinamento para a vida. Souza busca acompanhar como seus alunos se comportam na escola, corrige atitudes agressivas e procura saber sobre notas e frequência.Mas ele também faz queixas e uma delas é sobre a participação das famílias, que ele considera baixa até o momento. “Tenho alunos aqui que não sei quem são os pais. Imagine que a criança fale em casa que está indo a aula de jiu-jítsu e em vez disso vá a outro local? É importante a participação dos pais ou os responsáveis nesse processo” relata o mestre.Mesmo com as dificuldades que enfrenta, o projeto continua a receber crianças e adolescentes toda semana e segue à sua essência para manter esses jovens longe das ruas.