Todos os dias, cerca de 500 pessoas cruzam a fronteira da Venezuela com o Brasil, com destino a Roraima (RR). Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais 180 mil refugiados e migrantes venezuelanos estão em solo brasileiro. Jesus Afonso, 45 anos, os sete filhos e a esposa fazem parte desse número.

Há dez dias em Palmas, Afonso, que era empresário dono de marcenaria na Venezuela, afirma que enganaram ele com a promessa de um bom emprego no Tocantins e agora pede ajuda em semáforos da Capital para conseguir trabalho ou algum tipo de ajuda que possa fazer com que ele e o filho Daniel, de 17 anos, que também anda com cartaz pela cidade, consigam voltar a Cuiabá (MT), local que o resto da família se encontra.

Ele conta que trabalhava por conta na capital mato-grossense quando recebeu um convite de um chacareiro de Palmas para trabalhar com o cercado de chácaras. Porém, ao chegar na Capital, o homem, que identifica como João Oliveira não cumpriu com o prometido e houve um desentendimento entre os dois. Após dois dias de trabalho, o chacareiro deixou ele e o filho na rodoviária com R$ 50, valor equivalente aos dias trabalhados.

Segundo Afonso, o combinado seria receber R$ 25,00 por metro quadrado, contudo o homem disse que pagaria R$ 25,00 por dia. Sem acordo entre as partes e sem dinheiro para comprar a passagem de ônibus, que de acordo com o venezuelano custa R$ 425,00, a solução é pedir ajuda e tentar arrumar outro emprego. “Infelizmente o homem que nos trouxe combinou uma coisa e fez outra. Agora estamos aqui não sabemos como vamos voltar a Cuiabá. Às vezes fazemos dinheiro para dormir em algum hotel, outras vezes dormimos na rua mesmo. Mas as coisas vão melhorar, tenho fé que vão, o povo brasileiro é muito generoso.” comenta, antes de mostrar duas fotos dele em um comparativo de quando era empresário e depois de perder tudo. Ele também passou o número de telefone para quem deseja ajudá-los: (65) 999268296.

Crise

Com as dificuldades que o país latino-americano atravessa, o ex-empresário diz que para não passar fome se viu obrigado a vender tudo que tinha. “Na Venezuela era empresário e tinha loja de móveis planejados que vendia para outras lojas e atacado, minha esposa tinha uma padaria. Mas há cinco anos as coisas começaram a mudar. O Governo (Maduro) passou a confiscar terras e a madeira ficou pouca. Tive que vender tudo para conseguir comer, quando não tinha mais o que vender, minha esposa vendeu a padaria, ficamos sem nada e passamos apenas a sobreviver.” pontua.

Sem ter o que fazer, Afonso seguiu o que muitos venezuelanos passaram a fazer, procurou um país vizinho para tentar uma nova vida e fugir da crise. Saiu da Venezuela de carona há dois anos e deixou a família lá. Chegou em Boa Vista (RR) e depois conseguiu ir para Cuiabá. Após um ano, a família chegou ao Brasil. Atualmente a esposa é a única que trabalha e mantém a família no Mato Grasso. Mesmo com as inúmeros dificuldades que enfrenta, Afonso garante que a vida no Brasil é melhor para ele e sua família que em seu país natal.

“Eu vi crianças morrerem por lá. O café da manhã é abobora e o almoço é mandioca e só. Um salário mínimo na Venezuela não compra 1 kg de frango. Não quero voltar para lá, mesmo com as dificuldades aqui, o povo brasileiro cuida da gente. Quero começar de novo e seguir em frente na certeza que as coisas vão melhorar.” finaliza com um sorriso esperançoso.