Com um número relativamente baixo - comparado com dados nacionais - o Tocantins registrou 105 gestantes infectadas e dois óbitos em decorrência da Covid-19 até esta segunda-feira, 24, segundo os dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Essas duas mortes ocorreram em junho e julho com residentes de Colinas do Tocantins e Xambioá, respectivamente. Nacionalmente, a realidade é preocupante, já que o Brasil é país com mais mortes de gestantes pela doença, registrando quase 80% dos casos mundiais e mais de 200 óbitos.

Apesar de o número tocantinense ser pequeno, ao se analisar o dado com a população estadual ainda é um número considerável, conforme a médica da área técnica da Diretoria de Atenção Primária, Ingrid Carvalho, e a enfermeira da área técnica da Rede Cegonha, Raquel Marques Soares. Ambas as profissionais questionam se existe um descuidado com essas grávidas e perpétuas.

“O que tentamos descobrir é se essas gestantes não estão se isolando adequadamente ou se seus familiares não estão se cuidado. Como se infectaram com a doença mesmo com todas as orientações sanitárias?”, pergunta Ingrid ao se lembra da necessidade de seguir as orientações, já que as gestantes são consideradas do grupo de risco, entretanto, a própria SES, em sua página de orientações a esse grupo afirma que “não há nenhuma evidência de que elas corram mais riscos de desenvolverem uma doença mais grave do que a população em geral”.

“Não existe nenhuma evidência específica no momento que justifique o manejo diferenciado dessas gestantes que estão com Covid-19, mas é importante avaliarmos a idade gestacional, condição materna e viabilidade fetal dos dois, mãe e filho. A avaliação do quadro clínico - se tem comorbidade, gravidez de risco, gravidade dos sintomas - dessa infectada deve ser avaliado”, explica a médica Ingrid. Isso porque, algumas pesquisas mais recentes demonstraram que mulheres com idade gestacional superior a 34 semanas e Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 30, podem apresentar mais probabilidade de complicações respiratórias devido à infecção causada pela Covid-19.

Segundo as duas profissionais da Saúde, o protocolo seguido atualmente e o recomendado pelo Ministério da Saúde é o geral utilizado para adultos. Entretanto, “apesar do protocolo ser o geral é preciso um olhar diferente e mais atento às mulheres em período de gestação ou pós-parto infectadas”, relata Ingrid.

Ao serem questionadas sobre possíveis sequelas as crianças nascidas de grávidas que tiveram a Covid-19, Ingrid afirmou que ainda não existem informações sobre e por isso, os cuidados durante e pós-gestação, seguindo os protocolos de saúde, devem ser seguidos à risca. “Temos um único caso no Tocantins de um bebê diagnosticado com Covid-19 após o nascimento. Entretanto, apresentou sintomas leves, está bem e não teve sequelas, apesar disso esse acompanhamento do crescimento e desenvolvimento deve acontecer pelas equipes de atenção primária, até ao menos os dois anos, e só após esse período teremos certeza se houve sequelas decorrentes desta infecção". Ainda é muito cedo para saber se essas crianças que tiveram ou as mães tiveram a doença tem sequelas.

Acompanhamento

Gestante de 36 semanas, Roseane Santos Carvalho, de 25 anos, disse que segue todas as orientações preconizadas para evitar o contágio com a Covid-19. “Lavo as mãos e uso o álcool em gel constantemente. Uso máscara sempre que saio de casa. Venho me protegendo bastante porque a situação do coronavírus está complicada”, contou a futura mãe que já sabe o sexo e escolheu o nome do filho, Vinícius Gabriel. 

“Tenho medo de contaminar os outros e meu bebê. Mas, até o momento não tive nenhum sintomas, graças a Deus”, relatou a dona de casa ao sair da Maternidade Dona Regina, em Palmas, após sentir algumas contrações. 

Ao serem questionadas sobre as orientações às gestantes durante o período, as duas profissionais da saúde, a enfermeira Raquel e a médica Ingrid, informaram que o acompanhamento pré-natal continua essencial e deve ocorrer normalmente, entretanto com cuidados maiores. “O cronograma pré-natal deve ser seguido e o acompanhamento pós-natal também deve ocorrer junto à mãe e a criança. Entretanto, as recomendações são de agendamento com intervalos maiores para evitar aglomerações”, explica Ingrid. Além disso, é importante realizar todos os cuidados de higiene e evitar contato e aglomerações, e em casos de sintomas de gripe, que as consultas e exames devem ser adiados em 14 dias e, se necessário, realizados em locais isolados de outras pacientes. 

Recentemente o Jornal do Tocantins recebeu uma denúncia sobre a falta de capacitação dos médicos para a orientação das gestantes de um profissional da área que não quis se identificar, entretanto, segundo a enfermeira Raquel, uma web conferência com profissionais dos municípios tocantinenses ocorreu para orientar sobre o atendimento as grávidas e lactantes neste período de pandemia, em especial as suspeitas ou confirmadas com Covid-19. 

Durante esse momento, os profissionais tiveram orientações específicas sobre a presença dos acompanhantes. Segundo Raquel, para as grávidas em pré-natal um acompanhante é essencial e não é recomendada a proibição de sua presença nas consultas e outros procedimentos, já na hora do parto estão vedadas as visitas às maternidades e hospitais. “A Saúde Estadual suspendeu as visitas. Entretanto existe uma orientação de maior atenção, suporte e assistência adequados da equipe médica e de enfermagem para com as gestantes, que muitas vezes enfrentam períodos difíceis após os partos”, explica.

Conforme lembra Ingrid e Raquel reformado pelos dados dos Ministérios não existem dados que comprovem que a mãe possa transmitir o vírus para o bebê durante a gravidez, mas as gestantes sofrem alterações em seus corpos que podem aumentar o risco de algumas infecções. Veja no final da matéria perguntas e resposta para as gestantes nesse periodo de pandemia.

Amamentação

Assim como não existe evidência sobre a transmissão durante a gravidez, também não há comprovação de que o vírus seja transmitido através do leite, mãe não precisa ser separada do bebê. Entretanto algumas medidas de saúde devem ser tomadas, como a lavagem adequada das mãos antes e depois da amamentação ou da ordenha do leite materno, e ainda as mães, infectadas ou não, devem usar máscara para proteger o bebê de gotículas de saliva que possam ser transmitidas.

Conforme as profissionais da saúde, Ingrid e Raquel, o aleitamento materno não deve ser suspenso já que é essencial as bebês devido aos seus benefícios. “Como não existe comprovação que possa haver contaminação via aleitamento as mães devem manter amamentação exclusiva, levando em consideração todos os seus benefícios. E as orientações de higienização e precauções, que são para toda a população, devem ser seguidas pelas lactantes. Amamentar é algo essencial que neste momento não deve ser suspenso”, finaliza Ingrid.  

Cidades

O Jornal do Tocantins também entrou em contato com as gestões de Saúde de Araguaína, Gurupi e Palmas questionando sobre os números, além de quais as ações específicas para esse grupo, como é a assistência e qual o protocolo de remédio para as gestantes infectadas. 

Em nota, a Prefeitura de Araguaína disse que segue como padrão a ficha de notificação nacional do Ministério da Saúde, que quantifica em relação a gestantes e puérperas, entretanto não foi registrado nenhum óbito em Araguaína por covid-19 até a semana passada. “Todas as gestantes estão sendo atendidas normalmente conforme sua agenda de pré-natal e tendo todos os seus direitos garantidos, como consultas, exames etc. As orientações a respeito do novo coronavírus, como cuidados e precauções, estão sendo feitas durante as consultas  do pré-natal”, diz a nota. 

Além disso, as gestantes com suspeita da doença são orientadas a procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência para atendimento, avaliação e realização do teste. No caso da medicação prescrita é a Azitromicina, uma das opções ofertadas pelo Município que não traz riscos as condições das grávidas. As gestantes confirmadas para Covid-19 são orientadas a ficar em isolamento domiciliar e acompanhadas.

Já em Gurupi, em nota Prefeitura Municipal disse que a assistência na Atenção Básica às gestantes segue o fluxo normalmente, conforme orientações e protocolos da Organização Mundial da Saúde. As unidades atenderam 16 gestantes que tiveram resultado positivo para Covid-19. 

“Todas, segundo relatório médico, foram casos leves, a maioria apresentou apenas um, ou, dois sintomas, e o tratamento seguiu a avaliação médica específica para casa gestante No momento apenas uma gestante segue em isolamento social, as demais receberam alta”, diz a nota que afirma até a semana passada não havia nenhum registro de casos positivos de puérperas e nem de óbito de grávidas na cidade. 

A Prefeitura de Palmas não deu retorno aos questionamentos do JTO

 

PERGUNTAS E RESPOSTAS DA SES PARA AS GESTANTES ELABORADAS PELA SES – GRÁVIDAS E LACTANTES

Estou grávida. Como posso me proteger contra a  Covid-19?

As gestantes devem ter as mesmas precauções para evitar a infecção pela Covid-19 que as outras pessoas. Você pode se proteger:

  1. Lavando suas mãos com álcool em gel ou água e sabão.
  2. Mantendo um espaço seguro entre você e as outras pessoas.
  3. Evitando tocar seus olhos, nariz e boca.
  4. Praticando a etiqueta respiratória. Isso significa cobrir sua boca e o nariz com seu cotovelo dobrado ou com lenço quando tossir ou espirrar. Então, descartar o lenço utilizado imediatamente.
  5. Se tiver febre, tosse ou dificuldade para respirar, procure logo assistência médica. Telefone antes de ir para a unidade e siga as instruções da autoridade sanitária local.
  6. As gestantes e as puérperas - Incluindo aquelas afetadas pela Covid-19 – devem seguir com suas rotinas de acompanhamento médicos.

As gestantes devem ser testadas em relação à Covid-19?

Os protocolos de testagem e elegibilidade variam de acordo com o local em que você mora. Contudo, as recomendações da OMS são que as gestantes com sintomas da COVID-19 devem ser priorizadas para testagem. Se tiverem COVID-19, elas podem necessitar de cuidados especializados.

A Covid-19 pode ser transmitida da mulher para seu bebê ainda por nascer ou recém-nascido?

Ainda não sabemos se uma gestante com Covid-19 pode transmitir o vírus para seu feto ou bebê durante a gravidez ou o parto. Até o momento, o vírus não foi encontrado em amostras do líquido amniótico ou leite materno.

Que cuidados devem ser tomados durante a gestação e o parto?

Todas as gestantes, incluindo aquelas com confirmação ou suspeita de infecção pela COVID-19, têm o direito a cuidados de alta qualidade antes, durante e após o parto. Isso inclui cuidados pré-natal, neonatal, pós-natal e mental. Uma experiência de parto seguro e positivo inclui:

  1. Ser tratada com respeito e dignidade;
  2. Ter um(a) acompanhante de sua escolha presente durante o parto;
  3. Comunicação clara pelos funcionários da maternidade;
  4. Mobilidade no trabalho quando possível e posição para o parto de sua preferência.

Se há suspeita ou confirmação da Covid-19, os trabalhadores de saúde devem tomar precauções adequadas para reduzir os riscos de infeccionarem eles mesmos ou outros, incluindo o uso apropriado de roupas protetoras.

As gestantes com suspeita ou confirmação de infecção pela Covid-19 devem necessariamente serem submetidas ao parto cesariano?

Não. A OMS aconselha que o parto cesariano deve apenas ser utilizado quando clinicamente justificado. O modo do parto deve ser individualizado e baseado nas preferências das mulheres juntamente com as indicações obstétricas.

As mulheres infectadas pela Covid-19 podem amamentar?

Sim. As mulheres com Covid-19 podem amamentar se assim o desejem. Elas devem:

  1. Praticar a etiqueta respiratória durante a amamentação, usando máscara quando disponível;
  2. Lavar as mãos antes e após tocar o bebê;
  3. Rotineiramente limpar e desinfetar superfícies que tenham tocado.

Posso tocar e segurar meu bebê se tenho Covid-19?

Sim. O contato próximo e a amamentação precoce, exclusiva ajudam no crescimento do bebê.  Você deve ter apoio para:

  1. Amamentar com segurança, com boa etiqueta respiratória;
  2. Segurar seu bebê diretamente pele contra pele, e
  3. Compartilhar o quarto com o seu bebê.
  4. Você deve lavar as mãos antes e após tocar seu bebê e manter as superfícies limpas.

Tenho Covid-19 e me sinto muito debilitada para amamentar meu bebê diretamente. O que posso fazer?

Se você se sente muito debilitada para amamentar diretamente o seu bebê devido à COVID-19 ou outras complicações, você deve ter o apoio para fornecer leite materno ao seu bebê em um modo que seja possível, disponível e aceitável para você. Isso inclui:

  1. Extração do leite;
  2. Relactação;
  3. Doação de leite humano.