Pelo menos 75 das 102 universidades e institutos federais do País convocaram protestos para esta quarta-feira, 15, em resposta ao bloqueio de 30% dos orçamentos determinado pelo Ministério da Educação (MEC). No Tocantins, os portões da Universidade Federal do Tocantins estavam fechados desde às 6 horas no Câmpus de Palmas e, segundo organização do ato, continuará assim até o final do dia. 

Membros da comunidade acadêmica se reuniram em frente aos portões com faixas no ato e posteriormente seguirão até a Assembleia Legislativa para continuar o ato. A concentração marcada pelos estudantes contou também com a presença de professores. "Queremos chamar atenção da sociedade para o que está acontecendo nas instituições de ensino. O contingenciamento afeta diretamente a vida e sobrevivência dessa instituição", afirma o reitor da UFT, Luis Eduardo Bovolato, que esteve na manifestação dos estudantes. 

O gestor classifica o ato do contingenciamento do Governo Federal como "inadmissível". "Queremos que seja revisto essa posição e estamos abertos ao diálogo", afirmou. 

"Os danos são irreparáveis, a universidade tem um planejamento e um desenvolvimento de ações na área de ensino, pesquisa e extensão, é um trabalho contínuo, um corte abrupto vai impactar de forma irreparável no trabalho que nós planejamos e estávamos desenvolvendo, então nossa participação aqui é para dizer que não somos a favor desses cortes, e que na realidade a universidade demandaria muito mais orçamento do que nós temos", declara o técnico do laboratório de música da UFT  Bruno Barreto.

A estudante e bolsista da UFT Karina Custódio afirma: "a intenção é nos posicionarmos contra os cortes que tem acontecido na universidade que afeta todas as áreas, as pessoas que recebem bolsa como eu e precisam muito disso, pois não tem dinheiro”. Para a estudante não basta implementar cotas e não garantir a permanência do estudante na universidade. “E mesmo que se encontre formas de a universidade continuar funcionando e não fechar pelas contas, como vão ficar as bolsas dessas pessoas e a segurança dentro da universidade?", questiona.  

A professora da universidade, Solange Nascimento, considera que o bloqueio do Mec é um ataque à comunidade acadêmica. "O ato é uma chamada nacional e defesa da educação pública, nós temos um claro ataque às universidades e é importante entendermos que quando temos dirigentes que dizem que a universidade é pra uma elite, colocando-a como um espaço de bagunça, a gente tem uma articulação para desqualificar as instituições. Então esse ataque é contra a universidade inclusiva, contra a diversidade, contra as classes mais pobres, os indígenas, contra as mulheres e quilombolas, negros e negras que tiveram acesso a um espaço que antes nunca nos foi dado, é um espaço de legitimidade e por isso precisamos defendê-las para todos", explica.

Um dos diretores da União Nacional dos Estudantes (UNE), que mobiliza os estudantes em todo o Brasil, e estudante de direito da UFT, Diego Panhussatti afirmou que a continuidade das universidades são importantes para toda a sociedade. “Mais de noventa por cento da ciência brasileira sé produzida dentro das universidades e institutos federais, então um corte milionário proposto coloca em risco a população universitária, inclusive a mais pobre que vê na universidade uma porta de entrada para alterar ciclos... Tocar na educação é mexer com o Brasil inteiro. Quando você altera a educação, mexe com todo o País", comenta.

Uma equipe do Jornal do Tocantins acompanha a manifestação. 

A UFT completa 16 anos de existência nesta quarta-feira e informou ao JTopossibilidade de suspender as atividades acadêmicas e administrativas em dois meses.

Nacional

Além das instituições nacionais, cientistas e pesquisadores de diversas instituições e estudantes de faculdades privadas também vão aos protestos convocados. Além da comunidade do ensino superior, a rede básica também aderiu à paralisação em alguns estados. 

Atos e vêm sendo chamados pelas maiores entidades estudantis e sindicais do País, incluindo a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). 

Em Brasília, o prédio do MEC já havia amanhecido nesta terça cercado por homens da Força Nacional de Segurança Pública. O secretário executivo da pasta, Antoni Paulo Vogel, afirmou que a proteção foi pedida pelo governo federal. "Temos de estar preparados para evitar qualquer tipo de problema. Simples assim."

Autonomia e custos

Um dos alvos do protesto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta terça-feira, 14, que as universidades precisam deixar de ser tratadas como "torres de marfim" e não descartou novos contingenciamentos.

O ministro Weintraub afirmou na terça ser favorável até à entrada da polícia nas universidades. "Autonomia universitária não é soberania", disse, durante café da manhã com jornalistas. Ele argumentou que, no passado, a regra pode ter feito sentido, "mas atualmente é dispensável".

Ele destacou ainda que a autonomia das instituições deve se dar também na área financeira, com a criação de mecanismos que permitam a busca de recursos e patrocínios. "Hoje elas não podem... Não estou falando em cobrar, sou contra cobrar dos alunos de graduação." Mas, emendou, "o ideal seria a criação de mecanismos para que empresas se tornem patronas de instituições, possam construir prédios, colocar nomes nas novas instalações", disse. "Essas torres de marfim que a gente criou impedem que renda possa ser gerada para ser usada na pesquisa."

O ministro se esquivou de fazer comentários sobre a greve, mas condicionou a liberação dos recursos bloqueados à aprovação da reforma da Previdência e não descartou novos cortes. Weintraub procurou ainda reduzir a importância do bloqueio sofrido pela pasta que lidera, citando outros ministérios que tiveram contingenciamentos maiores, como a Defesa.

O ministro disse ter recebido 50 reitores desde que assumiu e, de acordo com os relatos, a conta das universidades está em dia e "a vida segue normal". Ele reiterou que o bloqueio só deve ser sentido no segundo semestre. "Se tiver algum problema, vou até o Ministério da Economia, para abrir exceção."

À tarde, em entrevista à Rádio Jovem Pan, Weintraub voltou a negar o contingenciamento de 30% - anunciado pelo próprio MEC. "Mostrem os números. Parem de mentir. Estamos contingenciando 3,5%."

Pela manhã, ele havia sido dramático ao falar sobre seu curto período à frente do Ministério da Educação. Transcorridos menos de dois meses da sua posse, ele se queixa de perseguição. "Estou sendo caçado com taco de beisebol e machadinha. O inimigo número 1 de tudo", disse. "Estou sendo moído."

Justiça

A juíza Renata Almeida de Moura Isaac, titular da 7.ª Vara Cível de Salvador, solicitou que a União justifique, em até cinco dias, cada um dos bloqueios orçamentários que impôs às instituições de ensino superior no País. O pedido é consequência da ação popular impetrada pelo deputado federal Jorge Solla (PT-BA), no dia 30 de abril, que pediu a "anulação imediata" dos cortes, sob alegação de que o ministro Abraham Weintraub (Educação) atribuiu publicamente a decisão à uma reprimenda às instituições que "promoviam balbúrdia". (Colaborou Lauane dos Santos e Estadão Conteúdo)