Única equipe presente em todas as temporadas da F-1, a Ferrari chegará neste domingo (13), na Itália, à sua milésima corrida na competição.O fim de semana será de homenagens (incluindo uma pintura dos carros em tom mais escuro, em alusão ao primero modelo usado em corridas pela empresa), mas a verdade é que o período atual destoa da história de glórias da escuderia.O GP da Toscana Ferrari 1.000, como a nona etapa desta temporada foi batizada em homenagem ao time que é dono do autódromo localizado em Mugello, dificilmente terá um piloto da anfitriã no lugar mais alto do pódio ao fim da corrida.Isso não ocorre desde setembro de 2019, quando o alemão Sebastian Vettel venceu o GP de Singapura, a única vitória dele naquele ano e a terceira da Ferrari em mais uma temporada dominada pela rival Mercedes.Mas até o ano passado os carros vermelhos ao menos competiam com frequência pelas primeiras posições.Neste ano, o melhor resultado da equipe até agora é um segundo lugar no GP da Áustria, na abertura da temporada, com Charles Leclerc (em sétimo na classificação do ano). Vettel nem sequer subiu ao pódio em oito provas e ocupa a 13ª posição.Domingo passado (6), em Monza, o alemão abandonou a prova após um problema nos freios, e o monegasco, depois de uma batida forte que interrompeu a corrida."Esperamos que o próximo [fim de semana], que é uma data importante com o milésimo Grande Prêmio, seja um pouco melhor, mas o carro não está no nível que gostaríamos", disse o chefe da Ferrari, Mattia Binotto.O desempenho é muito aquém da tradição da equipe que mais venceu GPs na F-1, com 238 vitórias, 56 a mais do que a McLaren, a segunda nesse ranking, com 182.Esses números foram obtidos com o talento de 109 pilotos que passaram pela escuderia, incluindo ícones como o argentino Juan Manuel Fangio, campeão com ela em 1956, e Niki Lauda, austríaco que faturou dois títulos com o carro vermelho, em 1975 e 1977.Ao todo, nove pilotos foram campeões mundiais pela Ferrari, dona de 16 títulos de construtores e 15 de pilotos.Um terço dessas conquistas foi alcançado com Michael Schumacher no cockpit, de 2000 a 2004, quando a equipe viveu sua maior hegemonia. O heptacampeão, cinco vezes campeão pela Ferrari, venceu 72 etapas e faturou 58 poles pela escuderia.Foi nesse período, também, que ela teve seu primeiro piloto brasileiro. Rubens Barrichello correu pelo time de 2000 a 2005, disputou 102 GPs, ganhou 9 e foi duas vezes vice-campeão (2002 e 2004)."Consegui me dar muito bem nesses seis anos dentro das minhas possibilidades, dentro dos limites que me foram impostos. Mas não saio com o sentimento completo de missão cumprida porque não ganhei o título", disse à Folha na semana em que se despediu da Ferrari.Ele foi substituído por outro brasileiro, Felipe Massa, que correu 139 GPs pela equipe, venceu 11, foi vice em 2008 e deixou a escuderia, em 2013, como o terceiro piloto que mais disputou corridas pelo time, atrás do finlandês Kimi Räikkönen (151) e de Schumacher (181).O finlandês foi responsável pelo último título mundial da equipe, em 2007. Já são 13 anos de jejum.A seca atual é a segunda maior da história da escuderia, atrás somente dos quase 22 anos sem nenhuma conquista entre o campeonato vencido pelo sul-africano Jody Scheckter, em 1979, e o primeiro de Schumacher, em 2000.O fim da era Schumacher, seguido das saídas do chefe da equipe Jean Todt e do diretor Ross Brawn, considerados dois dos dirigentes mais importantes da história da categoria, também mudaram a filosofia de trabalho ferrarista e tiveram impacto nos resultados nos anos seguintes.Nem as contratações de pilotos vencedores, como o espanhol Fernando Alonso em 2010, bicampeão pela Renault (2005 e 2006), e Vettel, tetra pela Red Bull (2010, 2011, 2012 e 2013), levaram a Ferrari novamente ao topo.Nesse período, a equipe ficou seis vezes com o vice-campeonato mundial de pilotos.Contratado em 2015, Vettel está de saída da equipe também sem conseguir ser campeão mundial. Ele não terá seu contrato renovado após a atual temporada e acertou nesta semana para defender a Racing Point no próximo ano.A forma pouco amigável como o casamento chegará ao fim, com várias críticas públicas dos dois lados, revela o ambiente conturbado. "Para obter os melhores resultados, é vital que todas as partes trabalhem em perfeita harmonia. Eu e o time percebemos que não havia mais o desejo em comum de seguirmos juntos", declarou Vettel.Até nas pistas isso se tornou visível, não só pelos resultados, mas por cenas como as batidas entre Vo alemão e Charles Leclerc.No ano passado, eles se chocaram na reta final do GP Brasil e abandonaram a prova, e o mesmo voltou a acontecer no GP da Estíria neste ano, logo na primeira volta.Jovem e visto com um futuro promissor na categoria, Leclerc, 22, será mantido na Ferrari e terá a partir de 2021 o espanhol Carlos Sainz Jr, 25, como seu companheiro.Será na juventude dos dois que a escuderia italiana apostará para se renovar e voltar aos tempos em que dominava a F-1.