O sucesso do inglês Lewis Hamilton, 35, hexacampeão da Fórmula 1, contrasta com o ostracismo vivido pelas duas tradicionais equipes britânicas da categoria: McLaren e Williams.As escuderias, que nas décadas de 1980 e 1990 conquistaram 16 títulos de construtores e 16 de pilotos, vivem longos jejuns de troféus. A McLaren desde 2008, quando Hamilton faturou o primeiro dos seus seis campeonatos (os outros cinco foram pela Mercedes). A seca da Williams vem de 1997, ano em que o canadense Jacques Villeneuve foi campeão.Essas equipes também passaram ou passam por graves crises financeiras. A McLaren escapou da insolvência no ano passado, ao obter um empréstimo de valor equivalente a mais de R$ 1 bilhão do banco nacional do Bahrein, que detém a maioria das suas ações.Já a Williams vive cenário mais complicado: perdeu seu principal patrocinador para esta temporada e admite a possibilidade de ser vendida, além de não conseguir sair do último pelotão no grid.A esperança para ambas está posta justamente no talento de dois jovens pilotos ingleses que cresceram acompanhando a trajetória vitoriosa de Hamilton.George Russell, 22, da Williams, e Lando Norris, 20, da McLaren, são vistos como dois candidatos promissores a herdarem no futuro o posto do hexacampeão como ídolo britânico nas pistas.Além do talento, eles possuem alguns traços também observados no multicampeão, como o gosto por participar do desenvolvimento do carro.Neste fim de semana, o trio correrá em casa, no Grande Prêmio de Silverstone, às 10h10 de domingo (2). A quarta corrida da temporada será exibida pela TV Globo.Será a segunda vez que a dupla de novatos correrá no tradicional circuito desde que entraram de vez para a F-1, no ano passado. Antes disso, eles disputaram a F-2, um dos campeonatos de acesso à elite do automobilismo, que em 2018 teve Russell como campeão e Norris vice.Foi o piloto mais novo, contudo, o primeiro a ter sido anunciado como titular na F-1, escolhido pela McLaren para a temporada seguinte. Na opinião de Russell, o passo à frente do amigo também contribuiu para ele ganhar uma vaga no grid na sequência."O anúncio de Lando foi tão cedo que me ajudou a pressionar a Williams para minha chance", disse na ocasião. "Saber que temos o nível necessário para fazer um bom trabalho na F-1 contra caras que estão aqui por cinco, dez anos ou mais é um ótimo sentimento."Nas pistas, Norris é quem pode almejar voos mais altos por ora. Enquanto a McLaren tem um carro competitivo para brigar constantemente por pontos, a rival Williams segue como a pior equipe do grid.Norris é atualmente o quarto colocado do Mundial, com 26 pontos, e conquistou um pódio como terceiro colocado do GP da Áustria, na abertura da temporada. O resultado lhe rendeu a marca de terceiro piloto mais jovem a chegar entre os três primeiros de uma corrida, com 20 anos e 285 dias.O holandês Max Verstappen, da Red Bull, detém este recorde, pois venceu o GP da Espanha em 2016 com 18 anos e 228 dias, seguido pelo canadense Lance Stroll, o terceiro colocado na corrida do Azerbaijão em 2017, com 18 anos e 239 dias.Além do bom começo de temporada em 2020, Norris ganhou destaque por uma foto em que ele aparece debaixo do carro da McLaren, ajudando os mecânicos a desmontar o veículo depois do GP Hungria, quando ficou na 13ª posição. Foi a terceira prova em fins de semana consecutivos."Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, o faça acompanhado. Foram três longas semanas para minha equipe, achei que poderiam aproveitar mais um par de mãos", afirmou o jovem.No ano passado, ele ficou entre os 10 primeiros em 11 das 21 etapas, somando 49 pontos, o que lhe rendeu a 11ª colocação na classificação final do campeonato.Já Russel, assim como em 2019, ainda não somou nenhum ponto na F-1. O melhor resultado dele na categoria é um 11º lugar no GP da Alemanha, em julho do ano passado. Na atual temporada, porém, tem demonstrado bom ritmo nos treinos classificatórios, inclusive largando na 12ª posição na Hungria."O George é uma combinação de empenho, dedicação e foco. Ele está no mesmo escalão do que outros campeões", afirmou recentemente a chefe da equipe, Claire Williams, ao compará-lo com Nico Rosberg, Damon Hill e Nigel Mansell, que passaram pela equipe.O chefe da Mercedes, Toto Wolff, afirmou que vê Russell em seu time futuramente. "George certamente faz parte dos planos a longo prazo", disse, descartando a possibilidade de isso ocorrer antes do fim do contrato dele com a Williams, em 2021.Norris também seguirá na McLaren para o ano que vem, quando terá a companhia de Daniel Ricciardo, 31. O australiano substituirá Carlos Sainz Jr., 25, de partida para a Ferrari.Mais badalado entre os jovens pilotos até agora, Verstappen também reverenciou os colegas recentemente. "A nova geração não se resume apenas a mim e ao Charles [Leclerc]", declarou. "O Lando é muito talentoso e o George também deve aparecer, mas é difícil julgá-lo na Williams."O brasileiro Emerson Fittipaldi, 73, que conquistou o primeiro título mundial de pilotos da McLaren, em 1974, é outro que pede cautela para fazer projeções sobre o futuro dos garotos ingleses. "São dois talentos legais, que nós temos que avaliar melhor", disse à reportagem.O bicampeão (1974 e 1976) lamentou ainda que, atualmente, os brasileiros também não tenham o mesmo espaço conquistado pelos britânicos. "Eu adoro a Inglaterra, foi onde eu comecei a carreira internacional, mas a minha preocupação é saber quando vamos ter brasileiros de novo na F-1."