Trabalho, conflitos de gerações e problemas de saúde e na família. Esses são, segundo o professor titular do colegiado de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Vilson Pereira dos Santos, os principais motivos que levam à evasão de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

 

A conclusão é resultado de sua pesquisa do mestrado em Educação, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), concluída em 2012. O trabalho se transformou no livro Sujeitos da EJA - entre o direito à educação, o mundo do trabalho e os muros da escola, publicado pela Editora Nagô, que foi lançado ontem, em evento na Escola Estadual Maria dos Reis, no Jardim Taquari, onde Santos trabalha.

 

Segundo o educador, o interesse pelo tema surgiu durante seu estágio, quando ele ainda fazia o curso de graduação em História. “Quando parti para o mestrado, resolvi me aprofundar no assunto”, conta.

 

Evasão

Segundo o professor, em 80% dos casos pesquisados por ele, o motivo do abandono era o trabalho, outros 15% são devido conflitos de geração, enquanto os 5% restantes em virtude de problemas de saúde ou com a família.

 

Para o professor, embora o principal objetivo de um aluno se matricular na EJA seja a melhoria de vida, através da qualificação profissional, quando a rotina entre escola e trabalho se torna um empecilho, o aluno desiste. A situação, conforme Santos, é agravada pela estrutura engessada da modalidade.

Causas

“A EJA tem horário fixo, igual a educação básica regular. Se o aluno chega 20 minutos atrasado, encontra o portão fechado e acaba não entrando. Por outro lado, muitas vezes, não conseguem liberação do patrão para sair mais cedo, e isso vira um problema”, justifica.

 

Outra dificuldade apontada por Santos são os conflitos de gerações. “As escolas têm optado por direcionar alunos mais jovens, de 16 a 18 anos, que têm problema de disciplina e, por isso, têm problemas para ser aprovados, para a EJA, o que não é uma boa solução”, explica.

 

Segundo ele, os estudantes mais maduros têm problemas em lidar com essa situação. “Não só pela indisciplina, mas porque os jovens são mais afoitos, e isso intimida os mais velhos”, justifica, acrescentando que, também o mais jovem, dificilmente se fixa na EJA. “Essa modalidade é oferecida principalmente à noite, que é o horário que eles têm para se divertir”, diz.

 

Seduc

Para a coordenadora da EJA na Secretaria de Estado da Educação e Cultura (Seduc), Adelaide Gomes de Araújo, a evasão na modalidade é um desafio. “Não só na EJA, mas na educação como um todo, no País inteiro, a evasão é um desafio a ser superado”, afirma.

 

Embora não saiba precisar a taxa de evasão nos últimos anos, a educadora diz que os números são mínimos. “O número de alunos matriculados e de concluintes é muito próximo. A evasão tem diminuído”, frisa.

 

Quanto ao direcionamento de alunos mais jovens e indisciplinados para a EJA, conforme relatado por Santos, Adelaide discorda. “Essa não é a recomendação da Seduc, nem das escolas, até porque seria uma forma de exclusão”, justifica, acrescentando que, embora, na modalidade, haja uma diversidade de faixas etárias, isto não é considerado um motivo para o abandono dos estudos.

 

“Para o 1º e 2º segmentos, que correspondem ao ensino fundamental, é exigida a idade mínima de 15 anos. Já para o 3º segmento, relativo ao ensino médio, a idade é 18 anos. Nós cumprimos o que é determinado pela legislação”, ressalta Adelaide.