Ramis Tetu
As lógicas absurdas que regem a gestão de lixo no Brasil
A gestão do lixo urbano baseia-se em uma série de lógicas absurdas dos governos e da sociedade: sujamos e cobramos dos prefeitos cidades limpas; geramos lixo pelo capricho (dos luxos, da obsolescência e do desperdício); aceitamos como normal as lendas leigas do lixo “lixo” e do lixo não reciclável; isolamos a limpeza pública da gestão ambiental, com o velho ditado “cada macaco em seu galho”; pagamos muito caro para “alguém” transportar muito lixo e enterrar muito longe (sorte deles). Precisamos da inversão destas lógicas insanas, com uma gestão de resíduos multimodal, criativa e simples – baseada na lógica inteligente e sistêmica dos inúmeros “R”: reduzir, reciclar, reusar, reeducar e repensar, entre outros. Com suas centenas de possibilidades.
As lógicas necessárias
Precisamos de um modelo multimodal e sistêmico, onde ações de educação e mobilização social, estratégias operacionais e projetos intersetoriais diversos resultem em: redução do volume gerado, separação dos materiais na origem, destinação das coisas certas para os lugares certos; e integração da política de resíduos com diversas outras. Substituem-se – como pilares do sistema, operações caras e volumosas por cidadania e estratégia de um lado; e de outro, visão econômica e empreendedora.
É preciso praticar vários Rs
Precisamos fazer uma releitura geral: Repensar o modelo. Reeducar os gestores. Reposicionar governos e empresas. Rever valores. Resgatar os objetos e materiais. Refazer contas. Reconsiderar as velhas decisões. Rever procedimentos e conceitos. Reparar nas relações causa e efeito.
Estratégia multimodal
É preciso promover: separação, valorização e destinação nobre dos materiais; integração, empreendedorismo e inovação como princípios básicos de gestão; desburocratização e desoneração dos processos; educação e disciplina social da população. É preciso mudar, evoluir. E rápido.
Intersetorial
Lixo tem a ver com quase tudo: desenvolvimento econômico e social (em inúmeros arranjos de geração de renda e trabalho), matriz energética, saneamento e gestão ambiental (com destaque para a de águas), saúde pública, parques e jardins, agricultura urbana e segurança alimentar, comunicação.
Soluções sequenciais
Os ecopontos são decisivos no processo, devem ser baratos, numerosos e de vários portes, mesmo que simples, funcionando como as lixeiras das quadras e bairros da cidade. Tenta-se aproveitar tudo em seu maior potencial de geração de renda e trabalho, nas usinas de valoração, inclusive agregando valor a objetos e materiais pelo design, arte e marketing, algo mais rentável do que os materiais “commodities”.
Uma economia que se reinventa
A primeira fábrica de telhas feitas de embalagens tetra plak surgiu em 2011. Hoje são mais de 15 e já representam 14% da reciclagem do total produzido. Tais telhas são de menor custo e peso, mais duráveis e resistentes e não tóxicas. Uma telha consome 1.500 caixas em sua fabricação, que antes eram consideradas lixo não reciclável. As 40 milhões de carcaças de pneus que produzimos anualmente no país também eram um passivo ambiental gigantesco, mas hoje são disputadas por várias cadeias produtivas como ativos em inúmeras aplicações em diversas escalas.
Fábrica de adubo
Boa parte do lixo das cidades é orgânico: então, temos de pensar em núcleos de compostagem e fábricas de adubo orgânico – de alto valor econômico e que turbinam os cinturões verdes, as hortas e as árvores das cidades. Sem falar na compostagem doméstica, tão simples de ser feita.
Comunicar para evoluir
Precisamos fazer compostagem – com boa comunicação e marketing, nos corações e mentes das pessoas para reciclar o lixo que os habita. Educação de adultos, as crianças são mais puras. Aí fica fácil limpar os nossos territórios e cidades.
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